Quando a solução é simples demais
A ideia de que o desemprego em massa podia ser resolvido facilmente gastando-se mais parecia muito simples para que acreditassem nela
Publicado em 20 de dezembro de 2017 às, 13h59.
O último relatório sobre empregos nos Estados Unidos foi muito bom, exceto por uma coisa: o aumento salarial ainda está muito abaixo do que era antes da crise econômica de 2008. E isso me lembra de uma controvérsia que persistia quatro ou cinco anos atrás, durante o que hoje soa como uma era dourada, quando parecia que fatos e debate razoável poderiam de fato fazer diferença em termos de política.
Enfim, naquela ocasião o desemprego ainda era muito alto comparado ao seu nível pré-crise, e alguns de nós estávamos cobrando políticas mais severas – especialmente com gastos em infraestrutura – para impulsionar a demanda. Mas alguns economistas argumentavam que o desemprego elevado era “estrutural”; que havia um descompasso entre as competências que a força de trabalho possuía e aquelas de que a economia precisava. Isso provavelmente era a visão de uma minoria dentro da profissão, mas foi basicamente dominante entre os cabeças do governo.
A visão estrutural tinha claras implicações políticas, porque se você acreditava nela o argumento para um estímulo ao crescimento de empregos era muito mais fraco do que se você acreditasse que o desemprego alto representava, na verdade, milhares de americanos dispostos a trabalhar.
Os antiestruturalistas (ou “demandistas”) tentaram indicar que, se a hipótese estrutural fosse verdadeira, deveria haver um grande volume de pressão para cima sobre os salários daqueles trabalhadores que tivessem as competências corretas; de fato, ninguém estava vendo muita coisa em termos de ganhos salariais. Mas este argumento teve pouco efeito entre as Pessoas Sérias.
Mas aqui estamos nós: não tem havido uma mudança significativa nas qualificações da força de trabalho, mas o desemprego hoje está menor do que em 2007, e o crescimento salarial ainda está baixo. Os demandistas estavam certos.
Isso importa? Afinal, a essa altura nós estamos de fato mais ou menos de volta aos níveis de emprego pleno, embora aqueles dados sobre salários sugiram que nós ainda temos de avançar um pouco mais. Mas passamos um bom tempo com um desemprego excepcional: foram nove anos antes que o índice descesse de volta ao seu nível de 4,7% de dezembro de 2007, e a taxa média ao longo daquele período foi de 7,3%. Usando a Lei de Okun, isso indica algo como um subaproveitamento médio da capacidade de 5% durante esse período, ou seja, uma perda de 45% do produto interno bruto de um ano, digamos, US$ 8 trilhões.
E essa perda de US$ 8 trilhões não tinha de acontecer: um estímulo adequado, sustentado, poderia ter eliminado a maioria dela. Por que a visão estruturalista prevaleceu? Havia um aspecto esquerda versus direita, como existe em quase tudo hoje em dia: qualquer análise que sugira que o governo pode fazer coisas positivas é automaticamente rejeitada por metade do espectro político. Mas havia ainda o problema que a economia keynesiana sempre enfrentou: ela não soa séria o bastante para Pessoas Sérias. A ideia de que o desemprego em massa é fundamentalmente um problema de demanda inadequada, e de que isso é resolvido facilmente gastando-se mais, parece muito simples.
Eu gostaria de imaginar que o modo como as coisas acabaram serviria de lição para as crises futuras. Mas eu não apostaria nisso.