Donald Trump e sua trupe de jumentos
Por que a equipe de Trump não consegue oferecer nem mesmo um populismo barato?
Da Redação
Publicado em 22 de janeiro de 2019 às 17h35.
Tem acontecido vários desastres políticos ao longo da história dos EUA. É difícil, porém, pensar em uma calamidade tão gratuita, em um erro tão desnecessário, quanto o fechamento federal de agora.
Eu sequer consigo pensar em outro desastre tão fortemente pessoal, tão provocado por uma única pessoa. Quando Donald Trump disse ao senador Chuck Schumer e à líder Democrata na Câmara, Nancy Pelosi, “eu vou fechá-lo”, ele estava sendo bastante preciso – embora ele tivesse prometido “não vou culpar vocês por isso”, o que era mentira.
Ainda assim, nenhum homem é uma ilha, por mais que o Sr. Trump chegue mais perto disso que a maioria da população. Você não consegue entender plenamente as presepadas políticas dele sem reconhecer a qualidade extraordinária das pessoas de quem ele se cercou. E por “extraordinária”, é claro que eu quero dizer uma qualidade extraordinariamente baixa. Lincoln tinha uma equipe de adversários; o Sr. Trump tem uma trupe de jumentos.
Se isso soa muito pesado, considere os pronunciamentos econômicos recentes de dois integrantes do governo dele. Previsivelmente, esses pronunciamentos envolvem economia ruim; isso já é esperado. O que é notável, contudo, é a incapacidade destas pessoas de seguir o roteiro; elas sequer conseguem transparecer sua falsidade de direita do jeito certo.
Primeiro há Kevin Hassett, presidente do Conselho de Assessores Econômicos de Trump, quando perguntado sobre o sofrimento dos trabalhadores federais que estão sem receber. Você não precisa ser um especialista em relações públicas para saber que deveria demonstrar alguma simpatia, mesmo que não a sinta. Afinal, há várias matérias em jornais sobre empregados no setor de segurança dos transportes recorrendo a bancos de alimentos, a Guarda Costeira sugerindo a seus funcionários que façam bazares com suas coisas, e por aí vai.
Ou seja, a resposta certa envolve expressar preocupação quanto a esses trabalhadores, mas botar a culpa nos democratas que não querem parar os estupradores de pele escura, ou coisa assim. Mas não: o Sr. Hassett afirmou que está tudo certo, que os trabalhadores na verdade estão “até melhor assim”, porque estão desfrutando de um tempo fora do serviço sem ter de usar seus dias de férias.
Depois, considere o que Sean Hannity tinha a dizer sobre tributar os ricos. Opa, o que você disse? Que o Sr. Hannity não é um integrante do governo Trump? Ok, mas certamente ele o é em todos os sentidos em que isso importa. Na verdade, não só a Fox News é uma TV estatal como seus apresentadores claramente têm mais acesso ao presidente e maior influência nas decisões dele do que qualquer um dos assim denominados especialistas em lugares como os Departamentos de Estado ou da Defesa.
Enfim, o Sr. Hannity afirmou que aumentar os impostos sobre os ricos prejudicaria a economia, já que “as pessoas ricas não comprariam (mais) os barcos de que gostam para fins recreativos”, e que “elas não vão mais tirar férias caras”.
Hum, não é bem a resposta que se espera que um conservador dê. O esperado é que você insista que impostos baixos para os ricos vão dar a eles um incentivo para trabalhar muito, muito duro, e não deixar mais fácil para eles curtir férias extravagantes. O que se espera é que você afirme que impostos menores vão induzi-los a economizar e a gastar dinheiro criando empresas, em vez de ajudá-los a comprar iates novos.
Ainda que a razão verdadeira de você ser a favor de impostos menores seja que eles permitem que seus amigos ricos se envolvam em estilos de vida ainda mais caros, não é esperado que você diga isso em voz alta.
