Por que o resto do mundo não confia nos Estados Unidos
A opinião no interior do governo Trump, sem dúvida, é de que “guerras comerciais são boas, além de fáceis de ganhar”. De onde vem essa avaliação?
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2018 às 15h39.
Última atualização em 10 de outubro de 2018 às 16h13.
Há tantos problemas pipocando neste momento que é difícil acompanhá-los, e focar em qualquer um produz uma sensação de culpa por deixar os outros de lado. Mas vale lembrar que a guerra comercial de Trump ainda parece estar a caminho, e é importante ter uma noção dos efeitos dela.
A opinião no interior do governo Trump, sem dúvida, é de que “guerras comerciais são boas, além de fáceis de ganhar”. De onde vem essa avaliação? Na verdade, ela envolve duas hipóteses.
Primeiro, ela adota a visão mercantilista, sob a qual o comércio é um jogo de soma zero no qual ganha quem vender mais. Como os Estados Unidos têm um déficit comercial, nós somos perdedores, e qualquer coisa que diminua esse déficit comercial é boa.
Segundo, ela dá como certa a hipótese de que precisamente porque os Estados Unidos exportam menos para outros países do que compra de volta, uma guerra comercial vai prejudicá-los mais do que a nós, reduzindo as importações americanas mais do que diminui as exportações americanas.
Ora, qualquer um que verificar os efeitos reais do comércio internacional sabe que a primeira hipótese está errada: Comércio não tem a ver apenas com a venda de produtos, mas sim com conseguir produtos melhores e mais baratos para consumir e usar como insumos na produção. Mas você pode presumir que no mínimo a segunda hipótese é verdadeira: uma rodada de retaliação tarifária deveria reduzir as exportações do exterior para os Estados Unidos mais do que reduz as exportações dos Estados Unidos para o resto do mundo, simplesmente porque estas exportações do exterior são maiores, para começo de conversa.
Mas talvez não. Um novo estudo do Banco Central Europeu sugere que, ainda que os Estados Unidos tenha déficits comerciais, uma guerra comercial diminuiria a demanda por bens americanos mais do que reduziria a demanda por bens do resto do mundo. O Banco da Inglaterra chegou a uma conclusão parecida.
Sejamos sinceros: Estes são os resultados de modelos, e não de experiências de verdade, e podem estar errados. Mas ainda vale perguntar porque os idealizadores de modelos estão chegando a este resultado. A resposta mais curta é o fenômeno conhecido no ramo como “desvio de comércio”.
Para simplificar, pense no mundo como três economias: América, China e Europa. Tanto o Banco Central Europeu quanto o Banco da Inglaterra estão presumindo cenários em que a América aumenta as taxas sobre a China e a Europa, com a China e a Europa retaliando. Mas a China e a Europa não aumentam a taxação uma da outra.
Um cenário assim oferece tanto aos consumidores quanto aos produtores domésticos muitas opções para diversificação fora da América. Produtores chineses, lidando com a taxação americana, podem em vez disso vender mais para a Europa; consumidores chineses, em lugar de pagarem tarifas de bens importados da América, podem buscar substitutos na Europa.
A mesma história vale para a Europa. Já os consumidores e empresas americanas não vão ter uma flexibilidade comparável.
A diferença na capacidade de trocar de parceiros significa que tanto as exportações quanto as empresas dos EUA que dependam de componentes importados serão atingidas mais duramente em qualquer nível de taxação do que seus equivalentes no exterior.
Mas por que presumir que se trata de uma guerra comercial unilateral dos EUA contra todo mundo?
Porque é isso que está acontecendo. O governo Trump tem isolado a América em muitas frentes, e a política comercial é um exemplo perfeito de uma delas. Com lideranças diferentes, América e Europa poderiam estar trabalhando em conjunto para botar pressão na China sobre coisas como propriedade intelectual, mas, considerando-se quem está de fato no comando, nós estamos sozinhos.
Como o Sr. Trump acaba de descobrir na Assembleia Geral das Nações Unidas, o mundo está literalmente rindo de nós. E ele certamente não confia em nós; de fato, outros países estão vendo modos de nos tirar de várias histórias. Isto importa por muitos motivos – e uma guerra comercial, ao que parece, é uma área em que lutar sozinho vai custar caro.
