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Críticos do déficit distraem dos verdadeiros problemas

Houve um tempo, não muito atrás, quando os críticos do déficit eram de fato perigosos – quando seus acessos de fúria chegaram muito perto de fazer Washington debandar na direção de políticas realmente ruins, como aumentar a idade eletiva do Medicare (o que sequer teria poupado dinheiro) e instituir uma austeridade fiscal de longo prazo. […]

APOSENTADOS: os críticos do déficit falam como se eles oferecessem um jeito de evitar o destino / Matt King/ Reuters
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Da Redação

Publicado em 1 de novembro de 2016 às 11h34.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h48.

Houve um tempo, não muito atrás, quando os críticos do déficit eram de fato perigosos – quando seus acessos de fúria chegaram muito perto de fazer Washington debandar na direção de políticas realmente ruins, como aumentar a idade eletiva do Medicare (o que sequer teria poupado dinheiro) e instituir uma austeridade fiscal de longo prazo.

Hoje, a influência deles nem chega tão longe, mas eles continuam a desempenhar um papel nefasto em nosso debate nacional porque desviam e distraem a atenção de problemas muito mais importantes, além de deixarem sem oxigênio político temas que são cruciais.

Nós vimos isso nos recentes debates presidenciais: quatro, podem contar, quatro perguntas sobre a dívida da Comissão por um Orçamento Federal Responsável, e nem uma sobre mudanças climáticas. E vocês viram isso de novo nas páginas de opinião do The New York Times, com Pete Peterson (é claro) e Paul Volcker (*suspiro*) nos dando sermões sobre as coisas de sempre. (Leia o último artigo do economista aqui: nyti.ms/2ev9Xmz.)

O que é tão ruim sobre esse tipo de aversão ao déficit? Ela é um tanto enganosa em dois sentidos: O problema que um repúdio destes pretende expor é menos uma complicação do que estes críticos dizem, e a insistência deles de que nós precisamos agir imediatamente é incoerente.

Ou seja, no que diz respeito à suposta crise da dívida nos Estados Unidos: Neste momento nós temos uma taxa menos estável da dívida em relação ao produto interno bruto, e nem sombra de um problema de financiamento. Declarações de que estamos nos deparando com algo terrível partem do princípio de que a situação orçamentária vai piorar dramaticamente com o tempo. Quão seguros nós estamos disso? Menos do que vocês poderiam imaginar.

Sim, a população está envelhecendo, o que quer dizer que haverá mais gastos com o Medicare e a Previdência Social. Mas já é 2016, o que significa que um punhado de baby boomers já está recorrendo a esses programas; em 2020 nós já estaremos na metade da transição demográfica, e as projeções atuais não falam em um problema orçamentário grande.

Por que, então, vocês ouvem falar em projeções de um grande aumento da dívida? A resposta não está em um fator conhecido – uma população envelhecida – mas em um presumido crescimento nos custos de saúde e taxas de juro crescentes. E a verdade é que nós não sabemos se essas coisas vão acontecer.

Na verdade, os gastos com saúde aumentaram muito mais lentamente desde 2010 do que se previu anteriormente, e as taxas de juros ficaram bem mais baixas. Levar essas surpresas positivas em consideração diminuiu drasticamente as projeções de dívida no longo prazo. Nos dias de hoje, o cenário no longo prazo parece bem menos assustador do que as pessoas imaginaram em algum momento.

Ainda assim, é provavelmente verdade que algo eventualmente precisa ser feito para colocar o gasto e as receitas na linha. Mas isso me traz ao meu segundo ponto: Por que isso é uma questão crucial justo agora?

Os críticos do déficit estão exigindo que nós cortemos gastos e aumentemos impostos imediatamente?

Na verdade, não: A economia ainda está fraca, as taxas de juros continuam baixas e, como medida de prudência macroeconômica, nós provavelmente devaríamos ter déficits maiores, e não menores, no médio prazo. Ou seja, propostas que “cuidam” do suposto problema da dívida sempre envolvem cortes no longo prazo de benefícios e (com relutância) aumentos de impostos. Isto é, eles não envolvem movimentações de políticas agora, nem pelos próximos cinco a 10 anos.

Sendo assim, por que é tão importante cuidar deste tema já, com tantas outras coisas para resolvermos?

Encare desta maneira: Sim, é possível que nós tenhamos de cortar benefícios em algum momento no futuro. Mas os críticos do déficit falam como se eles oferecessem um jeito de evitar este destino, quando na verdade a solução proposta por eles para um cenário de futuros cortes de benefícios é… cortar os benefícios futuros.

Se você se esforçar muito, pode argumentar que garantir agora políticas para este ajuste futuro tornará a transição mais tranquila. Mas isso é efetivamente um problema para um segundo momento, que dificilmente merece que levemos muito tempo considerando agora. Ao colocar a questão da dívida de lado, nós NÃO estamos de nenhum modo concreto piorando o futuro.

E isso é algo que contrasta totalmente com as mudanças climáticas, em que nosso fracasso em agir se traduz em lançar quantidades imensas de gases do efeito estufa na atmosfera, aumentando consideravelmente as chances de uma catástrofe a cada ano que ficamos esperando.

Logo, meu recado aos críticos do déficit é este: Sim, nós poderemos lidar com escolhas difíceis daqui a algumas décadas. Mas talvez isso não aconteça, e de qualquer modo não há muitas escolhas a se fazer agora. Enquanto isso, existem coisas genuinamente assustadoras acontecendo enquanto discutimos, que nós deveríamos tratar mas não estamos. E a campanha de medo de vocês está nos distraindo dos verdadeiros problemas.