De novo, o ponto não é que as pessoas no círculo do Sr. Trump não ligam para as famílias americanas comuns, além de dizerem absurdos – isso é o mínimo que se espera deles. O que é impressionante é que eles têm tão pouca noção disso que não sabem se fingem se preocupar com a classe média, ou que bizarrice soltam para manter esta farsa.
Sendo assim, o que há de errado com as pessoas de Trump? Por que é que elas não conseguem oferecer nem mesmo um populismo barato?
Me parece que há duas respostas, uma genérica sobre o conservadorismo moderno, e outra específica sobre o Sr. Trump.
Quanto ao ponto genérico: ser um conservador moderno é passar sua vida dentro do equivalente a um culto, muito pouco exposto a ideias externas ou mesmo a outros modos de falar. No interior desse culto, o desprezo pelos americanos trabalhadores ordinários é generalizado; lembram de Eric Cantor, o então líder da maioria na Câmara, comemorando o Dia do Trabalho dando parabéns aos donos de empresas? Assim é que funciona a idolatria à riqueza. E pode ser difícil aos integrantes de um culto lembrar que não é assim que você fala com quem é de fora.
Fora isso, há o Efeito Trump. Normalmente, trabalhar para o presidente dos Estados Unidos é um trampolim na carreira, algo que pega bem no seu currículo. A presidência do Sr. Trump, porém, é tão caótica, corrupta e potencialmente comprometida pelos embaraços dele no exterior que qualquer pessoa associada a ele fica manchada – por isso é que, depois de anos, ele deixou uma trilha de homens destruídos e reputações desgraçadas em seu rastro.
Então, quem está disposto a servi-lo a essa altura do campeonato? Só aqueles com uma reputação a perder, em geral porque são muito ruins no que fazem. Sem dúvida, existem conservadores espertos e auto controlados o bastante para mentir de modo convincente, ou no mínimo negar de modo plausível que tenham interesses, e que conseguem defender o Sr. Trump sem fazerem papel de bobo. Mas essas pessoas têm se escondido.
Há um ano, eu reparei que o governo Trump estava se tornando uma administração dos piores e dos mais tontos. De lá para cá, contudo, as coisas ficaram piores e ainda mais tontas. E nós sequer chegamos ao fundo do poço.
Tem acontecido vários desastres políticos ao longo da história dos EUA. É difícil, porém, pensar em uma calamidade tão gratuita, em um erro tão desnecessário, quanto o fechamento federal de agora.
Eu sequer consigo pensar em outro desastre tão fortemente pessoal, tão provocado por uma única pessoa. Quando Donald Trump disse ao senador Chuck Schumer e à líder Democrata na Câmara, Nancy Pelosi, “eu vou fechá-lo”, ele estava sendo bastante preciso – embora ele tivesse prometido “não vou culpar vocês por isso”, o que era mentira.
Ainda assim, nenhum homem é uma ilha, por mais que o Sr. Trump chegue mais perto disso que a maioria da população. Você não consegue entender plenamente as presepadas políticas dele sem reconhecer a qualidade extraordinária das pessoas de quem ele se cercou. E por “extraordinária”, é claro que eu quero dizer uma qualidade extraordinariamente baixa. Lincoln tinha uma equipe de adversários; o Sr. Trump tem uma trupe de jumentos.
Se isso soa muito pesado, considere os pronunciamentos econômicos recentes de dois integrantes do governo dele. Previsivelmente, esses pronunciamentos envolvem economia ruim; isso já é esperado. O que é notável, contudo, é a incapacidade destas pessoas de seguir o roteiro; elas sequer conseguem transparecer sua falsidade de direita do jeito certo.
Primeiro há Kevin Hassett, presidente do Conselho de Assessores Econômicos de Trump, quando perguntado sobre o sofrimento dos trabalhadores federais que estão sem receber. Você não precisa ser um especialista em relações públicas para saber que deveria demonstrar alguma simpatia, mesmo que não a sinta. Afinal, há várias matérias em jornais sobre empregados no setor de segurança dos transportes recorrendo a bancos de alimentos, a Guarda Costeira sugerindo a seus funcionários que façam bazares com suas coisas, e por aí vai.
