Ainda esperando pela turbulência
Quando questiono a premissa quase universal entre os economistas de que o Brexit irá produzir um enorme choque negativo na demanda, não estou tentando ir contra a corrente só para parecer inteligente, muito menos defendendo os brexitanos. Estou verdadeiramente confuso sobre de onde surgiu esse consenso, uma vez que nada nos modelos padrões de macroeconomia […]
Publicado em 11 de julho de 2016 às, 12h22.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h03.
Quando questiono a premissa quase universal entre os economistas de que o Brexit irá produzir um enorme choque negativo na demanda, não estou tentando ir contra a corrente só para parecer inteligente, muito menos defendendo os brexitanos. Estou verdadeiramente confuso sobre de onde surgiu esse consenso, uma vez que nada nos modelos padrões de macroeconomia diz que uma política ruim para o setor de oferta de longo prazo da economia necessariamente afeta o seu setor de demanda de curto prazo. E eu me preocupo que o aparente consenso entre os economistas, de algum modo, é mais político do que analítico: o livre comércio é claramente bom, e, portanto, não é preciso cuidados na argumentação sobre porque exatamente romper com a Europa é tão ruim.
Recebi várias respostas de economistas sérios pelos quais tenho respeito, todos argumentando alguma coisa sobre os efeitos da incerteza induzida pelo Brexit. Algo mais ou menos assim: agora, as empresas ainda não sabem de que modo a Grã-Bretanha estará ligada à Europa, e, portanto, faz sentido que elas adiem seus investimentos até que a situação se esclareça.
Este é um argumento interessante e defensável – basicamente, de que o formato incerto do Brexit cria opção de valor para a espera. Entretanto, eu tenho três dúvidas a esse respeito.
Primeiro, será esse realmente o argumento que sustenta todas as terríveis previsões pós Brexit? Meu palpite é que pouquíssimas pessoas que leem as notícias, ou relatórios a respeito do Brexit entendem isso. O que elas ouvem ou leem está muito mais próximo da noção de que a incerteza se iguala a uma crescente probabilidade de coisas ruins. Ou seja, esse argumento é muito mais matizado e sutil do que qualquer outro que eu já tenha ouvido a esse respeito.
Segundo, será que esse argumento não implica em um posterior boom de investimento, uma vez que a incerteza será resolvida qualquer que seja o direcionamento? Ou seja, uma vez que o novo primeiro-ministro, na Grã-Bretanha, e a presidente Marine Le Pen, na França, arquitetem o fim da União Europeia, não haverá motivos para esperar que todo aquele investimento reprimido ocorra de forma estrondosa, não é? Mas ainda não ouvi ninguém argumentar que o efeito contracionário do Brexit será seguido por um boom compensatório, assim que as coisas se ajeitem.
Terceiro, será que esse argumento essencialmente não sugere que se irá obter os mesmos efeitos de qualquer política de negociação cujos resultados finais são desconhecidos? Por que não falamos que as possibilidades do Tratado Transpacífico (TTP), ou o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento são restritivos porque as empresas têm incentivo para adiar as decisões de investimentos até que saibam se esses acordos irão mesmo acontecer? De algum modo, porém, nunca ouvi ninguém brigar pelos efeitos desalentadores da liberação do livre comércio.
Novamente, não estou tentando defender o Brexit. Mas me preocupo que a urgência em condená-lo tenha levado à uma diminuição dos padrões intelectuais.
Também quero dizer que a narrativa do desastre está colorindo alguns (nem todos) os relatórios financeiros. No conjunto, a reação do mercado a mim parece bastante silenciosa. Não apenas as ações: as obrigações europeias estão quase na mesma posição em que estavam um mês atrás. Na verdade, em termos globais, as taxas estão consideravelmente mais baixas; mas não estamos vendo o tipo de perturbação financeira tão amplamente prevista. No entanto, as manchetes sobre a turbulência estão estampadas em toda a parte.
Será que posso estar errado a respeito de tudo isso? Certamente. Mas todo mundo realmente deveria se perguntar de onde vem o consenso macroeconômico sobre o Brexit.
© 2016 The New York Times