Portanto, eu pediria encarecidamente que vocês simplesmente sumam.

ficha_krugmann

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Houve um tempo, não muito atrás, quando os críticos do déficit eram de fato perigosos – quando seus acessos de fúria chegaram muito perto de fazer Washington debandar na direção de políticas realmente ruins, como aumentar a idade eletiva do Medicare (o que sequer teria poupado dinheiro) e instituir uma austeridade fiscal de longo prazo.

Hoje, a influência deles nem chega tão longe, mas eles continuam a desempenhar um papel nefasto em nosso debate nacional porque desviam e distraem a atenção de problemas muito mais importantes, além de deixarem sem oxigênio político temas que são cruciais.

Nós vimos isso nos recentes debates presidenciais: quatro, podem contar, quatro perguntas sobre a dívida da Comissão por um Orçamento Federal Responsável, e nem uma sobre mudanças climáticas. E vocês viram isso de novo nas páginas de opinião do The New York Times, com Pete Peterson (é claro) e Paul Volcker (*suspiro*) nos dando sermões sobre as coisas de sempre. (Leia o último artigo do economista aqui: nyti.ms/2ev9Xmz.)

O que é tão ruim sobre esse tipo de aversão ao déficit? Ela é um tanto enganosa em dois sentidos: O problema que um repúdio destes pretende expor é menos uma complicação do que estes críticos dizem, e a insistência deles de que nós precisamos agir imediatamente é incoerente.

Ou seja, no que diz respeito à suposta crise da dívida nos Estados Unidos: Neste momento nós temos uma taxa menos estável da dívida em relação ao produto interno bruto, e nem sombra de um problema de financiamento. Declarações de que estamos nos deparando com algo terrível partem do princípio de que a situação orçamentária vai piorar dramaticamente com o tempo. Quão seguros nós estamos disso? Menos do que vocês poderiam imaginar.

Sim, a população está envelhecendo, o que quer dizer que haverá mais gastos com o Medicare e a Previdência Social. Mas já é 2016, o que significa que um punhado de baby boomers já está recorrendo a esses programas; em 2020 nós já estaremos na metade da transição demográfica, e as projeções atuais não falam em um problema orçamentário grande.

Por que, então, vocês ouvem falar em projeções de um grande aumento da dívida? A resposta não está em um fator conhecido – uma população envelhecida – mas em um presumido crescimento nos custos de saúde e taxas de juro crescentes. E a verdade é que nós não sabemos se essas coisas vão acontecer.

Na verdade, os gastos com saúde aumentaram muito mais lentamente desde 2010 do que se previu anteriormente, e as taxas de juros ficaram bem mais baixas. Levar essas surpresas positivas em consideração diminuiu drasticamente as projeções de dívida no longo prazo. Nos dias de hoje, o cenário no longo prazo parece bem menos assustador do que as pessoas imaginaram em algum momento.

Ainda assim, é provavelmente verdade que algo eventualmente precisa ser feito para colocar o gasto e as receitas na linha. Mas isso me traz ao meu segundo ponto: Por que isso é uma questão crucial justo agora?

Os críticos do déficit estão exigindo que nós cortemos gastos e aumentemos impostos imediatamente?

Na verdade, não: A economia ainda está fraca, as taxas de juros continuam baixas e, como medida de prudência macroeconômica, nós provavelmente devaríamos ter déficits maiores, e não menores, no médio prazo. Ou seja, propostas que “cuidam” do suposto problema da dívida sempre envolvem cortes no longo prazo de benefícios e (com relutância) aumentos de impostos. Isto é, eles não envolvem movimentações de políticas agora, nem pelos próximos cinco a 10 anos.

Sendo assim, por que é tão importante cuidar deste tema já, com tantas outras coisas para resolvermos?

Encare desta maneira: Sim, é possível que nós tenhamos de cortar benefícios em algum momento no futuro. Mas os críticos do déficit falam como se eles oferecessem um jeito de evitar este destino, quando na verdade a solução proposta por eles para um cenário de futuros cortes de benefícios é… cortar os benefícios futuros.

Se você se esforçar muito, pode argumentar que garantir agora políticas para este ajuste futuro tornará a transição mais tranquila. Mas isso é efetivamente um problema para um segundo momento, que dificilmente merece que levemos muito tempo considerando agora. Ao colocar a questão da dívida de lado, nós NÃO estamos de nenhum modo concreto piorando o futuro.

E isso é algo que contrasta totalmente com as mudanças climáticas, em que nosso fracasso em agir se traduz em lançar quantidades imensas de gases do efeito estufa na atmosfera, aumentando consideravelmente as chances de uma catástrofe a cada ano que ficamos esperando.

Logo, meu recado aos críticos do déficit é este: Sim, nós poderemos lidar com escolhas difíceis daqui a algumas décadas. Mas talvez isso não aconteça, e de qualquer modo não há muitas escolhas a se fazer agora. Enquanto isso, existem coisas genuinamente assustadoras acontecendo enquanto discutimos, que nós deveríamos tratar mas não estamos. E a campanha de medo de vocês está nos distraindo dos verdadeiros problemas.

Portanto, eu pediria encarecidamente que vocês simplesmente sumam.

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