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As novas economias urbanas

Quero tomar a liberdade para falar sobre um artigo interessante publicado recentemente no The New York Times sobre as empresas que mudaram sua sede de volta dos subúrbios para as cidades, e como isso se relaciona com uma discussão antiga de uma das minhas especialidades: geografia econômica. O artigo, escrito pelo repórter Nelson Schwartz, lista […]

NOVA YORK: trabalho desenvolvido por executivos altamente remunerados podem ser desmembradas das operações corriqueiras de uma empresa / Getty Images (./Getty Images)
NOVA YORK: trabalho desenvolvido por executivos altamente remunerados podem ser desmembradas das operações corriqueiras de uma empresa / Getty Images (./Getty Images)
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Paul Krugman

Publicado em 9 de agosto de 2016 às, 13h19.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h23.

Quero tomar a liberdade para falar sobre um artigo interessante publicado recentemente no The New York Times sobre as empresas que mudaram sua sede de volta dos subúrbios para as cidades, e como isso se relaciona com uma discussão antiga de uma das minhas especialidades: geografia econômica.

O artigo, escrito pelo repórter Nelson Schwartz, lista uma série de razões pelas quais as empresas estão se mudando de volta dos campos suburbanos para as cidades centrais. Este trecho, para mim, traduz a essência da situação: “Parte do problema é que as cidades são lugares mais atraentes para viver do que eram há 30 anos, estão mais dispostas a oferecer incentivos fiscais, e os jovens querem estar lá “, disse David J. Collis, que ensina estratégia corporativa na Harvard Business School. “Mas a tendência também representa a desconstrução e desagregação da sede corporativa tradicional”, explicou ele. “A suíte executiva pode ser no centro, mas você poderia ter as funções de back office e administrativa no Colorado, o pessoal do financeiro na Suíça e a equipe da contabilidade no Reino Unido”.

Trata-se de um debate frequentemente abordado pelo economista Ed Glaeser que remete à década de 1990: como a ascensão da internet afetaria a urbanização?

À época (cerca de 20 anos atrás), muitas pessoas diziam que grandes centros urbanos nos Estados Unidos continuariam a diminuir, porque qualquer um com um modem poderia agora fazer trabalho de escritório do meio do Cabo da Frigideira do Texas, ou em outro lugar. Mas o Sr. Glaeser e seu colega economista Jess Gaspar argumentaram em um artigo publicado no Jornal de Economia Urbana que o efeito poderia ser o oposto — que o contato online aumentaria a demanda por reuniões e desenvolveria as cidades.

Acho que na ocasião eu disse — embora eu não lembre se cheguei a escrever! — que a tecnologia da informação tornaria mais fácil para as pessoas em centros metropolitanos mais densos fornecerem serviços àquelas em regiões remotas, melhorando também os centros urbanos.

Eu diria que o que estamos vendo hoje é um caso especial (ou pelo menos um parente próximo) deste último argumento. No mundo de hoje, as funções do núcleo-sede — ou o trabalho desenvolvido por altos executivos e especialistas altamente remunerados — podem ser desmembradas das operações corriqueiras de uma empresa. Estas funções mais sofisticadas também se beneficiam mais das economias de aglomeração de uma cidade grande, sem falar nas comodidades que tais lugares oferecem àqueles cujos salários são altos o bastante para que possam pagar por moradia decente, apesar dos preços.

Entretanto, não é mais necessário ter todas as operações de back office no mesmo lugar, o que requer um monte de trabalhadores mal remunerados pagando aluguéis caros e encarando longas viagens de metrô até Manhattan saindo, digamos, do Queens.

Então, estamos caminhando para o atendimento afastado dos centros urbanos dos “clientes”, que neste caso são as outras peças do que antes era uma sede física unificada.

Isso é bom para as economias urbanas, embora reforce a tendência dos centros urbanos de se tornarem playgrounds para os muito ricos.

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© 2016 The New York Times