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Mais timidez na Zona do Euro

Quero chamar a atenção por um momento para um artigo de “consenso” no link VoxEU.org sobre escorar a Zona do Euro, cujo título é “Tornando a Zona do Euro Mais Resiliente: O Que é Preciso Agora e o Que Pode Esperar”. Os autores de fato são os melhores do ramo – economistas que foram guias […]

COMERCIANTE EM ATENAS: a Europa tem uma economia em recessão, e precisa de mais demanda urgentemente / Eirini Vourloumis/The New York Times
COMERCIANTE EM ATENAS: a Europa tem uma economia em recessão, e precisa de mais demanda urgentemente / Eirini Vourloumis/The New York Times
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Paul Krugman

Publicado em 6 de julho de 2016 às, 11h43.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h07.

Quero chamar a atenção por um momento para um artigo de “consenso” no link VoxEU.org sobre escorar a Zona do Euro, cujo título é “Tornando a Zona do Euro Mais Resiliente: O Que é Preciso Agora e o Que Pode Esperar”. Os autores de fato são os melhores do ramo – economistas que foram guias formidáveis durante a crise e, em alguns casos, deram contribuições significativas para resolver ou ao menos administrá-la. De modo que eu gostaria de dizer boas coisas.

Infelizmente, tive a mesma impressão que o economista Brad DeLong ao ler o texto: isso é mesmo tudo que eles podem oferecer? Entendo que, na busca pelo consenso, um economista precisa aparar as partes mais herméticas e politicamente difíceis de suas propostas. Mas, neste caso, a busca por consenso parece ter drenado praticamente toda a substância. Eu nem mesmo tenho certeza do que, no sentido de promover mudanças significativas, o artigo propõe que a Zona do Euro faça de maneira diferente.

Os autores propõem subsídios à liquidez em tempos de crise, e alívio das dívidas se necessário, ao que me parece. Mas isso é uma confusão que a Europa está tentando desfazer. Este grupo de economistas não fala em integração fiscal; eles sequer defendem um sistema europeu de garantias de depósitos. Eu realmente não sei ao certo o que eles propõem, além de uma arrumada no organograma.

Eles sugerem a possibilidade de estagnação por séculos, o que alguns de nós consideram um argumento claro em prol de estímulo fiscal e metas maiores de inflação. Em vez disso, o que eles propõem é… reforma estrutural, o remédio universal das elites.

A única coisa nova de verdade que eu li foi o trecho em que o volume de despesas – e não o déficit – é apontado como o maior problema da Zona do Euro, além de uma proposta de regular gastos. Mas de onde veio isso? Não há relação alguma entre o desempenho econômico durante a crise do euro e o volume de despesas públicas como parte do produto interno bruto – a Áustria tem um governo grande, enquanto a Irlanda e a Espanha são pequenas para os padrões europeus.

E, se não há evidências claras de que o problema são os governos grandes, por que falar em necessidade de redução da soberania nacional no que diz respeito ao tamanho do setor público?

Vamos colocar de outra maneira: De uma perspectiva macroeconômica, a Europa tem uma economia em depressão com uma inflação muito abaixo de uma meta razoável, e que precisa de mais demanda urgentemente. E aqui, nós temos um manifesto falando em governos menores e reforma estrutural.

Os autores não são ideólogos neoliberais. Então, o que aconteceu?

ficha_krugmann

© 2016 The New York Times