Quando conservadores atacam professores
Ao cortar impostos, governos republicanos reduzem drasticamente a receita, causando estragos nas contas estaduais — dominadas por gastos em educação
Da Redação
Publicado em 8 de maio de 2018 às 12h42.
Matt Bevin, governador republicano do Kentucky, surtou alguns dias atrás. Milhares dos professores de seu estado deixaram seus postos de trabalho, obrigando muitas escolas a fechar naquele dia, para protestar contra a oposição dele a um aumento no financiamento da educação. O Sr. Bevin os atacou com uma acusação bizarra: “Eu garanto a vocês que, em algum lugar do Kentucky, uma criança foi violentada sexualmente hoje porque foi deixada em casa por não ter ninguém lá para cuidar dela”.
Ele pediu desculpas depois. Mas este surto histérico tem raízes profundas: No estado e localmente, a obsessão conservadora com os cortes tributários tem forçado o Partido Republicano ao equivalente a uma guerra contra a educação e, em especial, uma guerra contra os professores. Essa guerra é o motivo pelo qual nós temos acompanhado greves de professores em múltiplos estados. E pessoas como o Sr. Bevin estão tendo dificuldade para lidar com a realidade criada por eles.
Para entender como eles chegaram a este ponto, vocês precisam saber o que o governo na América faz com o dinheiro dos seus impostos.
O governo federal, como se dizia antigamente, é basicamente uma empresa de seguros com um exército: O gasto que não é para a área da defesa é dominado por Previdência Social, Medicare e Medicaid. Governos estaduais e locais, entretanto, são basicamente distritos escolares com delegacias de polícia. A educação representa mais da metade da força de trabalho estadual e local; os serviços de proteção como delegacias de polícia e corpo de bombeiros representam grande parte do restante.
E aí, o que acontece quando conservadores linha-dura tomam um estado, como eles fizeram em grande parte do país depois da onda do Tea Party de 2010? Eles quase que invariavelmente tentam emplacar grandes cortes tributários. Geralmente esse cortes tributários são vendidos com a promessa de que impostos menores vão proporcionar um enorme incentivo à economia do estado.
Esta promessa, porém, nunca — e eu quero dizer nunca — é cumprida; a crença contínua da direita na compensação mágica dos cortes de impostos representa um triunfo da ideologia sobre evidências esmagadoramente negativas.
O que os cortes de impostos fazem, em vez disso, é reduzir drasticamente a receita, causando estragos nas contas estaduais. Uma grande maioria dos estados é obrigada por lei a equilibrar seus orçamentos. Isto significa que, quando as receitas fiscais despencam, os conservadores que administram muitos estados não podem fazer o que Trump e os aliados dele no Congresso estão fazendo em um nível federal: simplesmente deixar o déficit orçamentário disparar. Em vez disso, eles precisam cortar gastos.
E, dada a centralidade da educação nos orçamentos estaduais e locais, isso coloca os professores escolares no meio do fogo cruzado.
Como, afinal, os governos podem economizar dinheiro com educação? Eles podem diminuir o número de professores, mas isso significa salas de aula maiores, o que vai revoltar os pais. Eles podem, e têm feito isso, cortar programas para estudantes com necessidades especiais, mas, crueldade à parte, isso consegue economizar apenas um pouco de dinheiro marginalmente. O mesmo vale para medidas de cortes de custos, como negligenciar manutenção escolar e economizar em material escolar até o ponto em que muitos professores acabam suplementando orçamentos inadequados de seus próprios bolsos.
Ou seja, o que os governos estaduais conservadores têm feito é essencialmente espremer os próprios professores.
Certo, ensinar crianças nunca foi um jeito de ficar rico. Porém, ser um professor escolar costumava colocar você de maneira consistente na categoria de classe média, com uma renda e benefícios decentes. Na maior parte do país, entretanto, isso não é mais verdade.
