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Para expandir influência, a China mira os transportes

Eu estou tão obcecado com o desastre Donald Trump quanto qualquer outra pessoa. Mas estou tentando pensar sobre outras coisas. E parece haver algumas coisas grandes acontecendo, ou potencialmente acontecendo, no front do comércio global, por meio da iniciativa de transportes Cinturão e Rota da China. Essa é obviamente uma tentativa de expandir a influência […]

OBRAS DE FERROVIA CHINESA NO LAOS: encurtar as distâncias faz parte de estratégia política do país de voltar a ser o Império do Meio  / Adam Dean/ The New York Times
OBRAS DE FERROVIA CHINESA NO LAOS: encurtar as distâncias faz parte de estratégia política do país de voltar a ser o Império do Meio / Adam Dean/ The New York Times
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Paul Krugman

Publicado em 6 de junho de 2017 às, 18h40.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h04.

Eu estou tão obcecado com o desastre Donald Trump quanto qualquer outra pessoa. Mas estou tentando pensar sobre outras coisas. E parece haver algumas coisas grandes acontecendo, ou potencialmente acontecendo, no front do comércio global, por meio da iniciativa de transportes Cinturão e Rota da China.

Essa é obviamente uma tentativa de expandir a influência política da China, e ajuda a identificar mercados para as exportações chinesas. A magnitude dos efeitos vai exigir algum trabalho para se estimar. Mas existe alguma outra coisa que seja interessante sobre a iniciativa em um sentido analítico?

Eu me vejo pensando sobre parte do meu trabalho antigo na área de geografia econômica, inspirado em parte pelo maravilhoso livro de William Cronon Nature’s Metropolis (A Metrópole da Natureza, em tradução livre do inglês), sobre a ascensão de Chicago.

O que eu aprendi com o Sr. Cronon foi sobre a importância da cidade ser um polo de transportes. Graças à rede de estradas de ferro se espalhando a partir de Chicago (em parte imposta pela região dos Grandes Lagos), virtualmente quaisquer dois lugares no “Grande Oeste” estavam efetivamente mais próximos de Chicago do que um do outro.

Considere qualquer atividade econômica caracterizada por robustas economias de escala. Há um incentivo claro para centralizar esta atividade e atender múltiplos mercados de um só local. Mas qual lugar? Na figura 1 nesta página, eu mostro três locais com conexões de transporte basicamente comparáveis, como exibido nas linhas pontilhadas. Neste caso nenhum lugar tem uma vantagem óbvia, a menos que haja grandes diferenças tanto nos custos quanto no tamanho do mercado local.

Porém, suponha que duas dessas conexões de transporte sejam amplamente melhoradas, como mostrado nas linhas contínuas da Figura 2. Nesse caso, o lugar C se torna mais vantajoso: Tudo o mais igual, você preferiria ter sua mercadoria no local C para atender aos mercados em A e B.

Nesse momento, a China se parece mais com A ou B do que C: Mercadorias viajam principalmente de navio, seja para a Europa, América ou vários países em desenvolvimento.

Estradas boas ao longo da Ásia Central e até o Sul da Ásia poderiam mudar isso, dando à China uma nova centralidade na geografia econômica do mundo: você poderia até chamá-la de Império do Meio.

Quão grande um negócio desses seria? Eu não faço ideia.

Mas você definitivamente pode encarar a iniciativa Cinturão e Rota como um pouco de política comercial estratégica assim como uma estratégia de, bem, política estratégica.