O sinistro acordo trabalhista de Trump com a Carrier
Eu ainda estou remoendo o recente acordo de Donald Trump com a Carrier, que eu suspeito que vá ser um modelo para os anos Trump de modo geral: cada vez mais, nós veremos ações que em si são ridículas mas que contribuem para um quadro muito ameaçador. Comecemos com a natureza ridícula da coisa toda. […]
Publicado em 14 de dezembro de 2016 às, 09h36.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 17h55.
Eu ainda estou remoendo o recente acordo de Donald Trump com a Carrier, que eu suspeito que vá ser um modelo para os anos Trump de modo geral: cada vez mais, nós veremos ações que em si são ridículas mas que contribuem para um quadro muito ameaçador.
Comecemos com a natureza ridícula da coisa toda. Estamos falando, agora já se sabe, de cerca de 800 empregos em um país de 145 milhões de trabalhadores. Cerca de 75.000 deles perdem seus empregos a cada dia útil, segundo dados do Escritório de Estatísticas Trabalhistas dos EUA. Como é que algo que sequer chega a ser um erro de arredondamento no quadro trabalhista geral consegue dominar alguns ciclos noticiosos?
E no entanto, foi o que isso conseguiu fazer – com uma cobertura esmagadoramente positiva, pelo menos no noticiário da TV. E isso é algo nefasto em si próprio. Sugere que grandes setores da mídia jornalística – cuja cobertura crédula do Sr. Trump e persecutória de Hillary Clinton ajudou a nos trazer aonde estamos hoje – serão ainda piores, e muito mais caninos em sua fidelidade, agora que este cara foi eleito.
Enquanto isso, como Larry Summers, o ex-secretário do Tesouro, escreveu recentemente no The Washington Post, o precedente – ainda que pequeno – não é bom: isto não é simplesmente capitalismo de compadres, é o governo como um esquema de proteção, com as empresas adequando suas estratégias para agradar políticos que vão punir ou recompensá-las de acordo com a maneira como essas estratégias afetam os esforços de relações públicas ou riquezas pessoais delas, ou as duas coisas. Quer dizer, estamos olhando para o que pode muito bem ser o início de uma decadência rumo a um governo de república das bananas.
E isto é, como o Sr. Summers escreveu (aqui), ruim tanto para a economia quanto para a liberdade. E há todos os motivos para esperar muito mais casos como este nos próximos dias.