Donald Trump está tentando te matar
Ainda que ele seja presidente só por um mandato, Trump terá causado, direta ou indiretamente, as mortes prematuras de um grande número de americanos.
Da Redação
Publicado em 18 de abril de 2019 às 12h49.
Há muitas coisas que não sabemos sobre que legado Donald Trump deixará para trás. E, claro, sem dúvida é de enorme importância o que acontece na eleição de 2020. Mas uma coisa parece certa: Ainda que ele seja presidente só por um mandato, Trump terá causado, direta ou indiretamente, as mortes prematuras de um grande número de americanos.
Algumas dessas mortes virão pelas mãos de extremistas brancos nacionalistas de direita, que são uma ameaça em rápido crescimento, em parte porque se sentem empoderados por um presidente que já os chamou de “muito boa gente”.
Algumas delas virão de fracassos de governança, como a resposta inadequada ao furacão Maria, que certamente contribuiu com a elevada contagem de corpos em Porto Rico. (Lembrando: Porto-riquenhos são cidadãos dos EUA.)
Algumas delas virão das repetidas tentativas de sabotar o Obamacare da parte do governo, que não conseguiu matar a reforma do sistema de saúde pública mas vem barrando temporariamente a queda no número de pessoas sem cobertura médica, o que quer dizer que muitos ainda não estão recebendo o auxílio de que precisam. Sem dúvida, se Trump conseguir o que quer e eliminar de vez o Obamacare, as coisas nesse campo vão ficar muito, muito piores.
Mas provavelmente o maior custo deve vir da pauta de desregulamentação de Trump – ou talvez nós devêssemos chamá-la de “desregulamentação”, porque esse governo é curiosamente seletivo sobre que indústrias quer deixar em paz.
Considerem dois eventos que ajudam a capturar a estranheza fatal do que está acontecendo.
Um deles é o plano do governo para as fábricas suínas assumirem grande parte da responsabilidade federal por inspeções sobre a segurança dos alimentos. E por que não? Não é como se nós tivéssemos visto problemas de segurança surgirem da autorregulação, digamos, da indústria aérea, certo? Ou como se nós já tivéssemos experimentado grandes surtos de doenças causadas por alimentos? Ou como se houvesse um motivo para o governo dos EUA ter intervido para regular os frigoríficos, para começo de conversa?
Alguém poderia encarar a disposição do governo Trump como um voto de confiança na indústria pecuária para manter nossa carne segura como parte de um ataque generalizado à regulamentação estatal, uma disposição em confiar que as empresas lucrativas farão a coisa certa e em deixar o mercado decidir. E isso não está de todo errado. Só não é o que explica a história, como mostra outro evento: A declaração de Trump, feita outro dia, de que turbinas eólicas causam câncer.
Ora, você poderia explicar isso como um caso de desarranjo pessoal: Trump vem demonstrando um ódio irracional da energia eólica desde que fracassou em barrar a construção de uma fazenda de ventos próxima ao campo de golfe dele na Escócia. Além disso, Trump parece insano e irracional em tantas coisas que outra afirmação bizarra dificilmente pareceria fazer alguma diferença.
Só que há mais coisas aí do que o trumpismo de sempre. Afinal, normalmente nós vimos os republicanos de maneira geral, e Trump em particular, como gente que minimiza ou nega as “externalidades negativas” impostas por algumas atividades econômicas – os custos não remunerados que eles impõem a outras pessoas ou empresas.
Por exemplo, o governo Trump quer revogar leis que limitem as emissões de mercúrio das usinas. E, em busca desse objetivo, ele quer impedir a Agência de Proteção Ambiental de contabilizar muitos dos benefícios das emissões reduzidas de mercúrio, como por exemplo uma redução associada do óxido de nitrogênio.
Mas, quando se trata de energia renovável, subitamente Trump e companhia estão muito preocupados com os supostos efeitos colaterais, que geralmente existem só na imaginação deles. No ano passado, o governo ventilou uma proposta que teria obrigado os operadores de matrizes elétricas a subsidiar as energias geradas pelo carvão e a nuclear. A suposta lógica foi que novas fontes ameaçavam desestabilizar essas matrizes, mas os próprios operadores negaram que isso estivesse acontecendo.
Ou seja, alguns têm desregulamentação, mas outros têm alarmes calamitosos sobre ameaças imaginárias. O que está havendo?
Parte da pergunta é: siga o dinheiro. Doações políticas da indústria dos produtores de carne bovina, em sua maioria, favorecem republicanos. A mineração de carvão apóia quase que exclusivamente o Partido Republicano. Energias alternativas, por outro lado, geralmente favorecem os democratas.
E provavelmente há mais coisas. Se você é um partido que deseja voltar até a década de 50 (mas sem o imposto máximo de 91%), você vai ter dificuldade em aceitar a realidade de que coisas ripongas e longe de serem para caras durões, como energia eólica e solar, estão tornando seus custos cada vez mais competitivos.
Qualquer que sejam as motivações da política econômica de Trump, o fato é que, como eu disse, ela vai matar pessoas. Turbinas eólicas não causam câncer, mas usinas de incineração de carvão sim – além de muitos outros problemas de saúde. As próprias estimativas do governo Trump indicam que aliviar as regras de poluição de carvão vão matar mais de mil americanos a cada ano. Se o governo conseguir implementar todos seus interesses – não só a desregulamentação de várias indústrias, mas a discriminação contra as indústrias de que ele não gosta, como a de energia renovável -, o preço vai ser muito maior.
Ou seja, se você come carne – ou mesmo se bebe água ou respira oxigênio, para dizer a verdade -, em um sentido real o presidente Trump está tentando te matar. E mesmo que ele seja tirado do gabinete no ano que vem, para muitos americanos já terá sido tarde.
