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Bolsas e IPOs não escaparão da Transformação Digital

"As bolsas e os processos de IPOs estavam, até agora, andando meio de lado em sua digitalização e Robinhood resolveu chutar o balde"

Tela de negociação da corretora Robinhood (Bloomberg/Bloomberg)
Tela de negociação da corretora Robinhood (Bloomberg/Bloomberg)
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Pyr Marcondes

Publicado em 1 de abril de 2021 às, 15h11.

Robinhood, a plataforma de stock trading da Califórnia que se notabilizou por seu mobile app, otimizando o mundo financeiro com a agilidade digital móvel, está agora construindo uma plataforma para democratizar (tecnologicamente) os IPOs. A plataforma digital permitirá que qualquer investidor compre ações de empresas em processo de IPO. Ou seja, aquilo que era até agora informação apenas disponível para poucos privilegiados e bem posicionados investidores institucionais privados de peso, além de grandes bancos e empresas de trading de Wall Street, será democratizado. É Robinhood tirando dos ricos para dar aos, bem, “pobres”.

Os simples mortais dificilmente têm acesso aos preços das ações nos IPOs antes do primeiro dia das negociações dessas ações, publicamente, em bolsa. Os privilegiados recebem antes informações igualmente privilegiadas sobre valores e tendências desses valores, para fazerem suas apostas.

Ora, como costuma ser habitual em muitos casos, quando os investidores não privilegiados conhecem os preços das ações no IPO e, só então, começam a entrar no jogo, já estão em desvantagens diante de quem comprou essas ações previamente.

A ideia da Robinhood, uma dessas empresas privilegiadas, é que ela seja a intermediária na compra de ações de IPOs por aplicadores normais, passando a eles informações antes fechadas. Ganha Robinhood, porque vai cobrar, evidentemente, sua taxa para isso, ganha a massa de investidores menores, ganha a empresa em IPO e ganha a democratização do mercado.

Tudo isso é a digitalização dos processos no mercado financeiro, um dos mercados mais avançados tecnologicamente do mundo. Mas as bolsas e os processos de IPOs estavam, até agora, andando meio de lado em sua digitalização e Robinhood resolveu chutar o balde.

Esse processo, que podemos claramente chamar de aprofundamento da dinâmica de Transformação Digital desse setor, teve um capítulo à parte com o ocorrido meses atrás, quando comunidades de investidores online, aglutinados em plataformas abertas como o fórum r/ WallStreetBets, do Reddit, além de usuários de aplicativos populares de corretagem online, incluindo o próprio Robinhood, ajudaram a alimentar a ascensão meteórica de um punhado de ações anteriormente impopulares, como GameStop, AMC Entertainment e Blackberry. 

Quando essas comunidades online se aglutinam e quando tudo pode ser feito via mobile, estamos assistindo a uma transformação relevante. Não é mais necessário passar pelo tedioso processo habitual de compra e venda de ações. Do seu celular, compradores normais e todos nós, podemos ter acesso, de onde estivermos, ao processo de compra e venda de ações em Bolsa. É possível, nos apps como da Robinhood, adicionar recursos que podem tornar a experiência muito mais agradável. As notificações são via online push (dividendos, lembretes de alta baixa, etc.) 

Substituir tecnologias antigas por novas sempre será mais eficiente e, neste caso, comprar ações com apenas 3 toques de nossos dedos em minutos é surpreendentemente perturbador para todas as corretoras online. E para todo esse mercado de Bolsas, investimentos e IPOs.

As Bolsas de Valores são hoje operadas já através de várias camadas de aplicativos e tecnologias digitais. Zilhões de dólares trafegam pelo sistema e ele opera remotamente com alta eficiência. Mas as Bolsas ainda seguem a mesma lógica dos pregões de séculos. 

Quando ocorre o que ocorreu com o caso das ações das empresas via comunidades digitais e, agora, no caso de Robinhood, com sua versão 2.0 do ritual de IPOs, o que estamos vendo é o hacking digital dos processos financeiros em si das Bolsas. Não é apenas uma melhoria tecnológica, é a disrupção digital estrutural em ação. No mercado de ações, se me permitem o pleonasmo.

Blockchain é um desses bichos disruptivos que introduziu práticas e dinâmicas que quebraram toda a lógica do mercado financeiro no seu coração. De novo, tecnologia disrompendo a cadeia.

Em breve, veremos que mesmo os processos de gestão de ativos em Bolsa deverão passar por transformações estruturais, uma vez mais anabolizadas pela tecnologia e suas transformações. Blockchain poderá ter um papel a jogar aí.

Nada e absolutamente nada, até a padaria da esquina, deixarão de ser tocados e transformados pela Transformação Digital.

Sei que muitos leitores acham que essa expressão se popularizou demais e que ela, por isso, perdeu seu significado e relevância. Bobagem. A Transformação Digital está apenas começando e há ainda muita coisa a ser, de fato, tocada por ela. A padaria da esquina e as bolsas com seus IPOs são apenas algumas delas.