Republicanos declaram guerra aos pobres
Cortes em programas de auxílio nos Estados Unidos fazem com que milhões de americanos fiquem vulneráveis
Da Redação
Publicado em 25 de julho de 2018 às 11h54.
Última atualização em 26 de julho de 2018 às 09h41.
Quatro anos atrás, no 50o. Aniversário da guerra à pobreza de Lyndon Johnson, os republicanos da Câmara liderados por Paul Ryan divulgaram um relatório declarando aquela guerra um fracasso. A pobreza, afirmaram eles, não havia caído. Logo, concluíram eles, nós devemos cortar os gastos com os pobres.
Na semana passada, o Conselho de Assessores Econômicos de Donald Trump divulgou um relatório novo sobre a pobreza, reconhecendo o que a maioria dos especialistas no ramo tem dito: a medição padrão da pobreza é seriamente defeituosa, e uma medição melhor mostra um progresso significativo. De fato, estes assessores chegaram ao ponto de afirmar que a pobreza não é mais um problema. (Será que estas pessoas chegam a passear pelo mundo real?)
Enfim, a guerra à pobreza, afirmou o relatório, “está em grande parte concluída e é um sucesso”. E a nossa resposta, diz o governo Trump, deve ser…cortar os gastos com os pobres.
Ok, o relatório não defende abertamente cortes de benefícios. Em vez disso, ele pede uma imposição ampla de exigências trabalhistas para o Medicaid, auxíliose alimentícios e outros programas. Mas isto teria o efeito de reduzir drasticamente a cobertura destes programas.
Esta queda na cobertura não seria o resultado de grandes números de pessoas ganhando dinheiro até saírem da pobreza. Em vez disso, muitos americanos iriam, por uma série de razões – saúde ruim, instabilidade trabalhista para empregados com baixos salários, uma burocracia intimidante impostas àqueles menos capazes de lidar com ela – considerar impossível atender a estes requerimentos, e teriam o auxílio negado, apesar de permanecerem pobres.
Ou seja, qualquer que seja a evidência, os republicanos chegam sempre à mesma conclusão sobre a política. A guerra à pobreza foi um fracasso? Vamos parar de ajudar os pobres. Foi um sucesso? Vamos parar de ajudar os pobres.
E vamos ser honestos: Estamos falando aqui do partido inteiro, e não apenas do governo Trump. Em especial, os governadores republicanos são fanáticos com a ideia de cortar benefícios para seus habitantes de menor renda.
No Kentucky, o governador Matt Bevin tentou impor exigências trabalhistas pesadas sobre o Medicaid. Quando um tribunal sentenciou que o plano dele violava a lei, ele retaliou cortando abruptamente a cobertura ótica e dental de centenas de milhares de pessoas.
No Maine, os eleitores esmagadoramente aprovaram uma iniciativa para expandir o Medicaid sobre a Lei do Acesso à Saúde Acessível. Mas o governador Paul LePage tem se recusado a implementar a expansão – que seria paga em sua ampla maioria com recursos federais – apesar de haver uma decisão judicial ordenando isso, e tem dito que está disposto a ir para a cadeia em vez de ver os eleitores dele terem cobertura pública de saúde.
Assim, o que está por trás da guerra do Partido Republicano contra os pobres?
Não tem a ver com incentivos. A afirmação persistente da direita de que a América está repleta de “tomadores” vivendo de programas sociais quando deveriam estar trabalhando pode ser no que os conservadores gostariam de acreditar, mas simplesmente não é verdade. A maioria dos adultos não-incapacitados que recebem auxílio trabalha; a maioria deles que não o faz tem bons motivos para deixar de trabalhar, como um problema de saúde ou a necessidade de servir como cuidador para membros da família. Cortar benefícios forçaria alguma dessas pessoas a entrar na força de trabalho por puro desespero, mas não muitas, e a um enorme custo para o bem-estar delas.
