O potencial verde brasileiro
Em resumo, o Brasil está bem-posicionado para tomar a dianteira das iniciativas de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas no mundo
Da Redação
Publicado em 27 de setembro de 2022 às 14h55.
Última atualização em 23 de outubro de 2024 às 17h01.
Em alguns dois artigos publicados recentemente neste espaço, chamei atenção para as questões ligadas às mudanças climáticas e a necessidade de ação efetiva por parte do setor privado na construção de ações compartilhadas que colaborem na superação deste desafio global.
Em 20 de maio, discutia que a realidade dos esforços de reversão dos efeitos das mudanças climáticas “cria oportunidades econômicas, especialmente para o setor privado, que tem se mobilizado fortemente na direção de abraçar os desafios do meio ambiente, do social e da governança (ESG), ao incorporar novos conceitos, perspectivas e tecnologias na produção, administração e responsabilização do setor face aos riscos ambientais que vivemos.” ( Sustentabilidade e meio ambiente: como enfrentar o desafio do século | Exame )
No início do mês de julho, tratando especificamente da publicação do relatório de pesquisa do MERCO Responsabilidade ESG no Brasil, a partir das práticas do setor privado, argumentava que seria “possível afirmar que, no caso do setor de cosméticos, temos um exemplo concreto de como o foco do ESG é capaz de gerar valor e impacto socioambiental, proporcionando reconhecimento para as empresas e, melhor ainda, estabelecendo uma agenda pública que afasta as práticas do ESG da simples redução a uma agenda de mitigação de riscos.” ( Agenda ESG: a importância da definição de parâmetros comuns para o avanço contínuo | Exame )
Cito essas análises por duas razões. De um lado, sabemos que os anos que nos separam de 2050 serão decisivos para a humanidade e a continuidade de nossa história neste planeta.
Assim, reiterar como atores econômicos importantes vêm assumindo responsabilidades na questão climática joga luz sobre a compreensão da urgência e relevância do tema, que, infelizmente, ainda não se transformou numa agenda pública de característica popular, ou seja, que domine o imaginário de nossa população, estimulando mudanças e hábitos de produção e consumo em larga escala.
Em segundo lugar, olhando com detalhes para o relatório Brazil Climate Report 2022, publicado neste mês de setembro, durante o Brazil Climate Summit, que ocorreu entre os dias 15 e 16, temos um aprofundamento da discussão, com contorno ainda mais específico e promissor para o lugar do Brasil em contexto global.
O relatório se constitui em um chamado para ação de líderes, planejadores de políticas públicas e cidadãos, no sentido de maximizar as oportunidades econômicas intrínsecas à transição da economia mundial para o chamado padrão “Net Zero”. Trata-se de um olhar para o futuro, focado em soluções que reconhecem, priorizam e lidam com os desafios nacionais nesta área.
Como pontua o relatório, o “potencial verde” do país gera enormes perspectivas para continuarmos atraindo investimentos mundiais em áreas como as energias renováveis, biomassa e biocombustíveis, agricultura sustentável e o hidrogênio verde, que já se demonstram viáveis economicamente.
Em termos de vantagem comparativa, para usar um termo clássico, no que é relativo à energia, 85% de nossas fontes já são renováveis, um patamar que os países desenvolvidos esperam alcançar somente entre as décadas de 2030 e 2040.
Na produção de cimento, a indústria brasileira já produz cerca de 10% dos estoques com tecnologias de baixo carbono e, no caso da produção de aço, este número vai a aproximadamente 30%. Destaca-se também o caso da nossa indústria automobilística, cuja frota nacional já se constitui em 85% de veículos adaptados ao uso de biocombustível.
Esta realidade pode colocar o Brasil em uma situação privilegiada como exportador de tecnologias de descabornização no mundo, nas áreas de energia limpa, agricultura sustentável e de produtos verdes, que se beneficiam de nossos recursos naturais e da biodiversidade.
Assim, na visão do relatório, o Brasil pode dar uma contribuição expressiva para a descarbonização da economia mundial, pois espera-se que, nos próximos anos 35% da redução da emissão de gases de efeito estufa venha de soluções naturais de produção, que incluem entre outras, a conservação, restauração e o uso sustentável das florestas e da agricultura.
Além disso, o país tende a ocupar lugar destacado no mercado de créditos de carbono, cuja meta mundial é alcançar valores da ordem de US$ 1 trilhão até 2028. A pressão de investidores, a melhor organização deste mercado, as mudanças regulatórias e de hábitos dos consumidores e os novos padrões de qualidade dos créditos irão pressionar a demanda, e, novamente, gerar oportunidade econômica clara para o nosso país.
Em resumo, o Brasil está bem-posicionado para tomar a dianteira das iniciativas de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas no mundo, pois já dispomos de soluções climáticas concretas e em escala e, com isto, poderemos atrair entre US$ 2 e 3 bilhões de investimentos até 2050.
Por último, mas não menos importante, a concretização dessas perspectivas positivas passa pelo compromisso público de governo locais, em todos os níveis federativos, com a redução do desmatamento e o aumento dos recursos para ações ambientais. Esta sinalização governamental funciona internacionalmente como uma evidência clara de que nosso compromisso com o Clima é concreto e posicionará o país, como nos mostra o relatório, na fronteira dos esforços mundiais.