Há muitas coisas que não sabemos sobre que legado Donald Trump deixará para trás. E, claro, sem dúvida é de enorme importância o que acontece na eleição de 2020. Mas uma coisa parece certa: Ainda que ele seja presidente só por um mandato, Trump terá causado, direta ou indiretamente, as mortes prematuras de um grande número de americanos.
Algumas dessas mortes virão pelas mãos de extremistas brancos nacionalistas de direita, que são uma ameaça em rápido crescimento, em parte porque se sentem empoderados por um presidente que já os chamou de “muito boa gente”.
Algumas delas virão de fracassos de governança, como a resposta inadequada ao furacão Maria, que certamente contribuiu com a elevada contagem de corpos em Porto Rico. (Lembrando: Porto-riquenhos são cidadãos dos EUA.)
Algumas delas virão das repetidas tentativas de sabotar o Obamacare da parte do governo, que não conseguiu matar a reforma do sistema de saúde pública mas vem barrando temporariamente a queda no número de pessoas sem cobertura médica, o que quer dizer que muitos ainda não estão recebendo o auxílio de que precisam. Sem dúvida, se Trump conseguir o que quer e eliminar de vez o Obamacare, as coisas nesse campo vão ficar muito, muito piores.
Mas provavelmente o maior custo deve vir da pauta de desregulamentação de Trump – ou talvez nós devêssemos chamá-la de “desregulamentação”, porque esse governo é curiosamente seletivo sobre que indústrias quer deixar em paz.
Considerem dois eventos que ajudam a capturar a estranheza fatal do que está acontecendo.
Um deles é o plano do governo para as fábricas suínas assumirem grande parte da responsabilidade federal por inspeções sobre a segurança dos alimentos. E por que não? Não é como se nós tivéssemos visto problemas de segurança surgirem da autorregulação, digamos, da indústria aérea, certo? Ou como se nós já tivéssemos experimentado grandes surtos de doenças causadas por alimentos? Ou como se houvesse um motivo para o governo dos EUA ter intervido para regular os frigoríficos, para começo de conversa?
Alguém poderia encarar a disposição do governo Trump como um voto de confiança na indústria pecuária para manter nossa carne segura como parte de um ataque generalizado à regulamentação estatal, uma disposição em confiar que as empresas lucrativas farão a coisa certa e em deixar o mercado decidir. E isso não está de todo errado. Só não é o que explica a história, como mostra outro evento: A declaração de Trump, feita outro dia, de que turbinas eólicas causam câncer.
Ora, você poderia explicar isso como um caso de desarranjo pessoal: Trump vem demonstrando um ódio irracional da energia eólica desde que fracassou em barrar a construção de uma fazenda de ventos próxima ao campo de golfe dele na Escócia. Além disso, Trump parece insano e irracional em tantas coisas que outra afirmação bizarra dificilmente pareceria fazer alguma diferença.
Só que há mais coisas aí do que o trumpismo de sempre. Afinal, normalmente nós vimos os republicanos de maneira geral, e Trump em particular, como gente que minimiza ou nega as “externalidades negativas” impostas por algumas atividades econômicas – os custos não remunerados que eles impõem a outras pessoas ou empresas.
Por exemplo, o governo Trump quer revogar leis que limitem as emissões de mercúrio das usinas. E, em busca desse objetivo, ele quer impedir a Agência de Proteção Ambiental de contabilizar muitos dos benefícios das emissões reduzidas de mercúrio, como por exemplo uma redução associada do óxido de nitrogênio.
Mas, quando se trata de energia renovável, subitamente Trump e companhia estão muito preocupados com os supostos efeitos colaterais, que geralmente existem só na imaginação deles. No ano passado, o governo ventilou uma proposta que teria obrigado os operadores de matrizes elétricas a subsidiar as energias geradas pelo carvão e a nuclear. A suposta lógica foi que novas fontes ameaçavam desestabilizar essas matrizes, mas os próprios operadores negaram que isso estivesse acontecendo.
Ou seja, alguns têm desregulamentação, mas outros têm alarmes calamitosos sobre ameaças imaginárias. O que está havendo?
Parte da pergunta é: siga o dinheiro. Doações políticas da indústria dos produtores de carne bovina, em sua maioria, favorecem republicanos. A mineração de carvão apóia quase que exclusivamente o Partido Republicano. Energias alternativas, por outro lado, geralmente favorecem os democratas.
E provavelmente há mais coisas. Se você é um partido que deseja voltar até a década de 50 (mas sem o imposto máximo de 91%), você vai ter dificuldade em aceitar a realidade de que coisas ripongas e longe de serem para caras durões, como energia eólica e solar, estão tornando seus custos cada vez mais competitivos.
Qualquer que sejam as motivações da política econômica de Trump, o fato é que, como eu disse, ela vai matar pessoas. Turbinas eólicas não causam câncer, mas usinas de incineração de carvão sim – além de muitos outros problemas de saúde. As próprias estimativas do governo Trump indicam que aliviar as regras de poluição de carvão vão matar mais de mil americanos a cada ano. Se o governo conseguir implementar todos seus interesses – não só a desregulamentação de várias indústrias, mas a discriminação contra as indústrias de que ele não gosta, como a de energia renovável -, o preço vai ser muito maior.
Ou seja, se você come carne – ou mesmo se bebe água ou respira oxigênio, para dizer a verdade -, em um sentido real o presidente Trump está tentando te matar. E mesmo que ele seja tirado do gabinete no ano que vem, para muitos americanos já terá sido tarde.