Além disso, afirmações de que programas sociais excessivamente generosos são a causa da participação em queda na força de trabalho podem ser facilmente refutadas olhando-se a evidência internacional. Os Estados de bem-estar da Europa – ou, como os conservadores sempre se referem a eles, os Estados “falidos” de bem-estar – dão auxílios muito mais generosos às famílias de baixa renda do que nós, e como consequência têm muito menos pobreza. No entanto, adultos no auge da sua idade de trabalho têm muito mais chances de arrumar empregos em países europeus de ponta do que nos Estados Unidos.
Também não é uma questão de dinheiro. Em um nível estadual, muitos governadores republicanos ainda estão se recusando a ampliar o Medicaid mesmo que custasse pouco a eles e trouxesse dinheiro às economias de seus estados. No nível federal, seria necessários cortes de benefícios draconianos, impondo um sofrimento imenso, para economizar o tanto de dinheiro do qual o Partido Republicano casualmente abriu mão no corte de impostos do ano passado.
E quanto à resposta tradicional de que, no fundo, tem a ver com raça? Os programas sociais em geral têm sido vistos como algo que ajuda Aquelas Pessoas, e não americanos brancos. E certamente isso é parte do que está acontecendo.
Mas não pode ser a única explicação, já que os republicanos são obcecados em cortar auxílios aos menos afortunados até mesmo em lugares, como o Maine, que são em sua maioria povoados por brancos não-hispânicos.
Logo, o que explica a guerra contra os pobres? Até onde eu vejo, você tem de diferenciar o que motiva a base do Partido Republicano e o que motiva os políticos conservadores.
Muitos trabalhadores braçais brancos ainda acham que os pobres são preguiçosos e que preferem viver de auxílio. Mas como mostram os episódios no Maine, tais crenças não são centrais na guerra aos pobres, que tem sido conduzida principalmente pelas elites políticas.
E o que motiva essas elites é a ideologia. As identidades políticas delas, para não falar em suas carreiras, estão envoltas na ideia de que mais governo é sempre ruim. Assim, eles se opõem a programas que ajudam os pobres em parte por uma hostilidade geral contra os “tomadores”, mas também porque eles odeiam a ideia de o governo ajudar qualquer um.
E se eles conseguirem o que querem, a sociedade vai parar de socorrer dezenas de milhões de americanos que precisam desesperadamente dessa ajuda.
Quatro anos atrás, no 50o. Aniversário da guerra à pobreza de Lyndon Johnson, os republicanos da Câmara liderados por Paul Ryan divulgaram um relatório declarando aquela guerra um fracasso. A pobreza, afirmaram eles, não havia caído. Logo, concluíram eles, nós devemos cortar os gastos com os pobres.
Na semana passada, o Conselho de Assessores Econômicos de Donald Trump divulgou um relatório novo sobre a pobreza, reconhecendo o que a maioria dos especialistas no ramo tem dito: a medição padrão da pobreza é seriamente defeituosa, e uma medição melhor mostra um progresso significativo. De fato, estes assessores chegaram ao ponto de afirmar que a pobreza não é mais um problema. (Será que estas pessoas chegam a passear pelo mundo real?)
Enfim, a guerra à pobreza, afirmou o relatório, “está em grande parte concluída e é um sucesso”. E a nossa resposta, diz o governo Trump, deve ser…cortar os gastos com os pobres.
Ok, o relatório não defende abertamente cortes de benefícios. Em vez disso, ele pede uma imposição ampla de exigências trabalhistas para o Medicaid, auxíliose alimentícios e outros programas. Mas isto teria o efeito de reduzir drasticamente a cobertura destes programas.
Esta queda na cobertura não seria o resultado de grandes números de pessoas ganhando dinheiro até saírem da pobreza. Em vez disso, muitos americanos iriam, por uma série de razões – saúde ruim, instabilidade trabalhista para empregados com baixos salários, uma burocracia intimidante impostas àqueles menos capazes de lidar com ela – considerar impossível atender a estes requerimentos, e teriam o auxílio negado, apesar de permanecerem pobres.
Ou seja, qualquer que seja a evidência, os republicanos chegam sempre à mesma conclusão sobre a política. A guerra à pobreza foi um fracasso? Vamos parar de ajudar os pobres. Foi um sucesso? Vamos parar de ajudar os pobres.
