As estatísticas não precisam ser políticas
Eu vi que Tim Duy está irritado comigo de novo. A circunstância é um tanto quanto esquisita: Eu escrevi recentemente um pequeno artigo sobre comércio e empregos, que eu explicitamente chamava de “espertalhão”. O ponto do artigo era, como eu disse, reconciliar o que pareciam ser avaliações conflitantes sobre os impactos do comércio nos empregos […]
Publicado em 12 de dezembro de 2016 às, 10h23.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 17h59.
Eu vi que Tim Duy está irritado comigo de novo. A circunstância é um tanto quanto esquisita: Eu escrevi recentemente um pequeno artigo sobre comércio e empregos, que eu explicitamente chamava de “espertalhão”. O ponto do artigo era, como eu disse, reconciliar o que pareciam ser avaliações conflitantes sobre os impactos do comércio nos empregos globais na indústria (leia-o aqui).
Mas o Sr. Duy, um economista da universidade de Oregon, está bravo, já que “meras estatísticas sobre comércio não vão conseguir rebater Trump”, segundo um post em um blog (aqui).
Não era esse o ponto do exercício. Meu argumento não era um manifesto político, e nunca disse que seria. Muito menos constituía uma defesa das visões convencionais sobre comércio. Era sobre o que os dados dizem a respeito de uma dúvida particular. Nós não podemos fazer coisas assim na era de Donald Trump? Na verdade, talvez não possamos.
Parte de todo o fenômeno Trump tem a ver com eleitores brancos trabalhadores se mobilizando em torno de um candidato que prometeu trazer de volta os empregos nos setores carvoeiro e industrial do passado, e que atacam qualquer um que se recuse a assumir compromissos semelhantes. E no entanto a promessa era, e ainda é, fraudulenta. Se tentar interpretar direito a análise for elitista, estamos com sérios problemas – e talvez nós estejamos mesmo.
Logo, com o que um manifesto político focado em reconquistar esses eleitores se pareceria? Você poderia prometer melhorar as vidas deles de maneiras que não tenham a ver com recuperar as antigas fábricas e minas – o que, você sabe, o presidente Obama fez com a reforma da saúde e Hillary Clinton teria feito com as políticas para famílias e mais. Mas isso, aparentemente, não é uma resposta aceitável.
Nós podemos prometer empregos novos e diferentes? A criação de empregos sob o Sr. Obama foi bastante boa, mas não ofereceu trabalhos braçais nos mesmos lugares em que os empregos industriais foram corroídos.
Ou seja, talvez a resposta sejam políticas regionais que promovam emprego em regiões em declínio? Certamente é conveniente fazer isso em princípio, uma vez que os custos de desenraizar trabalhadores e famílias são maiores do que os economistas gostam de imaginar. Eu argumentaria, contudo, que o histórico de políticas de apoio regional em outros países, que gastam muito mais com essas coisas do que provavelmente nós faríamos, é bastante pobre. Por exemplo, o apoio maciço à antiga Alemanha Oriental não impediu uma queda ampla da população – muito maior do que o declínio populacional dos Apalaches nas últimas décadas.
E eu tenho de admitir uma forte suspeita de que propostas de políticas regionais que busquem convencer empresas de serviços a se mudar para o Cinturão da Ferrugem não seriam bem aceitas, e receberiam críticas por serem consideradas elitistas. As pessoas querem esses empregos na indústria de volta, e não algo diferente. Além disso, é esnobe e desrespeitoso dizer que isso não pode ser feito, mesmo que seja a verdade.
Mas de volta ao meu argumento original: Quando eu analiso os efeitos do comércio nos empregos no setor industrial, o objetivo é entender os efeitos do comércio no emprego do setor industrial – e não convencer os eleitores. Não, meras estatísticas não são boas para campanhas eleitorais, mas isso não é motivo para banir a estatística.