Uma mítica era de ouro conservadora
Estou com algumas ideias a respeito do artigo recente de Bret Stephen no New York Times que fala do declínio intelectual do conservadorismo (leia-o aqui). Como você pode imaginar, eu concordo completamente com a leitura dele sobre a degeneração moderna do movimento. Contudo, o Sr. Stephen também menciona uma era dourada de ideias profundas, e […]
Publicado em 20 de julho de 2017 às, 16h36.
Estou com algumas ideias a respeito do artigo recente de Bret Stephen no New York Times que fala do declínio intelectual do conservadorismo (leia-o aqui). Como você pode imaginar, eu concordo completamente com a leitura dele sobre a degeneração moderna do movimento. Contudo, o Sr. Stephen também menciona uma era dourada de ideias profundas, e minha pergunta é: Quando foi essa época, exatamente?
William F. Buckley é um ícone problemático. Certamente todo mundo precisa mencionar a animada defesa que ele fez da supremacia branca no Sul, além do estranho fascínio da National Review (revista fundada por Buckley) com o generalíssimo Francisco Franco. Eu também destacaria que, ainda que o livro do Sr. Buckley “God and Man at Yale” (“Deus e Homem em Yale”, em tradução livre do inglês) castigasse minha alma mater por ela desqualificar a religião, ele parecia igualmente desanimado pelo fato de que Yale estava ensinando economia keynesiana – você sabe, a coisa que tem sido tão completamente comprovada nestes últimos anos.
Mas deixemos isso de lado. Quando os conservadores tiveram boas ideias, e quando elas cessaram? Vamos falar sobre quatro áreas que eu conheço muito bem: macroeconomia, o meio ambiente, saúde e desigualdade.
Na macroeconomia, não há dúvida de que os economistas Milton Friedman e, no início, Robert Lucas prestaram um serviço útil ao contestar a defesa do ativismo político, em particular do ativismo fiscal. Por volta de 1976, o histórico da macroeconomia de Chicago era de fato impressionante.
E então tudo veio abaixo. Os modelos inspirados em Lucas fracassaram no teste dos eventos da década de 80, enquanto o keynesianismo atualizado se manteve. Em vez de admitir que eles tinham exagerado, entretanto, os macroeconomistas conservadores simplesmente enterraram a cabeça mais fundo na areia – efetivamente dando as costas para o monetarismo à Friedman, assim como ao keynesianismo.
A expansão monetária vigorosa para combater uma depressão profunda, originalmente uma ideia conservadora, se tornou uma maldição aos olhos da direita, até mesmo quando começou a ser aproveitada pela esquerda. O que fora em algum momento uma boa ideia conservadora foi incorporada pelos liberais e rejeitada pela direita.
No meio ambiente, uma virada semelhante aconteceu um pouco depois. O uso dos incentivos de mercado e de preços para combater a poluição nos Estados Unidos foi, inicialmente, uma ideia conservadora condenada por parte da esquerda. Mas os liberais eventualmente a acolheram – enquanto o sistema de limitação e comércio de emissões se tornou um palavrão na direita. Slogans rústicos e a submissão a interesses corporativos atropelaram a análise.
Na saúde, o Obamacare – que se ancorava em mandatos, regulamentação e subsídios em lugar de um sistema de pagador único – foi, sabidamente, uma ideia conservadora desenvolvida pela Heritage Foundation. Mas os liberais, assim como fizeram com o sistema de limitação e venda de emissões, a abraçaram – e um tanto depressa, na verdade -, enquanto os conservadores passaram a denunciar a própria boa ideia de seus pares como o diabo encarnado.
Finalmente, na questão da desigualdade, os intelectuais conservadores foram terríveis desde o começo. Eu escrevi um longo artigo em 1992 para o The American Prospect detalhando os esquives e distorções deles, muitos das quais permanecem os mesmos até hoje (leia o artigo aqui). Não era somente o fato de que eles estavam errados. Como eu escrevi naquela ocasião, “a combinação de hipocrisia e pura incompetência exibida pelo The Wall Street Journal, o Departamento do Tesouro dos EUA e uma variedade de supostos especialistas econômicos demonstra algo mais: a dimensão do declínio moral e intelectual do conservadorismo americano.”
Lembre-se, isso foi há um quarto de século.
Portanto, quando teve lugar a era dourada dos intelectuais conservadores? Na verdade, nunca houve uma. Certamente, a suposta era na qual somente os conservadores tinham todas as ideias interessantes enquanto os liberais requentavam dogmas surrados nunca aconteceu em nenhum campo dos que eu conheço bem.
Dito isso, houve um período em que os conservadores contribuíram com algumas ideias úteis ao debate público. Mas essa era acabou muito, muito tempo atrás.