Exame.com
Continua após a publicidade

Paul Ryan: nem sério, nem escrupuloso

Então, quer dizer que agora nós devemos ficar com pena de Paul Ryan? “Por anos, Ryan cultivou uma reputação nos dois grupos como um modelo de decência, honestidade e princípios; aquela criatura rara de D.C. que parece genuinamente guiada pela boa fé”, escreveu McCay Coppins recentemente no BuzzFeed. “Para muitos em Washington – inclusive um […]

PAUL RYAN: suas propostas sempre aumentaram o déficit ao mesmo tempo em que transfeririam os rendimentos de quem não tem nada para quem tem / Gary Cameron/Reuters (Gary Cameron/Reuters/Reuters)
PAUL RYAN: suas propostas sempre aumentaram o déficit ao mesmo tempo em que transfeririam os rendimentos de quem não tem nada para quem tem / Gary Cameron/Reuters (Gary Cameron/Reuters/Reuters)
P
Paul Krugman

Publicado em 10 de outubro de 2016 às, 12h12.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h16.

Então, quer dizer que agora nós devemos ficar com pena de Paul Ryan?

“Por anos, Ryan cultivou uma reputação nos dois grupos como um modelo de decência, honestidade e princípios; aquela criatura rara de D.C. que parece genuinamente guiada pela boa fé”, escreveu McCay Coppins recentemente no BuzzFeed. “Para muitos em Washington – inclusive um número grande de repórteres – o apoio de Ryan a Trump não é meramente um erro de cálculo político, mas uma traição medrosa.”

O Sr. Ryan, o porta-voz do partido Republicano na Câmara, não é — repito, não é — um homem sério, honesto e de princípios que manchou sua reputação ao apoiar Donald Trump, o candidato à presidência de seu partido. O Sr. Ryan tem sido uma fraude evidente o tempo todo, ao menos para qualquer um que sabe fazer contas. Suas propostas orçamentárias invariavelmente têm três elementos:

1. Grandes cortes de impostos para os ricos.

2. Cortes violentos no auxílio aos pobres.

3. Uma mistura surpresa – ou garantias de que ela arrecadará trilhões de dólares fechando brechas fiscais indefinidas, e economizar trilhões de dólares cortando despesas facultativas indeterminadas.

Quando se juntam os elementos 1 e 2 – isto é, ao se observar as políticas das quais o Sr. Ryan oferece detalhes – suas propostas sempre aumentaram o déficit ao mesmo tempo em que transfeririam os rendimentos de quem não tem nada para quem tem. Somente quando se recorre ao elemento 3, que não envolve nada além de afirmações sem respaldo e implausíveis, ele chega a afirmar que suas propostas diminuem o déficit.

No entanto, o Sr. Ryan se apresenta como um ícone da probidade fiscal. O que faz dele, à sua maneira, uma fraude no mesmo patamar do Sr. Trump.

Como pôde o Sr. Ryan ser capaz de se safar disso? A principal resposta é que ele tem sido um grande beneficiado pelo falso equilíbrio. A narrativa de mídia americana exige que haja especialistas sérios e escrupulosos nos dois grupos do espectro ideológico. Ou seja, o Sr. Ryan se tornou o símbolo escolhido dessa suposta equivalência, ainda que os experts em orçamento tenham feito suas propostas em pedaços em mais de uma ocasião.

E meu palpite é que a mídia vai perdoá-lo rapidamente pelo episódio Trump, de novo. Ela precisa dele para o “duploladismo”.

Afinal, não é como se houvesse especialistas genuínos e honestos sobrando no partido que indicou o Sr. Trump.

ficha_krugmann