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A Turquia pode resolver esta crise cambial?

Para sair da crise, país precisaria de um governo flexível e responsável, além de honesto o suficiente para realizar esta implementação sem corrupção

ERDOGAN: Presidente não é o mais indicado para recuperar o país / Murad Sezer -/File Photo/ Reuters
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Da Redação

Publicado em 21 de agosto de 2018 às 11h23.

Última atualização em 21 de agosto de 2018 às 11h46.

Durante algum tempo, aqueles de nós que dedicaram muito do nosso tempo entendendo a crise financeira asiática duas décadas atrás se perguntaram se a Turquia estava preparando um remake dela. Com certeza, é o que parece estar acontecendo.

Eis o roteiro: comece com um país que, por qualquer razão, se tornou um queridinho dos credores estrangeiros, e que experimentou um fluxo grande de capital estrangeiro durante vários anos. Crucialmente, a consequente dívida que se estabeleceu é estipulada em uma moeda estrangeira, e não doméstica (que é o porquê dos Estados Unidos, que também foi um receptor de grandes fluxos no passado, não serem vulneráveis de modo semelhante; nós fazemos empréstimos em dólares).

Em algum momento, porém, a festa chega ao fim. Não importa muito o que provoca uma “pausa súbita” no empréstimo estrangeiro: podem ser eventos domésticos, como o presidente indicando seu genro para fiscalizar a política econômica, pode ser uma alta nas taxas de juros dos EUA ou pode ser uma crise em outro país que os investidores acham parecido com o seu.

Qualquer que seja o choque, a questão crucial é que a dívida externa tem tornado sua economia vulnerável a uma espiral de morte. A perda de confiança faz sua moeda despencar, o que dificulta quitar suas dívidas em moeda estrangeira; isso prejudica a economia real e diminui ainda mais a confiança, levando a um declínio ainda maior da sua moeda; e por aí vai.

O resultado é que a dívida externa explode em termos de percentagem do produto interno bruto. A Indonésia entrou na crise financeira na década de 90 com uma dívida externa inferior a 60% do PIB, algo proximamente parecido com a Turquia do início deste ano. Em 1998, uma rúpia em queda livre havia levado aquela dívida a quase 170%.

Como uma crise dessas termina? Se não houver uma resposta política eficaz, o câmbio cai e a dívida medida em moeda doméstica explode, até que todo mundo que pode falir quebra. A essa altura, o câmbio fraco alimenta um boom de exportações, e a economia começa uma retomada baseada em grandes superávits comerciais. (Isto pode ser uma surpresa para o presidente Trump, que parece estar cobrando tarifas pesadas da Turquia como castigo pela moeda fraca do país.)

Existe algum jeito de causar um curto-circuito neste ciclo de ruína? Sim, mas é complicado. O que você precisa para diminuir os custos de uma crise é uma combinação de heterodoxia no curto prazo e garantias confiáveis de uma volta à ortodoxia no longo prazo.

Eis como funciona isso: impeça a explosão da taxa de endividamento com alguma combinação de controles temporários de capitais para impor um toque de recolher à fuga desesperada de capital, e possivelmente à rejeição de parte da dívida em moeda estrangeira. Enquanto isso, prepare o cenário para um regime fiscalmente sustentável assim que a crise passar. Se tudo der certo, a confiança vai retornar gradualmente, e eventualmente você será capaz de remover os controles de capitais.

A Malásia fez isso em 1998. A Coreia do Sul, com a ajuda dos EUA, de fato fez coisa parecida na mesma época, ao pressionar os bancos a manterem suas linhas de crédito de curto prazo. Uma década depois, a Islândia se saiu muito bem com uma mistua de controle de capitais e rejeição da dívida (estritamente falando, se recusando a assumir responsabilidade pública pelas dívidas contraídas por banqueiros privados).

A Argentina também se saiu bastante bem com políticas heterodoxas em 2002 e durante alguns dos anos seguintes, efetivamente repudiando dois terços da dívida do país. Mas o regime de Cristina Fernández de Kirchner não soube quando parar e voltar à ortodoxia, preparando o cenário para a volta do país à crise.

E talvez este exemplo ilustre quão difícil é lidar com este tipo de crise. Você precisa de um governo que seja tanto flexível quanto responsável, para não falar em tecnicamente competente o bastante para implementar medidas especiais, além de honesto o suficiente para realizar esta implementação sem uma corrupção imensa.

