O falso populismo de Trump, agora exposto
O que vai ser agora dos serviços de saúde? Para ser sincero, eu não faço ideia. A Lei Americana dos Serviços de Saúde é uma verdadeira porcaria, e agora todo mundo sabe disso. Normalmente, isso condenaria a proposta. Mas todo mundo também sabe que começar a era legislativa Trump queimando sua revogação do Obamacare prejudicaria […]
Publicado em 23 de março de 2017 às, 12h37.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h08.
O que vai ser agora dos serviços de saúde? Para ser sincero, eu não faço ideia. A Lei Americana dos Serviços de Saúde é uma verdadeira porcaria, e agora todo mundo sabe disso. Normalmente, isso condenaria a proposta.
Mas todo mundo também sabe que começar a era legislativa Trump queimando sua revogação do Obamacare prejudicaria profundamente o presidente. Ninguém acredita no que o Sr. Trump diz, mas se ele não puder sequer forçar o Congresso a aprovar leis, as pessoas vão parar de ter medo. Ou seja, seu governo vai fazer tudo o que for necessário.
Por que os republicanos estão tendo tantos problemas? A reforma da saúde é difícil; mas por que os democratas conseguiram aprovar a Lei dos Serviços de Saúde Acessíveis, para começo de conversa? Eu tenho escutado um bocado de comentários sobre a inadequação do presidente da Câmara, Paul Ryan, e a falta de preparo dos republicanos na comparação com a ex-presidente da Casa Nancy Pelosi e com os democratas em 2009, e é tudo verdade. Mas há uma questão mais fundamental: Quem está apanhando?
O Obamacare ajudou uma grande parcela da população às custas de uma minoria pequena e rica: Basicamente, os impostos de 2% da população cobriram um grande número de pessoas.
O Trumpcare reverteria isso, prejudicando bastante gente (muitas das quais votaram no Sr. Trump) para cortar impostos de um punhado de pessoas ricas. Essa é uma diferença que vai além da estratégia política.
Outra maneira de colocar a situação é que o Obamacare era e é uma lei genuinamente populista, ao passo que o Trumpcare é antipopulista. E isso se reflete nas últimas brigas legislativas.
E ainda assim: O Sr. Trump conseguiu, de fato, conquistar os eleitores da classe branca trabalhadora, que pensaram estar elegendo um populista. Os democratas, que fizeram muito por aqueles eleitores, não receberam crédito – os brancos da zona rural em particular, que foram grandes beneficiários do Obamacare, em sua maioria apoiaram o homem que deve destruir seu acesso aos serviços de saúde.
Isso se alinha com um artigo recente importante de Zack Beauchamp no Vox (aqui: bit.ly/2nvY0zI) sobre o surpreendente fracasso da economia de esquerda em, na prática, se contrapor ao populismo de direita. Por quê?
A resposta, presumivelmente, é que aquilo que nós chamamos de populismo é na realidade, em grande parte, uma política de identidade branca, que não pode ser abordada prometendo-se benefícios universais. Entre outras coisas, estes eleitores “populistas” vivem hoje em uma bolha midiática, pegando suas notícias de fontes que atuam de acordo com seus desejos identitário-políticos, o que significa que, mesmo que você ofereça a eles um trato melhor, eles não vão ouvir falar nele ou mesmo acreditar caso alguém conte.
Sem dúvida muitos, se não a maioria, daqueles que conseguiram um convênio médico graças ao Obamacare não fazem ideia de que foi isso o que aconteceu.
Dito isso, tirar os benefícios dessas pessoas provavelmente chamaria a atenção delas, e talvez até mesmo abrisse seus olhos para até que ponto elas estão sofrendo para proporcionar cortes de impostos para os ricos.
Na Europa, os partidos de direita provavelmente não encaram o mesmo dilema; eles estão pregando a social democracia “herrenvolk” – um estado de bem-estar social, mas apenas para as pessoas que se parecem com você. Na América, entretanto, o trumpismo é o falso populismo que apela à identidade branca, mas na verdade serve somente aos plutocratas. Essa contradição fundamental agora está escancarada.