O que aconteceu com a pauta comercial de Trump?
Será que alguma coisa vai acontecer com o comércio, o assunto recorrente de Trump além da imigração? Até agora, não houve nada. A Bloomberg reporta que as companhias estão de volta ao negócio tradicional de realocar empregos para o México, após um breve hiato – embora não fique claro se houve alguma pausa real, ou […]
Publicado em 12 de abril de 2017 às, 10h35.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h34.
Será que alguma coisa vai acontecer com o comércio, o assunto recorrente de Trump além da imigração? Até agora, não houve nada. A Bloomberg reporta que as companhias estão de volta ao negócio tradicional de realocar empregos para o México, após um breve hiato – embora não fique claro se houve alguma pausa real, ou somente uma interrupção dos anúncios. Mas, de qualquer maneira, CEOs parecem ter decidido que o Tratado de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta) não corre grandes riscos.
É verdade, o Sr. Trump está tuitando ameaças sobre o comércio com a China, e talvez algo grande vá acontecer depois do encontro dele com Xi Jinping, o presidente do país. Mas isso nos leva à questão: O Sr. Trump tem mesmo condições de perseguir avanços na pauta comercial de uma maneira séria?
Minha resposta é provavelmente não – exceto no caso de um movimento desprovido de desespero político.
O ponto de partida de qualquer discussão dessa natureza tem de ser a observação de que, durante a campanha, quando o Sr. Trump tratou de comércio, ele não tinha noção do que estava falando – não mais do que quando falava sobre a saúde pública, ou impostos, ou carvão.
Especificamente, o Sr. Trump parecia ter duas falsas ideias:
1.Os acordos comerciais existentes são obviamente injustos com os Estados Unidos, e nos colocam em desvantagem.
2.Restringir o comércio seria bom para a América e ruim para os estrangeiros, ou seja, a ameaça de protecionismo nos dá uma série de vantagens.
Agora, a realidade: Se você procurar pelos pontos positivos óbvios do Nafta, você não irá encontrá-los. O acordo derrubou a maioria das barreiras comerciais entre os Estados Unidos e o México – não havia nenhuma assimetria acentuada. Na verdade, uma vez que as tarifas mexicanas já eram maiores para começo de conversa, na prática o México fez mais concessões do que nós (embora nós estivéssemos concedendo ao México acesso a um mercado maior). A China é uma questão um pouco mais complicada – possivelmente os chineses de fato se esquivem de algumas regras da Organização Mundial de Comércio. Mas, mesmo nesse caso, não é óbvio o que você cobraria em um novo acordo.
Além disso, a manipulação cambial da China era um problema quatro anos atrás – mas não o é hoje.
E quanto aos efeitos do protecionismo? Deixemos de lado os ganhos da aula de economia básica do comércio, e vamos falar apenas dos interesses empresariais. O fato é que o comércio internacional moderno cria interdependência de um jeito que o comércio à moda antiga não fazia. Os bens que você exporta são geralmente fabricados com um bocado de componentes importados, e os bens que você importa com frequência incluem indiretamente um grande volume das suas próprias exportações. Veja o gráfico sobre a parcela interna de valor agregado no material de transporte.
Quando nós compramos carros do Méxcio, apenas metade do valor agregado é mexicano, com a maioria do restante vindo dos Estados Unidos – isto é, se você restringir estas importações, muitos trabalhadores do setor de produção serão prejudicados. Se nós restringirmos as importações de partes do México, nós iremos aumentar os custos de produtores americanos que exportam para outros mercados; mais uma vez, um monte de empregos americanos será prejudicado. Ainda que você ignore completamente os efeitos disso nos consumidores, políticas protecionistas criariam muitos perdedores no setor industrial americano.
Porém, Trump também não pode ignorar os interesses dos consumidores. Acima de tudo, o Walmart emprega 1,5 milhão de pessoas na América, ou 30 vezes o número total de mineradores de carvão nos Estados Unidos.
Assim, qualquer tentativa da parte do Sr. Trump de falar sério sobre o comércio irá dar de cara com uma oposição feroz, não do tipo de gente que seus apoiadores amam odiar, mas de grandes interesses empresariais. Ele está preparado de verdade para isso?
Até aqui, pelo menos, a pauta comercial de Trump, do jeito que é hoje, consistiu em tuitar para as empresas, dizendo a elas para manter empregos aqui, e depois tomar para si crédito por qualquer ação aparentemente criadora de empregos que elas tomem. E isso garantiu a ele um par de ciclos de notícias favoráveis. Na prática, contudo, isso quer dizer pouco ou nada.
Tudo isso sugere que na questão do comércio, assim como em qualquer outra coisa significativa, o Sr. Trump vai bufar e assoprar com muito pouco de concreto para mostrar. Mas há uma observação que me faz parar – a saber, a crescente necessidade do Sr. Trump de encontrar algum jeito de desviar o foco da conversa para longe da espiral de morte de seu governo. A política interna está parada; a história da Rússa está chegando cada dia mais perto; até mesmo os republicanos estão começando a perder o medo de enfrentar o homem que eles não-tão-secretamente desprezam. O que ele vai fazer?
A resposta clássica à questão das juntas desmanteladas é a Solução das Malvinas: Reúna o país criando uma confrontação exterior de algum tipo. Em geral isso envolve uma guerra física, mas talvez uma guerra comercial servisse para o mesmo propósito.
Em outras palavras, deixem para lá o nacionalismo econômico e toda essa conversa. Se o Sr. Trump efetivamente fizer alguma cosa drástica no comércio, não será guiado por suas teorias econômicas. Será levado por sua naufragante taxa de aprovação.