Ou seja, a resposta certa envolve expressar preocupação quanto a esses trabalhadores, mas botar a culpa nos democratas que não querem parar os estupradores de pele escura, ou coisa assim. Mas não: o Sr. Hassett afirmou que está tudo certo, que os trabalhadores na verdade estão “até melhor assim”, porque estão desfrutando de um tempo fora do serviço sem ter de usar seus dias de férias.
Depois, considere o que Sean Hannity tinha a dizer sobre tributar os ricos. Opa, o que você disse? Que o Sr. Hannity não é um integrante do governo Trump? Ok, mas certamente ele o é em todos os sentidos em que isso importa. Na verdade, não só a Fox News é uma TV estatal como seus apresentadores claramente têm mais acesso ao presidente e maior influência nas decisões dele do que qualquer um dos assim denominados especialistas em lugares como os Departamentos de Estado ou da Defesa.
Enfim, o Sr. Hannity afirmou que aumentar os impostos sobre os ricos prejudicaria a economia, já que “as pessoas ricas não comprariam (mais) os barcos de que gostam para fins recreativos”, e que “elas não vão mais tirar férias caras”.
Hum, não é bem a resposta que se espera que um conservador dê. O esperado é que você insista que impostos baixos para os ricos vão dar a eles um incentivo para trabalhar muito, muito duro, e não deixar mais fácil para eles curtir férias extravagantes. O que se espera é que você afirme que impostos menores vão induzi-los a economizar e a gastar dinheiro criando empresas, em vez de ajudá-los a comprar iates novos.
Ainda que a razão verdadeira de você ser a favor de impostos menores seja que eles permitem que seus amigos ricos se envolvam em estilos de vida ainda mais caros, não é esperado que você diga isso em voz alta.
De novo, o ponto não é que as pessoas no círculo do Sr. Trump não ligam para as famílias americanas comuns, além de dizerem absurdos – isso é o mínimo que se espera deles. O que é impressionante é que eles têm tão pouca noção disso que não sabem se fingem se preocupar com a classe média, ou que bizarrice soltam para manter esta farsa.
Sendo assim, o que há de errado com as pessoas de Trump? Por que é que elas não conseguem oferecer nem mesmo um populismo barato?
Me parece que há duas respostas, uma genérica sobre o conservadorismo moderno, e outra específica sobre o Sr. Trump.
Quanto ao ponto genérico: ser um conservador moderno é passar sua vida dentro do equivalente a um culto, muito pouco exposto a ideias externas ou mesmo a outros modos de falar. No interior desse culto, o desprezo pelos americanos trabalhadores ordinários é generalizado; lembram de Eric Cantor, o então líder da maioria na Câmara, comemorando o Dia do Trabalho dando parabéns aos donos de empresas? Assim é que funciona a idolatria à riqueza. E pode ser difícil aos integrantes de um culto lembrar que não é assim que você fala com quem é de fora.
Fora isso, há o Efeito Trump. Normalmente, trabalhar para o presidente dos Estados Unidos é um trampolim na carreira, algo que pega bem no seu currículo. A presidência do Sr. Trump, porém, é tão caótica, corrupta e potencialmente comprometida pelos embaraços dele no exterior que qualquer pessoa associada a ele fica manchada – por isso é que, depois de anos, ele deixou uma trilha de homens destruídos e reputações desgraçadas em seu rastro.
Então, quem está disposto a servi-lo a essa altura do campeonato? Só aqueles com uma reputação a perder, em geral porque são muito ruins no que fazem. Sem dúvida, existem conservadores espertos e auto controlados o bastante para mentir de modo convincente, ou no mínimo negar de modo plausível que tenham interesses, e que conseguem defender o Sr. Trump sem fazerem papel de bobo. Mas essas pessoas têm se escondido.
Há um ano, eu reparei que o governo Trump estava se tornando uma administração dos piores e dos mais tontos. De lá para cá, contudo, as coisas ficaram piores e ainda mais tontas. E nós sequer chegamos ao fundo do poço.