Não é hora de desistir
Qualquer um que se diga contemplativo e desapegado depois da eleição deste mês está ou mentindo ou tem algo muito errado dentro dele (ou dela, mas eu duvido que haja muitas mulheres nesta situação). É um desastre em vários sentidos e o estrago vai ecoar por décadas, se não por gerações. E como qualquer pessoa […]
Da Redação
Publicado em 14 de novembro de 2016 às 12h33.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h31.
Qualquer um que se diga contemplativo e desapegado depois da eleição deste mês está ou mentindo ou tem algo muito errado dentro dele (ou dela, mas eu duvido que haja muitas mulheres nesta situação). É um desastre em vários sentidos e o estrago vai ecoar por décadas, se não por gerações. E como qualquer pessoa do meu lado nesta discussão, eu continuo a sentir ondas de desgosto.
É totalmente natural se envolver em recriminações, algumas das quais certamentes são merecidas. Porém, se um post-mortem se fará necessário, revidar não parece muito útil – ou mesmo bom para os próprios envolvidos no revide.
Eventualmente aqueles de nós na centro-esquerda teremos de discutir estratégia política. Por ora, entretanto, eu quero compartilhar alguns pensamentos sobre como nós devemos lidar pessoalmente com isso.
Primeiramente, é sempre importante lembrar que as eleições determinam quem tem o poder, não quem tem a verdade. Os incomodados deslumbrados não significam que a direita alternativa está certa em enxergar não-brancos como inferiores ou achar que a economia do vodu funciona. E você precisa se apegar à verdade do melhor jeito possível, mesmo que ela sofra uma derrota política.
Dito isso, faz sentido em um nível pessoal continuar a lutar após este tipo de pancada? Por que não desistir de tentar salvar o mundo e simplesmente cuidar de si mesmo e daqueles próximos a você? O quietismo tem seu charme. Uma confissão: eu passei a maior parte do dia seguinte à eleição ouvindo música, malhando, lendo um livro – basicamente tirando férias na minha cabeça. É inevitável se sentir cansado e frustrado depois deste tipo de retrocesso.
Mas uma hora você tem de voltar a defender aquilo em que acredita. Vai ser um trajeto muito mais difícil e longo do que eu imaginava, e talvez acabe em uma derrota irreversível, no mínimo no quesito mudanças climáticas fora de controle. Mas eu não conseguiria viver comigo mesmo se eu simplesmente desistisse. E espero que outros pensem da mesma maneira.
O que incomoda tanto a mim e a outras pessoas sobre a eleição de Donad Trump para presidente não é só o estrago imenso que ele certamente causará, acima de tudo na política climática. Há ainda um desencanto grande que eu encaro como o fim da visão romântica da América (que eu ainda amo).
Estou me referindo à ideia da história americana como uma espécie de novela em que pode acontecer uma grande tragédia, mas sempre há um final feliz. Isto é, nós contamos a história de como durante tempos de crise nós sempre encontramos um líder – Abraham Lincoln, Franklin D. Roosevelt – e a coragem moral de que precisávamos.
É um tipo particular de exceção americana. Outros países não contam esse tipo de história a respeito deles mesmos. Mas eu, como outros, acreditei nela.
Agora ela não parece tão boa, não é? Mas desistir não é uma escolha. O mundo precisa de uma América decente e democrática, ou nós todos estamos perdidos. E ainda há bastante decência no país – ela só não é tão predominante quanto eu imaginava. É hora de repensar, sem dúvida – mas não de desistir.
Qualquer um que se diga contemplativo e desapegado depois da eleição deste mês está ou mentindo ou tem algo muito errado dentro dele (ou dela, mas eu duvido que haja muitas mulheres nesta situação). É um desastre em vários sentidos e o estrago vai ecoar por décadas, se não por gerações. E como qualquer pessoa do meu lado nesta discussão, eu continuo a sentir ondas de desgosto.
É totalmente natural se envolver em recriminações, algumas das quais certamentes são merecidas. Porém, se um post-mortem se fará necessário, revidar não parece muito útil – ou mesmo bom para os próprios envolvidos no revide.
Eventualmente aqueles de nós na centro-esquerda teremos de discutir estratégia política. Por ora, entretanto, eu quero compartilhar alguns pensamentos sobre como nós devemos lidar pessoalmente com isso.
Primeiramente, é sempre importante lembrar que as eleições determinam quem tem o poder, não quem tem a verdade. Os incomodados deslumbrados não significam que a direita alternativa está certa em enxergar não-brancos como inferiores ou achar que a economia do vodu funciona. E você precisa se apegar à verdade do melhor jeito possível, mesmo que ela sofra uma derrota política.
Dito isso, faz sentido em um nível pessoal continuar a lutar após este tipo de pancada? Por que não desistir de tentar salvar o mundo e simplesmente cuidar de si mesmo e daqueles próximos a você? O quietismo tem seu charme. Uma confissão: eu passei a maior parte do dia seguinte à eleição ouvindo música, malhando, lendo um livro – basicamente tirando férias na minha cabeça. É inevitável se sentir cansado e frustrado depois deste tipo de retrocesso.
Mas uma hora você tem de voltar a defender aquilo em que acredita. Vai ser um trajeto muito mais difícil e longo do que eu imaginava, e talvez acabe em uma derrota irreversível, no mínimo no quesito mudanças climáticas fora de controle. Mas eu não conseguiria viver comigo mesmo se eu simplesmente desistisse. E espero que outros pensem da mesma maneira.
O que incomoda tanto a mim e a outras pessoas sobre a eleição de Donad Trump para presidente não é só o estrago imenso que ele certamente causará, acima de tudo na política climática. Há ainda um desencanto grande que eu encaro como o fim da visão romântica da América (que eu ainda amo).
Estou me referindo à ideia da história americana como uma espécie de novela em que pode acontecer uma grande tragédia, mas sempre há um final feliz. Isto é, nós contamos a história de como durante tempos de crise nós sempre encontramos um líder – Abraham Lincoln, Franklin D. Roosevelt – e a coragem moral de que precisávamos.
É um tipo particular de exceção americana. Outros países não contam esse tipo de história a respeito deles mesmos. Mas eu, como outros, acreditei nela.
Agora ela não parece tão boa, não é? Mas desistir não é uma escolha. O mundo precisa de uma América decente e democrática, ou nós todos estamos perdidos. E ainda há bastante decência no país – ela só não é tão predominante quanto eu imaginava. É hora de repensar, sem dúvida – mas não de desistir.