Estados Unidos – uma nação governada pelos piores
Nação americana é governada pelos piores políticos
Da Redação
Publicado em 26 de fevereiro de 2018 às 09h29.
Última atualização em 26 de fevereiro de 2018 às 16h26.
Até mesmo aqueles que há tempos aceitaram a premissa de que Donald Trump é corrupto, egocêntrico e desonesto parecem um pouco chocados com as críticas dele no fim de semana do feriado do Dia do Presidente. Usar o massacre de Parkland (escola da Flórida) como desculpa para atacar o FBI por investigar a intervenção russa a favor dele na eleição – ao mesmo tempo em que mentia sobre suas próprias negações anteriores de que sequer tenha ocorrido tal interferência – levou a vileza a novos níveis, o que é verdadeiramente impressionante dado o histórico do Sr. Trump.
No entanto, se você der um passo para trás e pensar a respeito, os últimos surtos do Sr. Trump foram bastante condizentes com o caráter dele, e eu não falo só no caráter pessoal dele. Quando foi a última vez que vocês viram um integrante do governo Trump, ou mesmo algum republicano de destaque, admitir um erro ou assumir responsabilidade por qualquer problema?
Não digam que foi sempre assim, que é como as pessoas são. Pelo contrário, assumir a responsabilidade pelas suas ações – o que meus pais chamavam de “ser um homem” – costumava ser encarado como uma virtude essencial dos políticos, e dos adultos em geral. E nisso, assim como em muitas outras coisas, existe uma grande assimetria entre os partidos. Sem dúvida nem todos os democratas são honestos e íntegros; porém, até onde eu consigo ver, não sobrou quase ninguém no Partido Republicano disposto a assumir a responsabilidade por, bom, qualquer coisa.
E eu não creio que isso seja um acidente. A triste substância do caráter republicano moderno é um sintoma da corrupção e da hipocrisia que têm contaminado metade do nosso corpo político, uma doença da alma que se manifesta tanto no comportamento pessoal quanto nas políticas.
Antes de eu falar sobre essa doença, considerem alguns poucos exemplos não-Trump da falta de caráter que permeia este governo.
Em um lado trivial mas ainda notável da balança, nós temos a história de Scott Pruitt, diretor da Agência de Proteção Ambiental, que continua a voar de primeira classe com o dinheiro do contribuinte. O dinheiro não é a questão aqui, ainda que os gastos dele violem as normas federais. A parte reveladora, contudo, é a suposta razão disso: Vejam vocês, é sabido que ocupantes de assentos comuns têm pessoalmente feito críticas a ele.
Lembrem dessa história da próxima vez em que alguém vier falar em liberais “que ficam de mimimi”.
Sendo mais sério, considerem o comportamento de John Kelly, o chefe de pessoal do Sr. Trump, cujo histórico de críticas difamatórias e de se recusar a admitir erros começa a rivalizar com o de seu chefe. Lembram de quando o Sr. Kelly fez acusações falsas contra a integrante do Congresso Frederica Wilson, e depois se recusou a retratar aquelas acusações mesmo depois de imagens mostrarem que elas eram falsas?
Mais recentemente, o Sr. Kelly insistiu que não sabia de todos os detalhes das acusações de violência doméstica contra Rob Porter até, segundo um integrante do pessoal da Casa Branca, “40 minutos antes dele jogá-lo para fora”, uma afirmação que parece entrar em conflito com tudo que nós sabemos sobre essa história. Ainda que essa afirmação fosse verdade, um pedido de desculpas por estar tão alheio parece de bom tom. Mas estes caras não se desculpam.
Ah sim, por falar nisso: Roy Moore (candidato derrotado na disputa pelo Senado do Alabama) ainda não reconheceu a derrota.
Portanto, não é só o Sr. Trump. E não começou com o Sr. Trump. De fato, lá atrás, em 2006, eu escrevi sobre um “vão de homens” no governo Bush, sobre a falta de vontade de autoridades do alto escalão de assumir responsabilidade pela ocupação malfeita do Iraque, pela resposta estabanada ao furacão Katrina e mais.