Há tantos problemas pipocando neste momento que é difícil acompanhá-los, e focar em qualquer um produz uma sensação de culpa por deixar os outros de lado. Mas vale lembrar que a guerra comercial de Trump ainda parece estar a caminho, e é importante ter uma noção dos efeitos dela.
A opinião no interior do governo Trump, sem dúvida, é de que “guerras comerciais são boas, além de fáceis de ganhar”. De onde vem essa avaliação? Na verdade, ela envolve duas hipóteses.
Primeiro, ela adota a visão mercantilista, sob a qual o comércio é um jogo de soma zero no qual ganha quem vender mais. Como os Estados Unidos têm um déficit comercial, nós somos perdedores, e qualquer coisa que diminua esse déficit comercial é boa.
Segundo, ela dá como certa a hipótese de que precisamente porque os Estados Unidos exportam menos para outros países do que compra de volta, uma guerra comercial vai prejudicá-los mais do que a nós, reduzindo as importações americanas mais do que diminui as exportações americanas.
Ora, qualquer um que verificar os efeitos reais do comércio internacional sabe que a primeira hipótese está errada: Comércio não tem a ver apenas com a venda de produtos, mas sim com conseguir produtos melhores e mais baratos para consumir e usar como insumos na produção. Mas você pode presumir que no mínimo a segunda hipótese é verdadeira: uma rodada de retaliação tarifária deveria reduzir as exportações do exterior para os Estados Unidos mais do que reduz as exportações dos Estados Unidos para o resto do mundo, simplesmente porque estas exportações do exterior são maiores, para começo de conversa.
Mas talvez não. Um novo estudo do Banco Central Europeu sugere que, ainda que os Estados Unidos tenha déficits comerciais, uma guerra comercial diminuiria a demanda por bens americanos mais do que reduziria a demanda por bens do resto do mundo. O Banco da Inglaterra chegou a uma conclusão parecida.
Sejamos sinceros: Estes são os resultados de modelos, e não de experiências de verdade, e podem estar errados. Mas ainda vale perguntar porque os idealizadores de modelos estão chegando a este resultado. A resposta mais curta é o fenômeno conhecido no ramo como “desvio de comércio”.
Para simplificar, pense no mundo como três economias: América, China e Europa. Tanto o Banco Central Europeu quanto o Banco da Inglaterra estão presumindo cenários em que a América aumenta as taxas sobre a China e a Europa, com a China e a Europa retaliando. Mas a China e a Europa não aumentam a taxação uma da outra.
Um cenário assim oferece tanto aos consumidores quanto aos produtores domésticos muitas opções para diversificação fora da América. Produtores chineses, lidando com a taxação americana, podem em vez disso vender mais para a Europa; consumidores chineses, em lugar de pagarem tarifas de bens importados da América, podem buscar substitutos na Europa.
A mesma história vale para a Europa. Já os consumidores e empresas americanas não vão ter uma flexibilidade comparável.
A diferença na capacidade de trocar de parceiros significa que tanto as exportações quanto as empresas dos EUA que dependam de componentes importados serão atingidas mais duramente em qualquer nível de taxação do que seus equivalentes no exterior.
Mas por que presumir que se trata de uma guerra comercial unilateral dos EUA contra todo mundo?
Porque é isso que está acontecendo. O governo Trump tem isolado a América em muitas frentes, e a política comercial é um exemplo perfeito de uma delas. Com lideranças diferentes, América e Europa poderiam estar trabalhando em conjunto para botar pressão na China sobre coisas como propriedade intelectual, mas, considerando-se quem está de fato no comando, nós estamos sozinhos.
Como o Sr. Trump acaba de descobrir na Assembleia Geral das Nações Unidas, o mundo está literalmente rindo de nós. E ele certamente não confia em nós; de fato, outros países estão vendo modos de nos tirar de várias histórias. Isto importa por muitos motivos – e uma guerra comercial, ao que parece, é uma área em que lutar sozinho vai custar caro.