Os trabalhadores estão bem
A crise de empregos entre 2007 e meados de 2017 foi um enorme desperdício de potencial humano e econômico, mas depois de fins de 2011, a taxa de emprego na população economicamente ativa começou a se recuperar e segue se recuperando nos EUA
Publicado em 16 de julho de 2019 às, 15h25.
Existem pessoas que se debruçam sobre os detalhes de qualquer relatório econômico novo, atrás de pistas sobre o próximo passo da economia. Eu não sou uma delas, e não porque esse tipo de previsão do futuro seja inútil (ainda que seja superestimada), mas sim porque é uma arte oculta que eu nunca tentei dominar. Adivinhar os números do crescimento do próximo trimestre em termos de produto interno bruto é uma empreitada muito diferente de tentar entender como funciona a economia, o que em certo sentido ainda é meu emprego principal.
Porém, o acúmulo de relatórios de curto prazo, uma hora, acaba de fato nos dizendo algumas coisas sobre os fundamentos. E havia um recado no último relatório de empregos que é consistente com o que esses relatórios vêm nos dizendo no último ano, ou últimos dois anos. A saber, que os trabalhadores estão bem.
Para entender o que eu quero dizer com isso, considerem um número que muitos economistas hoje acreditam que seja um retrato do mercado de trabalho melhor que o índice oficial de desemprego: a taxa de emprego na população economicamente ativa, a porcentagem de americanos na faixa etária apta a trabalhar, entre 25 e 54 anos, que têm emprego.
Na véspera da crise financeira de 2008, a taxa de emprego da população economicamente ativa estava um pouco abaixo dos 80%. Quando a crise estourou, ela caiu para 75%, e continuou baixa por um bom tempo – tempo suficiente para muitas pessoas influentes declararem, com ares de grande sabedoria, que o emprego da população economicamente ativa nunca mais ia se recuperar até o nível anterior.
Por que não? Bem, segundo as Pessoas Muito Sérias (expressão que eu usei bastante naquele período), os trabalhadores americanos simplesmente não tinham as habilidades de que a economia moderna necessitava. E além disso, talvez também faltasse motivação a eles, que preferiam jogar videogames em vez de trabalhar, ou recorrer a drogas e álcool.
Aqueles de nós com uma noção de história reconhecemos esses argumentos: gente influente já fez afirmações parecidas na década de 30, garantindo que o desemprego elevado era um reflexo da inadequação dos trabalhadores americanos, e não uma simples falta de demanda suficiente. Mas aí veio a Segunda Guerra Mundial, e de uma hora para outra todos aqueles trabalhadores inaptos se mostraram perfeitamente capazes de operar a maior economia de defesa que o mundo jamais viu.
Sem dúvida, depois de fins de 2011, o emprego na população economicamente ativa começou a se recuperar, e de fato continua se recuperando até agora, ano após ano. E agora o emprego nessa faixa etária está de novo de volta ao que era antes da crise financeira. Os trabalhadores americanos de fato, ao que parece, têm tanto as habilidades quanto a motivação para trabalhar de modo produtivo, e foi o que fizeram esse tempo todo. Ah, sim, eles podem não ter algumas capacitações específicas de que alguns empregadores precisam – mas vejam só que coisa, em um mercado de trabalho desafiador muitas empresas estão dispostas a treinar funcionários que claramente têm a habilidade inata para desempenhar funções que nunca fizeram antes.
Assim, como nós podemos interpretar a longa tormenta no emprego de 2007 a meados de 2017?
A resposta é que ela representou um enorme desperdício de potencial humano e econômico. Nós devíamos ter feito o que quer que fosse necessário para incentivar a economia, incluindo-se aí um bocado de gastos com infraestrutura. Em vez disso, nossa elite ficou obcecada com uma reforma de direitos e privilégios ao mesmo tempo em que insistia que nossos trabalhadores não eram bons.