Por sinal, tampouco nós estamos falando apenas de políticos. Aqui no meu canto, eu continuo impressionado pela indisposição de economistas com inclinações de direita a admitir que eles estavam errados ao prever que os esforços do Fed para resgatar a economia causariam uma inflação fora de controle. Estar errado é uma coisa; acontece com qualquer um, eu mesmo bastante incluso aí. Se recusar a admitir e aprender com um erro é outra coisa.
E vamos ser claros: A responsabilidade pessoal não está morta em outros lugares. Você poderia questionar, por exemplo, se Hillary Clinton se desculpou o suficiente por seu apoio inicial à guerra do Iraque ou pelos deslizes dela em 2016 – mas ela admitiu que cometeu erros, coisa que ninguém do outro lado jamais parece fazer.
Então, o que aconteceu ao caráter do Partido Republicano? Tenho certeza de que neste caso o pessoal é, no fim das contas, político. O Partido Republicano moderno é, em um ponto nunca visto antes na história americana, uma organização construída em torno de má-fé, em torno de fingir que suas preocupações e objetivos são muito diferentes do que realmente são. Afirmações ufanistas de patriotismo, invocações piedosas de moralidade, alertas severos sobre probidade fiscal são todas histórias de fachada para encobrir uma pauta subjacente preocupada fundamentalmente em tornar os plutocratas ainda mais ricos.
E as falhas de caráter do partido acabam ecoadas pelas falhas de caráter de seus integrantes mais proeminentes.
Eles são pessoas ruins que escolhem sua afiliação política porque ela se enquadra às inclinações deles, ou pessoas potencialmente boas, corrompidas pelas companhias com quem andam? Provavelmente um pouco de cada.
De todo modo, sejamos honestos: A América em 2018 não é um lugar em que nós possamos discordar sem ser desagradáveis, em que há pessoas e ideias boas dos dois lados, ou qualquer outro sermão bipartidário que você queira recitar. Nós estamos vivendo, em vez disso, em uma caquistocracia, uma nação governada pelos piores, e nós precisamos encarar essa realidade incômoda.
Até mesmo aqueles que há tempos aceitaram a premissa de que Donald Trump é corrupto, egocêntrico e desonesto parecem um pouco chocados com as críticas dele no fim de semana do feriado do Dia do Presidente. Usar o massacre de Parkland (escola da Flórida) como desculpa para atacar o FBI por investigar a intervenção russa a favor dele na eleição – ao mesmo tempo em que mentia sobre suas próprias negações anteriores de que sequer tenha ocorrido tal interferência – levou a vileza a novos níveis, o que é verdadeiramente impressionante dado o histórico do Sr. Trump.
No entanto, se você der um passo para trás e pensar a respeito, os últimos surtos do Sr. Trump foram bastante condizentes com o caráter dele, e eu não falo só no caráter pessoal dele. Quando foi a última vez que vocês viram um integrante do governo Trump, ou mesmo algum republicano de destaque, admitir um erro ou assumir responsabilidade por qualquer problema?
Não digam que foi sempre assim, que é como as pessoas são. Pelo contrário, assumir a responsabilidade pelas suas ações – o que meus pais chamavam de “ser um homem” – costumava ser encarado como uma virtude essencial dos políticos, e dos adultos em geral. E nisso, assim como em muitas outras coisas, existe uma grande assimetria entre os partidos. Sem dúvida nem todos os democratas são honestos e íntegros; porém, até onde eu consigo ver, não sobrou quase ninguém no Partido Republicano disposto a assumir a responsabilidade por, bom, qualquer coisa.
E eu não creio que isso seja um acidente. A triste substância do caráter republicano moderno é um sintoma da corrupção e da hipocrisia que têm contaminado metade do nosso corpo político, uma doença da alma que se manifesta tanto no comportamento pessoal quanto nas políticas.
Antes de eu falar sobre essa doença, considerem alguns poucos exemplos não-Trump da falta de caráter que permeia este governo.