E vamos ser honestos: Estamos falando aqui do partido inteiro, e não apenas do governo Trump. Em especial, os governadores republicanos são fanáticos com a ideia de cortar benefícios para seus habitantes de menor renda.
No Kentucky, o governador Matt Bevin tentou impor exigências trabalhistas pesadas sobre o Medicaid. Quando um tribunal sentenciou que o plano dele violava a lei, ele retaliou cortando abruptamente a cobertura ótica e dental de centenas de milhares de pessoas.
No Maine, os eleitores esmagadoramente aprovaram uma iniciativa para expandir o Medicaid sobre a Lei do Acesso à Saúde Acessível. Mas o governador Paul LePage tem se recusado a implementar a expansão – que seria paga em sua ampla maioria com recursos federais – apesar de haver uma decisão judicial ordenando isso, e tem dito que está disposto a ir para a cadeia em vez de ver os eleitores dele terem cobertura pública de saúde.
Assim, o que está por trás da guerra do Partido Republicano contra os pobres?
Não tem a ver com incentivos. A afirmação persistente da direita de que a América está repleta de “tomadores” vivendo de programas sociais quando deveriam estar trabalhando pode ser no que os conservadores gostariam de acreditar, mas simplesmente não é verdade. A maioria dos adultos não-incapacitados que recebem auxílio trabalha; a maioria deles que não o faz tem bons motivos para deixar de trabalhar, como um problema de saúde ou a necessidade de servir como cuidador para membros da família. Cortar benefícios forçaria alguma dessas pessoas a entrar na força de trabalho por puro desespero, mas não muitas, e a um enorme custo para o bem-estar delas.
Além disso, afirmações de que programas sociais excessivamente generosos são a causa da participação em queda na força de trabalho podem ser facilmente refutadas olhando-se a evidência internacional. Os Estados de bem-estar da Europa – ou, como os conservadores sempre se referem a eles, os Estados “falidos” de bem-estar – dão auxílios muito mais generosos às famílias de baixa renda do que nós, e como consequência têm muito menos pobreza. No entanto, adultos no auge da sua idade de trabalho têm muito mais chances de arrumar empregos em países europeus de ponta do que nos Estados Unidos.
Também não é uma questão de dinheiro. Em um nível estadual, muitos governadores republicanos ainda estão se recusando a ampliar o Medicaid mesmo que custasse pouco a eles e trouxesse dinheiro às economias de seus estados. No nível federal, seria necessários cortes de benefícios draconianos, impondo um sofrimento imenso, para economizar o tanto de dinheiro do qual o Partido Republicano casualmente abriu mão no corte de impostos do ano passado.
E quanto à resposta tradicional de que, no fundo, tem a ver com raça? Os programas sociais em geral têm sido vistos como algo que ajuda Aquelas Pessoas, e não americanos brancos. E certamente isso é parte do que está acontecendo.
Mas não pode ser a única explicação, já que os republicanos são obcecados em cortar auxílios aos menos afortunados até mesmo em lugares, como o Maine, que são em sua maioria povoados por brancos não-hispânicos.
Logo, o que explica a guerra contra os pobres? Até onde eu vejo, você tem de diferenciar o que motiva a base do Partido Republicano e o que motiva os políticos conservadores.
Muitos trabalhadores braçais brancos ainda acham que os pobres são preguiçosos e que preferem viver de auxílio. Mas como mostram os episódios no Maine, tais crenças não são centrais na guerra aos pobres, que tem sido conduzida principalmente pelas elites políticas.
E o que motiva essas elites é a ideologia. As identidades políticas delas, para não falar em suas carreiras, estão envoltas na ideia de que mais governo é sempre ruim. Assim, eles se opõem a programas que ajudam os pobres em parte por uma hostilidade geral contra os “tomadores”, mas também porque eles odeiam a ideia de o governo ajudar qualquer um.
E se eles conseguirem o que querem, a sociedade vai parar de socorrer dezenas de milhões de americanos que precisam desesperadamente dessa ajuda.