Isto, infelizmente, não parece com a Turquia do presidente Recep Tayyip Erdogan. É claro, tampouco se parece com a América do Sr. Trump. Ou seja, é bom que nossas dívidas sejam em dólares.

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Durante algum tempo, aqueles de nós que dedicaram muito do nosso tempo entendendo a crise financeira asiática duas décadas atrás se perguntaram se a Turquia estava preparando um remake dela. Com certeza, é o que parece estar acontecendo.

Eis o roteiro: comece com um país que, por qualquer razão, se tornou um queridinho dos credores estrangeiros, e que experimentou um fluxo grande de capital estrangeiro durante vários anos. Crucialmente, a consequente dívida que se estabeleceu é estipulada em uma moeda estrangeira, e não doméstica (que é o porquê dos Estados Unidos, que também foi um receptor de grandes fluxos no passado, não serem vulneráveis de modo semelhante; nós fazemos empréstimos em dólares).

Em algum momento, porém, a festa chega ao fim. Não importa muito o que provoca uma “pausa súbita” no empréstimo estrangeiro: podem ser eventos domésticos, como o presidente indicando seu genro para fiscalizar a política econômica, pode ser uma alta nas taxas de juros dos EUA ou pode ser uma crise em outro país que os investidores acham parecido com o seu.

Qualquer que seja o choque, a questão crucial é que a dívida externa tem tornado sua economia vulnerável a uma espiral de morte. A perda de confiança faz sua moeda despencar, o que dificulta quitar suas dívidas em moeda estrangeira; isso prejudica a economia real e diminui ainda mais a confiança, levando a um declínio ainda maior da sua moeda; e por aí vai.

O resultado é que a dívida externa explode em termos de percentagem do produto interno bruto. A Indonésia entrou na crise financeira na década de 90 com uma dívida externa inferior a 60% do PIB, algo proximamente parecido com a Turquia do início deste ano. Em 1998, uma rúpia em queda livre havia levado aquela dívida a quase 170%.

Como uma crise dessas termina? Se não houver uma resposta política eficaz, o câmbio cai e a dívida medida em moeda doméstica explode, até que todo mundo que pode falir quebra. A essa altura, o câmbio fraco alimenta um boom de exportações, e a economia começa uma retomada baseada em grandes superávits comerciais. (Isto pode ser uma surpresa para o presidente Trump, que parece estar cobrando tarifas pesadas da Turquia como castigo pela moeda fraca do país.)

Existe algum jeito de causar um curto-circuito neste ciclo de ruína? Sim, mas é complicado. O que você precisa para diminuir os custos de uma crise é uma combinação de heterodoxia no curto prazo e garantias confiáveis de uma volta à ortodoxia no longo prazo.

Eis como funciona isso: impeça a explosão da taxa de endividamento com alguma combinação de controles temporários de capitais para impor um toque de recolher à fuga desesperada de capital, e possivelmente à rejeição de parte da dívida em moeda estrangeira. Enquanto isso, prepare o cenário para um regime fiscalmente sustentável assim que a crise passar. Se tudo der certo, a confiança vai retornar gradualmente, e eventualmente você será capaz de remover os controles de capitais.

A Malásia fez isso em 1998. A Coreia do Sul, com a ajuda dos EUA, de fato fez coisa parecida na mesma época, ao pressionar os bancos a manterem suas linhas de crédito de curto prazo. Uma década depois, a Islândia se saiu muito bem com uma mistua de controle de capitais e rejeição da dívida (estritamente falando, se recusando a assumir responsabilidade pública pelas dívidas contraídas por banqueiros privados).

A Argentina também se saiu bastante bem com políticas heterodoxas em 2002 e durante alguns dos anos seguintes, efetivamente repudiando dois terços da dívida do país. Mas o regime de Cristina Fernández de Kirchner não soube quando parar e voltar à ortodoxia, preparando o cenário para a volta do país à crise.

E talvez este exemplo ilustre quão difícil é lidar com este tipo de crise. Você precisa de um governo que seja tanto flexível quanto responsável, para não falar em tecnicamente competente o bastante para implementar medidas especiais, além de honesto o suficiente para realizar esta implementação sem uma corrupção imensa.

Isto, infelizmente, não parece com a Turquia do presidente Recep Tayyip Erdogan. É claro, tampouco se parece com a América do Sr. Trump. Ou seja, é bom que nossas dívidas sejam em dólares.

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