Em um lado trivial mas ainda notável da balança, nós temos a história de Scott Pruitt, diretor da Agência de Proteção Ambiental, que continua a voar de primeira classe com o dinheiro do contribuinte. O dinheiro não é a questão aqui, ainda que os gastos dele violem as normas federais. A parte reveladora, contudo, é a suposta razão disso: Vejam vocês, é sabido que ocupantes de assentos comuns têm pessoalmente feito críticas a ele.
Lembrem dessa história da próxima vez em que alguém vier falar em liberais “que ficam de mimimi”.
Sendo mais sério, considerem o comportamento de John Kelly, o chefe de pessoal do Sr. Trump, cujo histórico de críticas difamatórias e de se recusar a admitir erros começa a rivalizar com o de seu chefe. Lembram de quando o Sr. Kelly fez acusações falsas contra a integrante do Congresso Frederica Wilson, e depois se recusou a retratar aquelas acusações mesmo depois de imagens mostrarem que elas eram falsas?
Mais recentemente, o Sr. Kelly insistiu que não sabia de todos os detalhes das acusações de violência doméstica contra Rob Porter até, segundo um integrante do pessoal da Casa Branca, “40 minutos antes dele jogá-lo para fora”, uma afirmação que parece entrar em conflito com tudo que nós sabemos sobre essa história. Ainda que essa afirmação fosse verdade, um pedido de desculpas por estar tão alheio parece de bom tom. Mas estes caras não se desculpam.
Ah sim, por falar nisso: Roy Moore (candidato derrotado na disputa pelo Senado do Alabama) ainda não reconheceu a derrota.
Portanto, não é só o Sr. Trump. E não começou com o Sr. Trump. De fato, lá atrás, em 2006, eu escrevi sobre um “vão de homens” no governo Bush, sobre a falta de vontade de autoridades do alto escalão de assumir responsabilidade pela ocupação malfeita do Iraque, pela resposta estabanada ao furacão Katrina e mais.
Por sinal, tampouco nós estamos falando apenas de políticos. Aqui no meu canto, eu continuo impressionado pela indisposição de economistas com inclinações de direita a admitir que eles estavam errados ao prever que os esforços do Fed para resgatar a economia causariam uma inflação fora de controle. Estar errado é uma coisa; acontece com qualquer um, eu mesmo bastante incluso aí. Se recusar a admitir e aprender com um erro é outra coisa.
E vamos ser claros: A responsabilidade pessoal não está morta em outros lugares. Você poderia questionar, por exemplo, se Hillary Clinton se desculpou o suficiente por seu apoio inicial à guerra do Iraque ou pelos deslizes dela em 2016 – mas ela admitiu que cometeu erros, coisa que ninguém do outro lado jamais parece fazer.
Então, o que aconteceu ao caráter do Partido Republicano? Tenho certeza de que neste caso o pessoal é, no fim das contas, político. O Partido Republicano moderno é, em um ponto nunca visto antes na história americana, uma organização construída em torno de má-fé, em torno de fingir que suas preocupações e objetivos são muito diferentes do que realmente são. Afirmações ufanistas de patriotismo, invocações piedosas de moralidade, alertas severos sobre probidade fiscal são todas histórias de fachada para encobrir uma pauta subjacente preocupada fundamentalmente em tornar os plutocratas ainda mais ricos.
E as falhas de caráter do partido acabam ecoadas pelas falhas de caráter de seus integrantes mais proeminentes.
Eles são pessoas ruins que escolhem sua afiliação política porque ela se enquadra às inclinações deles, ou pessoas potencialmente boas, corrompidas pelas companhias com quem andam? Provavelmente um pouco de cada.
De todo modo, sejamos honestos: A América em 2018 não é um lugar em que nós possamos discordar sem ser desagradáveis, em que há pessoas e ideias boas dos dois lados, ou qualquer outro sermão bipartidário que você queira recitar. Nós estamos vivendo, em vez disso, em uma caquistocracia, uma nação governada pelos piores, e nós precisamos encarar essa realidade incômoda.