Trump trai seus apoiadores mais uma vez
A indicação de um juiz antitrabalhista para a Suprema Corte americana contradiz o discurso populista do presidente americano
Da Redação
Publicado em 8 de agosto de 2018 às 15h17.
A essa altura, é quase lugar-comum dizer que o presidente Trump tem traído sistematicamente os eleitores brancos e da classe trabalhadora que o colocaram no topo. Ele concorreu como um populista; ele tem governado como um republicano ortodoxo, sendo que a única diferença é o modo como ele substituiu insinuações raciais por racismo em estado bruto e aberto.
Muitas pessoas têm usado este argumento com relação ao corte de impostos de Trump, que é tão inútil para os trabalhadores comuns que os candidatos republicanos estão tentando evitar até mesmo falar sobre ele. Pode-se dizer o mesmo da cobertura de saúde, em que os democratas estão transformando o ataque do Sr. Trump à Lei da Saúde Acessível em um grande problema, enquanto os republicanos tentam mudar de assunto.
Contudo, creio que nós deveríamos dar mais atenção à maneira como a indicação de Brett Kavanaugh para a Suprema Corte, feita pelo Sr. Trump, se encaixa neste cenário. O Times publicou um bom editorial recentemente sobre a agenda antitrabalhista do Sr. Kavanaugh, mas as análises de mídia que eu tenho visto em geral focam nas visões aparentemente generosas dele sobre autoridade presidencial e privilégio.
Concordo que esses temas são importantes diante de um presidente fora da lei com instintos autoritários. Mas os temas ligados a negócio e trabalho não deveriam ser negligenciados. O Sr. Kavanaugh é, falando de modo franco, um radical antitrabalhista, contrário a qualquer esforço para proteger contra fraudes e maus tratos as famílias que trabalham.
O exemplo mais espetacular é a opinião dele de que o Sea World não teve responsabilidade após o ataque de uma baleia assassina matar um de seus empregados, porque ele deveria saber dos riscos. Ele já declarou que o Escritório de Proteção Financeira do Consumidor, que ajuda a controlar o tipo de fraude financeira contra as famílias trabalhadoras que desempenhou um papel grande na crise de 2008, era inconstitucional.
Ele adotou uma visão extremamente compreensiva sobre os direitos das empresas de inibir a organização de sindicatos.
Isto tudo, por sinal, é o contrário de populismo. O público apoia intensamente as proteções trabalhistas. A campanha em andamento para tirá-los é uma ação de elites conservadoras, pessoas que fizeram suas carreiras servindo os interesses de empresas, e está em curso efetivamente às escondidas, debaixo dos narizes dos eleitores que pensavam que o Sr. Trump estava do lado deles.
E esta traição importa muito mais para os trabalhadores, digamos, do que a fanfarronice comercial do Sr. Trump. Há sinais crescentes de que a estagnação salarial na América, a mesma estagnação que irrita os eleitores do Sr. Trump, não é movida por forças impessoais como a mudança tecnológica; até certo ponto importante, ela é o resultado de mudanças políticas que vêm enfraquecendo o poder de barganha dos trabalhadores. Se o Sr. Trump conseguir colocar o Sr. Kavanaugh, ele vai ajudar a oficializar essas políticas antitrabalhistas durante décadas.
A essa altura, é quase lugar-comum dizer que o presidente Trump tem traído sistematicamente os eleitores brancos e da classe trabalhadora que o colocaram no topo. Ele concorreu como um populista; ele tem governado como um republicano ortodoxo, sendo que a única diferença é o modo como ele substituiu insinuações raciais por racismo em estado bruto e aberto.
Muitas pessoas têm usado este argumento com relação ao corte de impostos de Trump, que é tão inútil para os trabalhadores comuns que os candidatos republicanos estão tentando evitar até mesmo falar sobre ele. Pode-se dizer o mesmo da cobertura de saúde, em que os democratas estão transformando o ataque do Sr. Trump à Lei da Saúde Acessível em um grande problema, enquanto os republicanos tentam mudar de assunto.
Contudo, creio que nós deveríamos dar mais atenção à maneira como a indicação de Brett Kavanaugh para a Suprema Corte, feita pelo Sr. Trump, se encaixa neste cenário. O Times publicou um bom editorial recentemente sobre a agenda antitrabalhista do Sr. Kavanaugh, mas as análises de mídia que eu tenho visto em geral focam nas visões aparentemente generosas dele sobre autoridade presidencial e privilégio.
Concordo que esses temas são importantes diante de um presidente fora da lei com instintos autoritários. Mas os temas ligados a negócio e trabalho não deveriam ser negligenciados. O Sr. Kavanaugh é, falando de modo franco, um radical antitrabalhista, contrário a qualquer esforço para proteger contra fraudes e maus tratos as famílias que trabalham.
O exemplo mais espetacular é a opinião dele de que o Sea World não teve responsabilidade após o ataque de uma baleia assassina matar um de seus empregados, porque ele deveria saber dos riscos. Ele já declarou que o Escritório de Proteção Financeira do Consumidor, que ajuda a controlar o tipo de fraude financeira contra as famílias trabalhadoras que desempenhou um papel grande na crise de 2008, era inconstitucional.
Ele adotou uma visão extremamente compreensiva sobre os direitos das empresas de inibir a organização de sindicatos.
Isto tudo, por sinal, é o contrário de populismo. O público apoia intensamente as proteções trabalhistas. A campanha em andamento para tirá-los é uma ação de elites conservadoras, pessoas que fizeram suas carreiras servindo os interesses de empresas, e está em curso efetivamente às escondidas, debaixo dos narizes dos eleitores que pensavam que o Sr. Trump estava do lado deles.
E esta traição importa muito mais para os trabalhadores, digamos, do que a fanfarronice comercial do Sr. Trump. Há sinais crescentes de que a estagnação salarial na América, a mesma estagnação que irrita os eleitores do Sr. Trump, não é movida por forças impessoais como a mudança tecnológica; até certo ponto importante, ela é o resultado de mudanças políticas que vêm enfraquecendo o poder de barganha dos trabalhadores. Se o Sr. Trump conseguir colocar o Sr. Kavanaugh, ele vai ajudar a oficializar essas políticas antitrabalhistas durante décadas.