Quem são os &americanos de verdade”?
O economista Brad DeLong escreveu recentemente um post sobre especialistas como Niall Ferguson, que fantasiam sobre uma vasta classe de pessoas comuns – “americanos de verdade” – que praticam valores tradicionais, não comem alimentos extravagantes e votam em bons republicanos, que defendem os valores da família e prometem guerra. Estou surpreso que o Sr. DeLong […]
Publicado em 29 de agosto de 2016 às, 12h57.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h03.
O economista Brad DeLong escreveu recentemente um post sobre especialistas como Niall Ferguson, que fantasiam sobre uma vasta classe de pessoas comuns – “americanos de verdade” – que praticam valores tradicionais, não comem alimentos extravagantes e votam em bons republicanos, que defendem os valores da família e prometem guerra.
Estou surpreso que o Sr. DeLong não tenha mencionado o comentarista Andrew Sullivan, que, após os ataques de 11 de Setembro, escreveu no The Times, de Londres: “a parte central do país – a grande zona vermelha que votou em Bush – está claramente preparada para a guerra. A esquerda decadente, em seus enclaves no litoral, não está morta – e pode muito bem formar uma quinta-coluna.”
O Sr. DeLong está, creio eu, sugerindo que toda essa linha de argumentação é errada e desonesta em muitos sentidos. Por um lado, estes americanos de verdade são uma minoria um tanto diminuta – menor, na verdade, do que a população não-branca. Por outro lado, a ideia de que os brancos sem formação superior são – ou em algum momento foram – uma reserva de valores e virtudes tradicionais é bobagem.
Alguns o são, outros não; eles são pessoas, com toda a pluralidade que você encontra entre indivíduos de qualquer classe ou grupo étnico.
Mas, acima de tudo, este tipo de comentário, ao mesmo tempo em que faz um elogio ostensivo à “América real”, é na verdade marcado por uma profunda condescendência. É uma passada de mão na cabeça da gente simples, elogiando sua falta de exposição à quinoa ou à comida tailandesa – sendo que ambas são encontráveis em qualquer praça de alimentação do país.
Desculpe, mas não existem caipiras na América moderna. A maioria de nós, seja qual for o seu estilo de vida, tem uma noção bastante boa de todo tipo de coisa que nossa cultura oferece, ainda que muitos de nós não possam se dar ao luxo de consumir algumas delas.
Dá até para dizer que o único segmento da nossa sociedade que parece realmente não saber como os outros vivem é um certo tipo de comentaristas, cegos pela sua romantização simultânea (e de desprezo) da classe trabalhadora branca da América.
© 2016 The New York Times