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Um ponto de virada desastroso para os EUA

A combinação de custos altos e resultados fracos nos EUA só começou a aparecer por volta de 1980, o que representa um mistério. O que mudou?

RONALD REAGAN: para Krugman, 1980 foi um ponto de inflexão para os EUA e não deve ser acidente o fato de esse momento coincidir com a eleição do presidente Ronald Reagan / Bettmann/Getty Images (Bettmann/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 28 de maio de 2018 às 16h39.

Última atualização em 28 de maio de 2018 às 17h00.

Austin Frakt, economista da área da saúde e professor associado na Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston, escreveu recentemente um artigo muito interessante para o The New York Times sobre os gastos com saúde e a saúde nos Estados Unidos, de uma perspectiva global (leiam o artigo aqui: nyti.ms/2KVktmd ).

Todo mundo sabe que o gasto está, mais ou menos literalmente, acima do esperado nos Estados Unidos comparado a outros países, e muitos estão cientes de que nós também demos uma guinada na direção contrária em critérios como expectativa de vida: nós estamos ficando cada vez mais atrás do resto do mundo desenvolvido.

O Sr. Frakt aponta que nem sempre foi assim. A combinação desastrosa de custos altos e resultados fracos nos Estados Unidos só começou a aparecer por volta de 1980, o que representa um mistério. O que mudou? Em um post adicional em seu blog, o Sr. Frakt sugere que o excepcionalismo dos EUA talvez esteja relacionado à desigualdade de renda. Além disso, é verdade que a desigualdade de renda deu início a sua longa ascensão em meados de 1980, mais ou menos no mesmo período em que a saúde pública aparentemente saiu dos trilhos nos Estados Unidos.

Mas isso não tem a ver só com a desigualdade de renda. Muitas coisas chegaram a um ponto de virada em meados de 1980. Por exemplo, a convergência regional, na qual estados pobres diminuíram a distância dos estados ricos, também cessou gravemente, ou até mesmo recuou, quase na mesma época. Enquanto isso, por volta de 1980, a alavancagem financeira começou sua grande escalada, com o endividamento das famílias relativo à renda disparando (e preparando o terreno para a crise financeira de 2008).

Portanto, 1980 foi um ponto de inflexão para um bocado de coisas nos Estados Unidos. Isso não pode ser um acidente. E quase certamente não é um acidente que este momento de virada coincida com a eleição do presidente Ronald Reagan.

Um bom palpite, sem dúvida, é que todo o fenômeno estaria ligado à ascensão do movimento conservador contemporâneo, que trouxe com ele políticas econômicas desequilibrantes, um recolhimento de ações antitruste, desregulamentação financeira e mais.

Além do mais, sem dúvida a maioria das pessoas concordaria que os custos médicos crescentes, a desigualdade em ascensão, crises financeiras e declínios regionais são coisas ruins, de modo que vocês podem imaginar que tudo isso sugeriria, para todo mundo, que alguma coisa talvez estivesse errada com a nova ideologia dominante.

Mas aí é que está: os conservadores não veem a coisa desta maneira. Não apenas eles continuam a enxergar o Sr. Reagan como o salvador da América, mas eles também não mudaram de ideia, ou mesmo apareceram com qualquer ideia significativamente nova, nos últimos 35 anos.

Seria bom que os comentaristas que acusam os democratas de não terem ideias novas soubessem um pouco mais a respeito desta história.

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Austin Frakt, economista da área da saúde e professor associado na Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston, escreveu recentemente um artigo muito interessante para o The New York Times sobre os gastos com saúde e a saúde nos Estados Unidos, de uma perspectiva global (leiam o artigo aqui: nyti.ms/2KVktmd ).

Todo mundo sabe que o gasto está, mais ou menos literalmente, acima do esperado nos Estados Unidos comparado a outros países, e muitos estão cientes de que nós também demos uma guinada na direção contrária em critérios como expectativa de vida: nós estamos ficando cada vez mais atrás do resto do mundo desenvolvido.

O Sr. Frakt aponta que nem sempre foi assim. A combinação desastrosa de custos altos e resultados fracos nos Estados Unidos só começou a aparecer por volta de 1980, o que representa um mistério. O que mudou? Em um post adicional em seu blog, o Sr. Frakt sugere que o excepcionalismo dos EUA talvez esteja relacionado à desigualdade de renda. Além disso, é verdade que a desigualdade de renda deu início a sua longa ascensão em meados de 1980, mais ou menos no mesmo período em que a saúde pública aparentemente saiu dos trilhos nos Estados Unidos.

Mas isso não tem a ver só com a desigualdade de renda. Muitas coisas chegaram a um ponto de virada em meados de 1980. Por exemplo, a convergência regional, na qual estados pobres diminuíram a distância dos estados ricos, também cessou gravemente, ou até mesmo recuou, quase na mesma época. Enquanto isso, por volta de 1980, a alavancagem financeira começou sua grande escalada, com o endividamento das famílias relativo à renda disparando (e preparando o terreno para a crise financeira de 2008).

Portanto, 1980 foi um ponto de inflexão para um bocado de coisas nos Estados Unidos. Isso não pode ser um acidente. E quase certamente não é um acidente que este momento de virada coincida com a eleição do presidente Ronald Reagan.

Um bom palpite, sem dúvida, é que todo o fenômeno estaria ligado à ascensão do movimento conservador contemporâneo, que trouxe com ele políticas econômicas desequilibrantes, um recolhimento de ações antitruste, desregulamentação financeira e mais.

Além do mais, sem dúvida a maioria das pessoas concordaria que os custos médicos crescentes, a desigualdade em ascensão, crises financeiras e declínios regionais são coisas ruins, de modo que vocês podem imaginar que tudo isso sugeriria, para todo mundo, que alguma coisa talvez estivesse errada com a nova ideologia dominante.

Mas aí é que está: os conservadores não veem a coisa desta maneira. Não apenas eles continuam a enxergar o Sr. Reagan como o salvador da América, mas eles também não mudaram de ideia, ou mesmo apareceram com qualquer ideia significativamente nova, nos últimos 35 anos.

Seria bom que os comentaristas que acusam os democratas de não terem ideias novas soubessem um pouco mais a respeito desta história.

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