Em nível nacional, os rendimentos de professores de escolas públicas têm ficado abaixo da taxa de inflação desde meados da década de 90, e têm ficado ainda mais abaixo dos ganhos de trabalhadores comparáveis. A esta altura, os professores recebem 23% menos que outros formados na faculdade. Contudo, essa média nacional é um tanto ilusória: O salário de professor está, na verdade, maior em alguns estados grandes, como Nova York e Califórnia, mas ele é bastante baixo em muitos estados com tendência à direita.
Enquanto isso, os benefícios dos professores também estão piorando. Em especial, docentes estão tendo de pagar uma parcela crescente dos prêmios de seus planos de saúde, um fardo pesado quando se considera que ao mesmo tempo os vencimentos reais deles estão diminuindo.
Ou seja, nós ficamos com um país em que professores, as pessoas com as quais contamos para preparar nossas crianças para o futuro, estão começando a se sentir integrantes da classe dos trabalhadores pobres, incapazes de conseguir pagar as contas a não ser que consigam outros empregos. E eles não conseguem mais suportar.
O que nos traz de volta ao surto desequilibrado do Sr. Bevin.
Um jeito de pensar sobre o que está acontecendo agora em vários estados é que a reação anti-Obama, combinada ao tribalismo crescente da política americana, pôs uma série de governos estaduais nas mãos de ideólogos de direita extrema. Estes ideólogos realmente acreditaram que eles conseguiriam incentivar uma utopia de impostos baixos, libertária e de estado mínimo.
Previsivelmente, eles não conseguiram. Por um tempo eles foram capazes de escapar de algumas das consequências de seu fracasso ao empurrar os custos para os trabalhadores do setor público, em particular os professores escolares. Mas essa estratégia chegou ao seu limite. E agora, o quê?
Bem, alguns republicanos têm de fato se provado dispostos a aprender com a experiência, reverter cortes de impostos e restaurar o financiamento à educação. Mas muitos estão respondendo do mesmo modo que fez o Sr. Bevin: Em vez de admitir, ainda que implicitamente, que eles estavam errados, eles estão atacando, de maneiras cada vez mais descompensadas, as vítimas das políticas deles.
Matt Bevin, governador republicano do Kentucky, surtou alguns dias atrás. Milhares dos professores de seu estado deixaram seus postos de trabalho, obrigando muitas escolas a fechar naquele dia, para protestar contra a oposição dele a um aumento no financiamento da educação. O Sr. Bevin os atacou com uma acusação bizarra: “Eu garanto a vocês que, em algum lugar do Kentucky, uma criança foi violentada sexualmente hoje porque foi deixada em casa por não ter ninguém lá para cuidar dela”.
Ele pediu desculpas depois. Mas este surto histérico tem raízes profundas: No estado e localmente, a obsessão conservadora com os cortes tributários tem forçado o Partido Republicano ao equivalente a uma guerra contra a educação e, em especial, uma guerra contra os professores. Essa guerra é o motivo pelo qual nós temos acompanhado greves de professores em múltiplos estados. E pessoas como o Sr. Bevin estão tendo dificuldade para lidar com a realidade criada por eles.
Para entender como eles chegaram a este ponto, vocês precisam saber o que o governo na América faz com o dinheiro dos seus impostos.
O governo federal, como se dizia antigamente, é basicamente uma empresa de seguros com um exército: O gasto que não é para a área da defesa é dominado por Previdência Social, Medicare e Medicaid. Governos estaduais e locais, entretanto, são basicamente distritos escolares com delegacias de polícia. A educação representa mais da metade da força de trabalho estadual e local; os serviços de proteção como delegacias de polícia e corpo de bombeiros representam grande parte do restante.
E aí, o que acontece quando conservadores linha-dura tomam um estado, como eles fizeram em grande parte do país depois da onda do Tea Party de 2010? Eles quase que invariavelmente tentam emplacar grandes cortes tributários. Geralmente esse cortes tributários são vendidos com a promessa de que impostos menores vão proporcionar um enorme incentivo à economia do estado.
