Conservadores errados do jeito certo
Tanto Ross Douthat quanto David Brooks comentaram recentemente a situação dos intelectuais conservadores em suas colunas no New York Times. Os dois merecem o crédito por adotarem um olhar crítico sobre seu grupo. Mas eu argumentaria que o Sr. Douthat, o Sr. Brooks e outros na direita ainda têm grandes pontos cegos. Na verdade, esses […]
Da Redação
Publicado em 9 de novembro de 2016 às 10h13.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h39.
Tanto Ross Douthat quanto David Brooks comentaram recentemente a situação dos intelectuais conservadores em suas colunas no New York Times. Os dois merecem o crédito por adotarem um olhar crítico sobre seu grupo.
Mas eu argumentaria que o Sr. Douthat, o Sr. Brooks e outros na direita ainda têm grandes pontos cegos. Na verdade, esses pontos cegos são grandes o suficiente para tornarem as críticas praticamente inúteis como ponto de partida para reformas. Porque se você ignorar as raízes reais e profundas da implosão intelectual conservadora, nunca vai começar uma reconstrução de verdade.
Quais são esses pontos cegos? Em primeiro lugar, há a crença em uma era de ouro que nunca existiu e, segundo, uma recusa estranha em reconhecer o enorme papel que o dinheiro e os incentivos monetários tiveram em promover ideias ruins.
Sobre o primeiro ponto: Nós deveríamos lembrar nostalgicamente de uma era em que intelectuais conservadores sérios como Irving Kristol tentaram entender o mundo em lugar de tratar tudo como um exercício político em que as ideias estavam lá somente para ajudar o time deles a ganhar.
Mas nunca foi assim. E não acredite em mim: vá pelo que o próprio Sr. Kristol disse. Em seu livro “Neoconservatism: The Autobiography of an Idea” (Neoconservadorismo: A Autobiografia de uma Ideia, em tradução livre), ele explicou por que adotou a economia do lado de oferta: “Eu não tinha certeza de seus méritos econômicos, mas enxerguei rapidamente suas possibilidades políticas.” Isto justificou uma “atitude cavaleiresca quanto ao déficit orçamentário e outros problemas monetários ou financeiros”, porque “a eficiência política era a prioridade, não as deficiências contábeis do governo.”
Em suma, não fique preocupado se isso está certo, desde que seja politicamente útil. Quando o Sr. Brooks reclama em seu artigo (aqui: nyti.ms/2dSrGC4) que “os conservadores sabe-tudo começaram a valorizar a política acima de tudo”, ele está descrevendo algo que aconteceu muito antes do governo Reagan.
Contudo, não deveria haver alguns testes de realidade ao longo do caminho, com as ideias politicamente convenientes caindo em desuso porque não funcionaram na prática? Não – porque estar errado do jeito certo sempre foi uma atividade financeiramente segura. Eu vejo isso claramente na economia, em que há três tipos de economistas: os economistas profissionais liberais, os economistas profissionais conservadores e os economistas conservadores profissionais – a quarta caixa está mais ou menos vazia, porque os bilionários não apoiam de modo extravagante trambiqueiros de esquerda.
Como você pode sequer começar a falar de intelectuais conservadores sem discutir a Heritage Foundation, que começou em 1973, ou a mais ou menos recente armamentização do American Enterprise Institute como uma entidade política? A Heritage Foundation, em particular, é flagrantemente incompetente quando se trata de economia. Mas não importa: Ela tem bastante dinheiro, porque apoia grandes cortes de impostos para os ricos, e a cobrança por isso nunca deixa de existir.
Lembre-se, também, que a negação das mudanças climáticas é essencialmente uma indústria, financiada por grupos interessados em questões que promovem a ciência ruim. E isso quer dizer que há mercado para “intelectuais” conservadores que são basicamente anticiência.
O ponto é que o lado intelectual do conservadorismo de movimentos tem sido uma iniciativa corrupta há quase quatro décadas. Em seus primeiros anos ele podia recorrer aos intelectuais de direita que tinham alguma reputação anterior além do trabalho político, mas preferiu recorrer aos trambiqueiros residentes durante um bom tempo. Não vejo nenhum motivo para acreditar que uma iniciativa assim está prestes a se reestruturar: Se só estar errado e perder uma eleição fossem o suficiente, isso teria acontecido na década de 90.
