Não deixe te enganarem: a mudança climática chegou
Paul Krugman falou recentemente com Susan Lehman, apresentadora do podcast Inside the New York Times. O que se segue é uma transcrição editada da conversa entre os dois, que foi ao ar com o título “Bom, mau e louco: Paul Krugman sobre as notícias”. Susan Lehman: Olá, Paul. Paul Krugman: Oi. SL: O que o […]
Publicado em 13 de setembro de 2016 às, 19h25.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h46.
Paul Krugman falou recentemente com Susan Lehman, apresentadora do podcast Inside the New York Times. O que se segue é uma transcrição editada da conversa entre os dois, que foi ao ar com o título “Bom, mau e louco: Paul Krugman sobre as notícias”.
Susan Lehman: Olá, Paul.
Paul Krugman: Oi.
SL: O que o está deixando louco hoje?
PK: Não estou louco com [Donald] Trump. Não estou sequer incomodado com Roger Ailes. É quem essas pessoas são — é o que elas são. Seria a mesma coisa que ficar bravo com um vírus por ele ser contagioso. Fico enfurecido com gente que continua a tentar criar uma falsa equivalência, dizendo: “Ah, sim, mas as pessoas não confiam em Hillary; ela não é apreciável; e quanto àqueles e-mails?” Já está mais do que na hora de deixarmos de nos distrair por coisas que não são realmente importantes.
SL: Ok. Então o que é importante?
PK: O que é importante, antes de mais nada, é como vamos sobreviver a este ano e como foi que chegamos até aqui.
SL: Eu vi que você levou a culpa por isso recentemente no [site] The Daily Beast. Você foi apontado como a causa de haver Donald Trump.
PK: Sim, isso foi bem engraçado. O que disseram foi que, já que eu afirmei que Mitt Romney era desonesto, isso não me habilita efetivamente a dizer que Trump é muito, muito desonesto. Isso é hilariante de muitas maneiras. Digo, a ideia de que o Partido Republicando depende dos colunistas liberais do New York Times para impedir os charlatões de dominarem tudo — caras, vocês têm um sistema imunológico um tanto fraco se for isso. Enfim, a história é essa. Só que a história deveria ser: como chegamos a uma situação em que um dos dois principais partidos é capaz de descarrilar nessa direção? E acho que essa é uma história que tem raízes mais profundas. Não acho que Trump seja um acidente. Então, em vez de tentar abordar essa situação, o que se vê são algumas pessoas dizendo: “Ah, sim, tudo porque Krugman foi muito maldoso com Mitt Romney”. Coisa que eu não fui — eu fui um pouco sórdido com ele, mas ele mereceu isso.
SL: Muito bem. Incêndio na Califórnia, enchente na Louisiana, mais ratos em Nova York — qual foi a pior notícia que você leu?
PK: A situação do clima. Eu sei que os climatologistas ainda não estão prontos para dizer, mas me parece que a situação é ainda pior do que se fala nas principais previsões, e isso é bastante assustador. Um desastre climático não acontece num lugar onde haja um evento totalmente inédito, e esse é um sinal de que a mudança [climática] está acontecendo. Está ocorrendo uma série de eventos que deveriam ser realmente esquisitos — como inundações de 500 anos —, mas que estão acontecendo todo ano. E é isso que presenciamos neste momento.
SL: Apesar disso, é muito mais fácil levar algo assim a sério quando você está sufocando ou nadando até seu carro do que quando está só lendo sobre isso.
PK: E você sabe que vai haver uma semana fria no inverno e que alguém vai atirar uma bola de neve e dizer: “A-ha! O aquecimento global é um mito — veja, há neve!” Não é assim que a coisa funciona, mas eles têm remoído essa conversa há décadas, e ela continua enganando as pessoas.
SL: Por último, a boa notícia. Acabou o verão — nos deixe com algo bom para pensar a respeito.
PK: Eu olho para a América e vejo que, com certeza, há um segmento nacionalista branco, mas, no geral, nossa sociedade está se virando muito bem. Parece até que politicamente vamos rejeitar todas essas coisas; a criminalidade continua em baixa. Nós estamos ótimos. Continuamos ótimos — e somos, para ir mais direto ao ponto, realmente bons. Hoje, eu estou me sentindo muito bem em relação à América como sociedade.