Quem consegue ser um bilionário?
As histórias mais plausíveis sobre como os indivíduos ficam muito ricos são também histórias na qual a remuneração deles excede e muito os benefícios gerados por eles para a economia
Publicado em 21 de novembro de 2019 às, 18h30.
Uma coluna recente foi dedicada a desmontar a ideia de que os democratas dos EUA precisam de um salvador bilionário, de modo que foi em grande parte sobre os delírios políticos dos super-ricos.
Eu não tinha muito espaço para tratar do problema um pouco diferente de como algumas pessoas conseguem ficar tão ricas. Por isso, hoje eu vou tentar preencher algumas das lacunas.
Na disciplina de Princípios Econômicos, nós ensinamos a teoria da “produtividade marginal” da distribuição de renda: Os trabalhadores ganham o que as atividades deles acrescentam à economia. Ou seja, um trabalhador cujos esforços elevam o valor total da produção em US$ 60 mil ao longo de um ano vai receber US$ 60 mil. Por quê? Competição. As empresas competiriam para contratar funcionários assim se eles ganhassem menos de US$ 60 mil, e os substituiriam por outros empregados, comparáveis a eles, se eles recebessem acima de US$ 60 mil.
Além disso, sem dúvida alguns funcionários têm talentos especiais que os tornam consideravelmente mais valiosos – de um ponto de vista pecuniário, e não moral – do que a média. Mas como nós explicamos por que algumas pessoas ganham muitas vezes este valor, como por exemplo, US$ 60 milhões? Será mesmo que estas pessoas são mil vezes mais produtivas do que o empregado médio? É bastante duvidoso.
De fato, as histórias mais plausíveis sobre como os indivíduos ficam muito ricos são também histórias na qual a remuneração deles excede e muito os benefícios gerados por eles para a economia.
Para começar, uma grande parcela dos bilionários do mundo fez sua fortuna por meio de especulação nos mercados financeiros e imobiliários. Claro que a especulação tem um propósito útil: Nós queremos que o mercado antecipe a probabilidade de eventos futuros, e alguém tem de ser recompensado pelo trabalho de antecipar esses eventos.
Porém, como notou há mais de 60 anos o grande economia Paul Samuelson, a especulação oferece grandes recompensas àqueles que forem só um pouco mais rápidos no gatilho do que outras pessoas, ainda que a sociedade ganhe muito pouco com a velocidade das reações deles: “Suponha que as minhas reações não sejam melhores do que aquelas de outros especuladores, mas apenas um segundo mais rápidas. (Isso pode ter a ver com minha criação de pombos voadores ou com a velocidade dos meus neurônios.)” (Ou, apesar de Samuelson não mencionar, como resultado de insider trading.). Em tal cenário, notou Samuelson, o especulador fica muito rico mesmo que tenha contribuído muito pouco para o produto interno bruto.
Outro jeito de ficar muito rico é fundar uma empresa que se mantém só um pouco acima da curva e também, graças à natureza de muitos mercados em que o vencedor leva tudo, consegue estabelecer uma posição lucrativa de monopólio. Considerando-se os bilionários em geral, Bill Gates e Jeff Bezos não são pessoas particularmente terríveis. Porém, se Gates não existisse, com certeza alguma outra pessoa teria aparecido com sistemas operacionais para computadores quase tão bons quanto o Windows; se Bezos não existisse, algum outro sem dúvida teria criado plataformas de varejo on-line comparáveis à Amazon.
Ou seja, grandes fortunas conquistadas fundando-se empresas, do mesmo modo que grandes fortunas conquistadas com a especulação, têm pouca relação com qualquer contribuição social.
Por fim, um número volumoso de altos salários vai para os executivos-chefes de grandes empresas. Quem decide quanto valem esses executivos? Os comitês salariais indicados pelos próprios CEOs. Boa liderança faz a diferença, mas ao longo da metade do último século os salários dos CEOs têm subido cerca de 20 vezes comparados ao de um empregado médio, na proporção de quase 300 para 1. Será que a importância da liderança de fato cresceu tanto assim?
Sem dúvida, mesmo que os bilionários de fato tivessem feito contribuições extraordinárias à sociedade, isso não daria a eles o direito moral de manter todo o dinheiro que ganham; ainda assim é provável que fizesse sentido tributá-los pesadamente. O fato é que provavelmente eles não contribuem o suficiente para justificar o tanto que ganham.