Correndo em direção ao desastre
Saiu o relatório do Departamento Orçamentário do Congresso sobre o “Trumpcare”, e é devastador: 14 milhões de pessoas perdendo o convênio médico no primeiro ano e 24 milhões ao longo do tempo, com os prêmios disparando para os americanos mais velhos e de menor renda – em muitos casos, as mesmas pessoas que apoiaram fortemente […]
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2017 às 13h45.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h11.
Saiu o relatório do Departamento Orçamentário do Congresso sobre o “Trumpcare”, e é devastador: 14 milhões de pessoas perdendo o convênio médico no primeiro ano e 24 milhões ao longo do tempo, com os prêmios disparando para os americanos mais velhos e de menor renda – em muitos casos, as mesmas pessoas que apoiaram fortemente o presidente Trump.
O D.O.C. considera que o Trumpcare poderia reduzir o déficit, mas apenas marginalmente, em cerca de US$ 30 bilhões por ano em uma economia de US$ 19 trilhões.
Permitam-me oferecer uma afirmação e fazer duas perguntas.
A afirmação é que era de se esperar algo assim. O relatório do D.O.C. foi muito pior no quesito cobertura do que a maioria previu, mas era óbvio que a notícia seria terrível porque era o que a lógica da situação nos dizia. O Obamacare impôs um mandato para induzir pessoas saudáveis a se inscrever, oferece subsídios baseados em verificação de renda para tornar o seguro acessível e expandir o Medicaid (plano de saúde do governo voltado à população pobre) para cuidar das pessoas com rendas realmente baixas. O Trumpcare elimina o mandato, corta completamente subsídios e os redireciona àqueles que não precisam deles, além de reduzir drasticamente o Medicaid.
Claro que isso leva a uma enorme queda na cobertura.
Ou, para dizê-lo de outra maneira, o Obamacare é um sistema inteligentemente desenhado, e as alegações dos republicanos de que eles poderiam fazer algo muito melhor mesmo cortando financiamentos de maneira que eles pudessem cortar impostos dos mais ricos sempre foram disparates óbvios. O Trumpcare é um texto legislativo negligente e incompetente; mas nem mesmo um grupo muito mais competente de pessoas conseguiria fazer melhor, dadas as restrições de ideologia do partido republicano.
Agora, minhas perguntas: Primeiro, essa legislação ainda pode ser aprovada pelo Congresso?
Eu aprendi a nunca subestimar a avidez dos “moderados” republicanos, que podem fazer um jogo de cena para o centro mas quase sempre se rendem à direita dura no que importa. Mas, mesmo assim, é difícil imaginar esse ato de crueldade recebendo os votos de 50 senadores. E se ele não puder passar no Senado, será que os puristas da direita na Câmara dos Deputados não vão optar por fazer propaganda de sua pureza votando contra uma lei que ainda passa longe dos ideais de livre mercado em vez de votar no Obamacare 0,5?
Segundo, o que as lideranças republicanas estavam pensando? Um resultado como essa definição do D.O.C. era uma conclusão imaginada; teria feito mesmo tanta diferença se fossem 15 milhões sem cobertura, e não 24 milhões? Como se imaginou que isso funcionaria politicamente?
De novo, eu não descartaria a possibilidade de que essa lei vá ser empurrada goela abaixo de qualquer jeito, com as análises orçamentárias relegadas à condição de fake news. Os democratas devem até mesmo esperar que isso aconteça, para que não haja dúvida sobre quem culpar caso os seguros acabem falindo.
Mas a maneira cretina como os republicanos se precipitaram na direção desse desastre ainda é impressionante.
Saiu o relatório do Departamento Orçamentário do Congresso sobre o “Trumpcare”, e é devastador: 14 milhões de pessoas perdendo o convênio médico no primeiro ano e 24 milhões ao longo do tempo, com os prêmios disparando para os americanos mais velhos e de menor renda – em muitos casos, as mesmas pessoas que apoiaram fortemente o presidente Trump.
O D.O.C. considera que o Trumpcare poderia reduzir o déficit, mas apenas marginalmente, em cerca de US$ 30 bilhões por ano em uma economia de US$ 19 trilhões.
Permitam-me oferecer uma afirmação e fazer duas perguntas.
A afirmação é que era de se esperar algo assim. O relatório do D.O.C. foi muito pior no quesito cobertura do que a maioria previu, mas era óbvio que a notícia seria terrível porque era o que a lógica da situação nos dizia. O Obamacare impôs um mandato para induzir pessoas saudáveis a se inscrever, oferece subsídios baseados em verificação de renda para tornar o seguro acessível e expandir o Medicaid (plano de saúde do governo voltado à população pobre) para cuidar das pessoas com rendas realmente baixas. O Trumpcare elimina o mandato, corta completamente subsídios e os redireciona àqueles que não precisam deles, além de reduzir drasticamente o Medicaid.
Claro que isso leva a uma enorme queda na cobertura.
Ou, para dizê-lo de outra maneira, o Obamacare é um sistema inteligentemente desenhado, e as alegações dos republicanos de que eles poderiam fazer algo muito melhor mesmo cortando financiamentos de maneira que eles pudessem cortar impostos dos mais ricos sempre foram disparates óbvios. O Trumpcare é um texto legislativo negligente e incompetente; mas nem mesmo um grupo muito mais competente de pessoas conseguiria fazer melhor, dadas as restrições de ideologia do partido republicano.
Agora, minhas perguntas: Primeiro, essa legislação ainda pode ser aprovada pelo Congresso?
Eu aprendi a nunca subestimar a avidez dos “moderados” republicanos, que podem fazer um jogo de cena para o centro mas quase sempre se rendem à direita dura no que importa. Mas, mesmo assim, é difícil imaginar esse ato de crueldade recebendo os votos de 50 senadores. E se ele não puder passar no Senado, será que os puristas da direita na Câmara dos Deputados não vão optar por fazer propaganda de sua pureza votando contra uma lei que ainda passa longe dos ideais de livre mercado em vez de votar no Obamacare 0,5?
Segundo, o que as lideranças republicanas estavam pensando? Um resultado como essa definição do D.O.C. era uma conclusão imaginada; teria feito mesmo tanta diferença se fossem 15 milhões sem cobertura, e não 24 milhões? Como se imaginou que isso funcionaria politicamente?
De novo, eu não descartaria a possibilidade de que essa lei vá ser empurrada goela abaixo de qualquer jeito, com as análises orçamentárias relegadas à condição de fake news. Os democratas devem até mesmo esperar que isso aconteça, para que não haja dúvida sobre quem culpar caso os seguros acabem falindo.
Mas a maneira cretina como os republicanos se precipitaram na direção desse desastre ainda é impressionante.