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Trump põe pressão sobre os funcionários públicos

A decisão de Trump para negar a todos os empregados federais um ajuste no custo de vida ocorre num “timing” esquisito

TRUMP: presidente americano afirma querer negar a todos os empregados federais um ajuste no custo de vida / REUTERS | Leah Millis (Leah Millis/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 12 de setembro de 2018 às 11h22.

Volta e meia você ouve a afirmação de que os republicanos odeiam gastos públicos. Na prática, porém, o ódio deles é seletivo. Eles tendem a achar ok gastos que escorram para os bolsos dos amigos deles no setor privado, sejam eles mercenários ou escolas lucrativas. Não, o que eles realmente odeiam são dois tipos de gastos: despesas que ajudam os americanos a bancar itens essenciais para a vida, como comida e cuidados com a saúde, e salários pagos a funcionários públicos.

Ou seja, em certo sentido a decisão do presidente Donald Trump de usar o poder executivo para negar a todos os empregados federais um ajuste no custo de vida está totalmente de acordo com o pensamento republicano. Mas o timing está esquisito.

Afinal, a jihad contra os trabalhadores do governo provavelmente atingiu seu ponto mais alto em 2010-2011, em meio ao movimento Tea Party. Denúncias sobre governos grandes eram a última onda, reforçadas em parte por falsas afirmações de que o presidente Obama havia governado com uma explosão de empregos federais. (O que de fato aconteceu foi uma alta temporária associada ao censo de 2010; algo que acontece a cada dez anos, não importa quem seja o presidente.)

Desde então, porém, o público, creio eu, tem gradualmente se tornado consciente das realidades da situação. A ampla maioria dos funcionários do governo é empregada pelos governos estaduais e locais; mais da metade desses empregados estaduais e locais estão envolvidos com educação, com grande parte do restante empregada na área da segurança pública (polícia e bombeiros). Ou seja, o típico funcionário público não é um burocrata que não faz nada; ele ou (geralmente) ela é um professor.

E os professores dificilmente estão com a vida ganha. Pelo contrário, o salário deles tem ficado ainda mais atrás daqueles de pessoas comparativamente melhor qualificadas no setor privado, para não falar no fato de que, por causa dos cortes orçamentários, muitos professores hoje acabam comprando materiais escolares com dinheiro do próprio bolso. O aperto dos professores levou a um movimento nacional de greve, e o público parece amplamente solidário.

Portanto, este é, como eu disse, um momento meio estranho para o Sr. Trump apertar os funcionários públicos. É verdade, estes são empregados federais, ou seja, não estamos falando de professores escolares. Mas nós estamos falando das pessoas que nos mantêm seguros, ou de cuidar daqueles que no passado nos mantiveram seguros: cerca de dois terços do montante que o governo federal gasta com compensações trabalhistas vai para o Departamento de Defesa, o Departamento de Assuntos dos Veteranos ou o Departamento de Segurança Interna.

Quão bem pagos são esses trabalhadores? Os empregados federais com níveis baixos de educação ganham mais que os pares deles no setor privado, mas você realmente quer que o nosso governo imite as políticas de salários sempre baixos, digamos, das redes de fast food? Trabalhadores mais educados, por outro lado, são pagos significativamente menos do que seus equivalentes no setor privado, e o Escritório de Orçamento do Congresso descobriu que, em geral, o governo federal paga só cerca de 3% mais do que pagaria se equiparasse os vencimentos do setor privado.

Qual é a justificativa do Sr. Trump para negar a esses trabalhadores um ajuste no custo de vida? Ele diz que tem a ver com nos colocar em “um rumo fiscalmente sustentável”, o que é algo bastante rico para alguém que acaba de impor um enorme corte de impostos para empresas e ricos. O que torna isso ainda mais rico é que, no mesmo dia em que anunciou que estava cancelando o aumento de salários, o Sr. Trump ventilou a ideia de usar o poder executivo para vincular os ganhos capitais à inflação, um corte de impostos de fato que aumentaria o déficit, e entregaria 63% dos benefícios dele aos 0,1% mais ricos da população, 86% ao 1% do topo.

Então, o que é que está realmente acontecendo? Dar o pão que o diabo amassou ao funcionalismo público é uma política de longo prazo do Partido Republicano, mas ainda assim eu desconfio que os republicanos do Congresso teriam preferido que o Sr. Trump não  fizesse seu anúncio dois meses antes das eleições de meio de mandato. O timing, ao contrário da hostilidade mais ampla aos funcionários públicos, provavelmente é pessoal para o Sr. Trump.

Duas coisas em particular parecem relevantes aqui. Primeiro, o Sr. Trump sempre frustrou e  enganou aqueles que trabalharam para ele: sua carreira empresarial está repleta de histórias de empregados e fornecedores não-pagos. Uma vez que ele não faz distinção entre negócios particulares e ser o presidente, tirar alguns poucos trocados da mão de obra federal é algo que vem com naturalidade.

Fora isso, o Sr. Trump está se sentindo cercado pelo “estado subterrâneo”, que para ele é qualquer parte do governo que obedece ao estado de direito em vez de ser pessoalmente fiel a ele. Sua punição salarial talvez represente em parte uma maneira de atacar todo mundo no governo: hoje em dia todos eles se parecem Robert Mueller para ele.