*Regina Esteves é diretora-presidente da ComunitasBR
Em alguns dois artigos publicados recentemente neste espaço, chamei atenção para as questões ligadas às mudanças climáticas e a necessidade de ação efetiva por parte do setor privado na construção de ações compartilhadas que colaborem na superação deste desafio global.
Em 20 de maio, discutia que a realidade dos esforços de reversão dos efeitos das mudanças climáticas “cria oportunidades econômicas, especialmente para o setor privado, que tem se mobilizado fortemente na direção de abraçar os desafios do meio ambiente, do social e da governança (ESG), ao incorporar novos conceitos, perspectivas e tecnologias na produção, administração e responsabilização do setor face aos riscos ambientais que vivemos.” ( Sustentabilidade e meio ambiente: como enfrentar o desafio do século | Exame )
No início do mês de julho, tratando especificamente da publicação do relatório de pesquisa do MERCO Responsabilidade ESG no Brasil, a partir das práticas do setor privado, argumentava que seria “possível afirmar que, no caso do setor de cosméticos, temos um exemplo concreto de como o foco do ESG é capaz de gerar valor e impacto socioambiental, proporcionando reconhecimento para as empresas e, melhor ainda, estabelecendo uma agenda pública que afasta as práticas do ESG da simples redução a uma agenda de mitigação de riscos.” ( Agenda ESG: a importância da definição de parâmetros comuns para o avanço contínuo | Exame )
Cito essas análises por duas razões. De um lado, sabemos que os anos que nos separam de 2050 serão decisivos para a humanidade e a continuidade de nossa história neste planeta.
Assim, reiterar como atores econômicos importantes vêm assumindo responsabilidades na questão climática joga luz sobre a compreensão da urgência e relevância do tema, que, infelizmente, ainda não se transformou numa agenda pública de característica popular, ou seja, que domine o imaginário de nossa população, estimulando mudanças e hábitos de produção e consumo em larga escala.
Em segundo lugar, olhando com detalhes para o relatório Brazil Climate Report 2022, publicado neste mês de setembro, durante o Brazil Climate Summit, que ocorreu entre os dias 15 e 16, temos um aprofundamento da discussão, com contorno ainda mais específico e promissor para o lugar do Brasil em contexto global.
O relatório se constitui em um chamado para ação de líderes, planejadores de políticas públicas e cidadãos, no sentido de maximizar as oportunidades econômicas intrínsecas à transição da economia mundial para o chamado padrão “Net Zero”. Trata-se de um olhar para o futuro, focado em soluções que reconhecem, priorizam e lidam com os desafios nacionais nesta área.
Como pontua o relatório, o “potencial verde” do país gera enormes perspectivas para continuarmos atraindo investimentos mundiais em áreas como as energias renováveis, biomassa e biocombustíveis, agricultura sustentável e o hidrogênio verde, que já se demonstram viáveis economicamente.
Em termos de vantagem comparativa, para usar um termo clássico, no que é relativo à energia, 85% de nossas fontes já são renováveis, um patamar que os países desenvolvidos esperam alcançar somente entre as décadas de 2030 e 2040.
Na produção de cimento, a indústria brasileira já produz cerca de 10% dos estoques com tecnologias de baixo carbono e, no caso da produção de aço, este número vai a aproximadamente 30%. Destaca-se também o caso da nossa indústria automobilística, cuja frota nacional já se constitui em 85% de veículos adaptados ao uso de biocombustível.
Esta realidade pode colocar o Brasil em uma situação privilegiada como exportador de tecnologias de descabornização no mundo, nas áreas de energia limpa, agricultura sustentável e de produtos verdes, que se beneficiam de nossos recursos naturais e da biodiversidade.
Assim, na visão do relatório, o Brasil pode dar uma contribuição expressiva para a descarbonização da economia mundial, pois espera-se que, nos próximos anos 35% da redução da emissão de gases de efeito estufa venha de soluções naturais de produção, que incluem entre outras, a conservação, restauração e o uso sustentável das florestas e da agricultura.
Além disso, o país tende a ocupar lugar destacado no mercado de créditos de carbono, cuja meta mundial é alcançar valores da ordem de US$ 1 trilhão até 2028. A pressão de investidores, a melhor organização deste mercado, as mudanças regulatórias e de hábitos dos consumidores e os novos padrões de qualidade dos créditos irão pressionar a demanda, e, novamente, gerar oportunidade econômica clara para o nosso país.
Em resumo, o Brasil está bem-posicionado para tomar a dianteira das iniciativas de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas no mundo, pois já dispomos de soluções climáticas concretas e em escala e, com isto, poderemos atrair entre US$ 2 e 3 bilhões de investimentos até 2050.
Por último, mas não menos importante, a concretização dessas perspectivas positivas passa pelo compromisso público de governo locais, em todos os níveis federativos, com a redução do desmatamento e o aumento dos recursos para ações ambientais. Esta sinalização governamental funciona internacionalmente como uma evidência clara de que nosso compromisso com o Clima é concreto e posicionará o país, como nos mostra o relatório, na fronteira dos esforços mundiais.
*Regina Esteves é diretora-presidente da ComunitasBR