Tanto Ross Douthat quanto David Brooks comentaram recentemente a situação dos intelectuais conservadores em suas colunas no New York Times. Os dois merecem o crédito por adotarem um olhar crítico sobre seu grupo.
Mas eu argumentaria que o Sr. Douthat, o Sr. Brooks e outros na direita ainda têm grandes pontos cegos. Na verdade, esses pontos cegos são grandes o suficiente para tornarem as críticas praticamente inúteis como ponto de partida para reformas. Porque se você ignorar as raízes reais e profundas da implosão intelectual conservadora, nunca vai começar uma reconstrução de verdade.
Quais são esses pontos cegos? Em primeiro lugar, há a crença em uma era de ouro que nunca existiu e, segundo, uma recusa estranha em reconhecer o enorme papel que o dinheiro e os incentivos monetários tiveram em promover ideias ruins.
Sobre o primeiro ponto: Nós deveríamos lembrar nostalgicamente de uma era em que intelectuais conservadores sérios como Irving Kristol tentaram entender o mundo em lugar de tratar tudo como um exercício político em que as ideias estavam lá somente para ajudar o time deles a ganhar.
Mas nunca foi assim. E não acredite em mim: vá pelo que o próprio Sr. Kristol disse. Em seu livro “Neoconservatism: The Autobiography of an Idea” (Neoconservadorismo: A Autobiografia de uma Ideia, em tradução livre), ele explicou por que adotou a economia do lado de oferta: “Eu não tinha certeza de seus méritos econômicos, mas enxerguei rapidamente suas possibilidades políticas.” Isto justificou uma “atitude cavaleiresca quanto ao déficit orçamentário e outros problemas monetários ou financeiros”, porque “a eficiência política era a prioridade, não as deficiências contábeis do governo.”
Em suma, não fique preocupado se isso está certo, desde que seja politicamente útil. Quando o Sr. Brooks reclama em seu artigo (aqui: nyti.ms/2dSrGC4) que “os conservadores sabe-tudo começaram a valorizar a política acima de tudo”, ele está descrevendo algo que aconteceu muito antes do governo Reagan.
Contudo, não deveria haver alguns testes de realidade ao longo do caminho, com as ideias politicamente convenientes caindo em desuso porque não funcionaram na prática? Não – porque estar errado do jeito certo sempre foi uma atividade financeiramente segura. Eu vejo isso claramente na economia, em que há três tipos de economistas: os economistas profissionais liberais, os economistas profissionais conservadores e os economistas conservadores profissionais – a quarta caixa está mais ou menos vazia, porque os bilionários não apoiam de modo extravagante trambiqueiros de esquerda.
Como você pode sequer começar a falar de intelectuais conservadores sem discutir a Heritage Foundation, que começou em 1973, ou a mais ou menos recente armamentização do American Enterprise Institute como uma entidade política? A Heritage Foundation, em particular, é flagrantemente incompetente quando se trata de economia. Mas não importa: Ela tem bastante dinheiro, porque apoia grandes cortes de impostos para os ricos, e a cobrança por isso nunca deixa de existir.
Lembre-se, também, que a negação das mudanças climáticas é essencialmente uma indústria, financiada por grupos interessados em questões que promovem a ciência ruim. E isso quer dizer que há mercado para “intelectuais” conservadores que são basicamente anticiência.
O ponto é que o lado intelectual do conservadorismo de movimentos tem sido uma iniciativa corrupta há quase quatro décadas. Em seus primeiros anos ele podia recorrer aos intelectuais de direita que tinham alguma reputação anterior além do trabalho político, mas preferiu recorrer aos trambiqueiros residentes durante um bom tempo. Não vejo nenhum motivo para acreditar que uma iniciativa assim está prestes a se reestruturar: Se só estar errado e perder uma eleição fossem o suficiente, isso teria acontecido na década de 90.