Esta promessa, porém, nunca — e eu quero dizer nunca — é cumprida; a crença contínua da direita na compensação mágica dos cortes de impostos representa um triunfo da ideologia sobre evidências esmagadoramente negativas.
O que os cortes de impostos fazem, em vez disso, é reduzir drasticamente a receita, causando estragos nas contas estaduais. Uma grande maioria dos estados é obrigada por lei a equilibrar seus orçamentos. Isto significa que, quando as receitas fiscais despencam, os conservadores que administram muitos estados não podem fazer o que Trump e os aliados dele no Congresso estão fazendo em um nível federal: simplesmente deixar o déficit orçamentário disparar. Em vez disso, eles precisam cortar gastos.
E, dada a centralidade da educação nos orçamentos estaduais e locais, isso coloca os professores escolares no meio do fogo cruzado.
Como, afinal, os governos podem economizar dinheiro com educação? Eles podem diminuir o número de professores, mas isso significa salas de aula maiores, o que vai revoltar os pais. Eles podem, e têm feito isso, cortar programas para estudantes com necessidades especiais, mas, crueldade à parte, isso consegue economizar apenas um pouco de dinheiro marginalmente. O mesmo vale para medidas de cortes de custos, como negligenciar manutenção escolar e economizar em material escolar até o ponto em que muitos professores acabam suplementando orçamentos inadequados de seus próprios bolsos.
Ou seja, o que os governos estaduais conservadores têm feito é essencialmente espremer os próprios professores.
Certo, ensinar crianças nunca foi um jeito de ficar rico. Porém, ser um professor escolar costumava colocar você de maneira consistente na categoria de classe média, com uma renda e benefícios decentes. Na maior parte do país, entretanto, isso não é mais verdade.
Em nível nacional, os rendimentos de professores de escolas públicas têm ficado abaixo da taxa de inflação desde meados da década de 90, e têm ficado ainda mais abaixo dos ganhos de trabalhadores comparáveis. A esta altura, os professores recebem 23% menos que outros formados na faculdade. Contudo, essa média nacional é um tanto ilusória: O salário de professor está, na verdade, maior em alguns estados grandes, como Nova York e Califórnia, mas ele é bastante baixo em muitos estados com tendência à direita.
Enquanto isso, os benefícios dos professores também estão piorando. Em especial, docentes estão tendo de pagar uma parcela crescente dos prêmios de seus planos de saúde, um fardo pesado quando se considera que ao mesmo tempo os vencimentos reais deles estão diminuindo.
Ou seja, nós ficamos com um país em que professores, as pessoas com as quais contamos para preparar nossas crianças para o futuro, estão começando a se sentir integrantes da classe dos trabalhadores pobres, incapazes de conseguir pagar as contas a não ser que consigam outros empregos. E eles não conseguem mais suportar.
O que nos traz de volta ao surto desequilibrado do Sr. Bevin.
Um jeito de pensar sobre o que está acontecendo agora em vários estados é que a reação anti-Obama, combinada ao tribalismo crescente da política americana, pôs uma série de governos estaduais nas mãos de ideólogos de direita extrema. Estes ideólogos realmente acreditaram que eles conseguiriam incentivar uma utopia de impostos baixos, libertária e de estado mínimo.
Previsivelmente, eles não conseguiram. Por um tempo eles foram capazes de escapar de algumas das consequências de seu fracasso ao empurrar os custos para os trabalhadores do setor público, em particular os professores escolares. Mas essa estratégia chegou ao seu limite. E agora, o quê?
Bem, alguns republicanos têm de fato se provado dispostos a aprender com a experiência, reverter cortes de impostos e restaurar o financiamento à educação. Mas muitos estão respondendo do mesmo modo que fez o Sr. Bevin: Em vez de admitir, ainda que implicitamente, que eles estavam errados, eles estão atacando, de maneiras cada vez mais descompensadas, as vítimas das políticas deles.