Qualquer que seja a motivação exata, este é um momento instrutivo, que revela não apenas outra camada da horripilância pessoal do Sr. Trump, mas também o que os republicanos querem realmente dizer quando eles fingem se preocupar com a responsabilidade fiscal.

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Volta e meia você ouve a afirmação de que os republicanos odeiam gastos públicos. Na prática, porém, o ódio deles é seletivo. Eles tendem a achar ok gastos que escorram para os bolsos dos amigos deles no setor privado, sejam eles mercenários ou escolas lucrativas. Não, o que eles realmente odeiam são dois tipos de gastos: despesas que ajudam os americanos a bancar itens essenciais para a vida, como comida e cuidados com a saúde, e salários pagos a funcionários públicos.

Ou seja, em certo sentido a decisão do presidente Donald Trump de usar o poder executivo para negar a todos os empregados federais um ajuste no custo de vida está totalmente de acordo com o pensamento republicano. Mas o timing está esquisito.

Afinal, a jihad contra os trabalhadores do governo provavelmente atingiu seu ponto mais alto em 2010-2011, em meio ao movimento Tea Party. Denúncias sobre governos grandes eram a última onda, reforçadas em parte por falsas afirmações de que o presidente Obama havia governado com uma explosão de empregos federais. (O que de fato aconteceu foi uma alta temporária associada ao censo de 2010; algo que acontece a cada dez anos, não importa quem seja o presidente.)

Desde então, porém, o público, creio eu, tem gradualmente se tornado consciente das realidades da situação. A ampla maioria dos funcionários do governo é empregada pelos governos estaduais e locais; mais da metade desses empregados estaduais e locais estão envolvidos com educação, com grande parte do restante empregada na área da segurança pública (polícia e bombeiros). Ou seja, o típico funcionário público não é um burocrata que não faz nada; ele ou (geralmente) ela é um professor.

E os professores dificilmente estão com a vida ganha. Pelo contrário, o salário deles tem ficado ainda mais atrás daqueles de pessoas comparativamente melhor qualificadas no setor privado, para não falar no fato de que, por causa dos cortes orçamentários, muitos professores hoje acabam comprando materiais escolares com dinheiro do próprio bolso. O aperto dos professores levou a um movimento nacional de greve, e o público parece amplamente solidário.

Portanto, este é, como eu disse, um momento meio estranho para o Sr. Trump apertar os funcionários públicos. É verdade, estes são empregados federais, ou seja, não estamos falando de professores escolares. Mas nós estamos falando das pessoas que nos mantêm seguros, ou de cuidar daqueles que no passado nos mantiveram seguros: cerca de dois terços do montante que o governo federal gasta com compensações trabalhistas vai para o Departamento de Defesa, o Departamento de Assuntos dos Veteranos ou o Departamento de Segurança Interna.

Quão bem pagos são esses trabalhadores? Os empregados federais com níveis baixos de educação ganham mais que os pares deles no setor privado, mas você realmente quer que o nosso governo imite as políticas de salários sempre baixos, digamos, das redes de fast food? Trabalhadores mais educados, por outro lado, são pagos significativamente menos do que seus equivalentes no setor privado, e o Escritório de Orçamento do Congresso descobriu que, em geral, o governo federal paga só cerca de 3% mais do que pagaria se equiparasse os vencimentos do setor privado.

Qual é a justificativa do Sr. Trump para negar a esses trabalhadores um ajuste no custo de vida? Ele diz que tem a ver com nos colocar em “um rumo fiscalmente sustentável”, o que é algo bastante rico para alguém que acaba de impor um enorme corte de impostos para empresas e ricos. O que torna isso ainda mais rico é que, no mesmo dia em que anunciou que estava cancelando o aumento de salários, o Sr. Trump ventilou a ideia de usar o poder executivo para vincular os ganhos capitais à inflação, um corte de impostos de fato que aumentaria o déficit, e entregaria 63% dos benefícios dele aos 0,1% mais ricos da população, 86% ao 1% do topo.

Então, o que é que está realmente acontecendo? Dar o pão que o diabo amassou ao funcionalismo público é uma política de longo prazo do Partido Republicano, mas ainda assim eu desconfio que os republicanos do Congresso teriam preferido que o Sr. Trump não  fizesse seu anúncio dois meses antes das eleições de meio de mandato. O timing, ao contrário da hostilidade mais ampla aos funcionários públicos, provavelmente é pessoal para o Sr. Trump.

Duas coisas em particular parecem relevantes aqui. Primeiro, o Sr. Trump sempre frustrou e  enganou aqueles que trabalharam para ele: sua carreira empresarial está repleta de histórias de empregados e fornecedores não-pagos. Uma vez que ele não faz distinção entre negócios particulares e ser o presidente, tirar alguns poucos trocados da mão de obra federal é algo que vem com naturalidade.

Fora isso, o Sr. Trump está se sentindo cercado pelo “estado subterrâneo”, que para ele é qualquer parte do governo que obedece ao estado de direito em vez de ser pessoalmente fiel a ele. Sua punição salarial talvez represente em parte uma maneira de atacar todo mundo no governo: hoje em dia todos eles se parecem Robert Mueller para ele.

Qualquer que seja a motivação exata, este é um momento instrutivo, que revela não apenas outra camada da horripilância pessoal do Sr. Trump, mas também o que os republicanos querem realmente dizer quando eles fingem se preocupar com a responsabilidade fiscal.

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