A tecnologia pode salvar o mundo?
Em Star Wars, a Millennium Falcon de Han Solo fez o Percurso de Kessel em menos de 12 parsecs; na vida real, o máximo o que o Falcon 9 conseguiu foi pousar no Cabo Canaveral sem cair ou explodir. No entanto, eu, como muitos nerds, fiquei emocionado com esse feito de dezembro de 2015, em […]
Publicado em 10 de agosto de 2016 às, 12h36.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h22.
Em Star Wars, a Millennium Falcon de Han Solo fez o Percurso de Kessel em menos de 12 parsecs; na vida real, o máximo o que o Falcon 9 conseguiu foi pousar no Cabo Canaveral sem cair ou explodir. No entanto, eu, como muitos nerds, fiquei emocionado com esse feito de dezembro de 2015, em parte porque ele reforçou o meu otimismo crescente sobre a direção que a tecnologia parece estar tomando — um rumo que pode acabar salvando o mundo.
Se você não faz ideia do que eu estou falando, o Falcon 9 é o foguete reutilizável de Elon Musk, que leva carga ao espaço e, em seguida, retorna para um lugar de onde possa ser lançado novamente. Ainda estamos muito longe de colônias espaciais e hotéis de gravidade zero, e menos ainda de impérios galácticos. Mas a tecnologia espacial está avançando depois de décadas de estagnação.
Aos meus olhos de amador, isto parece parte de uma tendência mais ampla, o que me deixa esperançoso com o futuro como há tempos eu não ficava.
Veja, eu tirei meu doutorado em 1977, ano do primeiro filme de Star Wars, o que significa que eu basicamente passei toda a minha vida profissional em uma era de decepção tecnológica.
Até a década de 70, quase todo mundo acreditava que os avanços tecnológicos fariam no futuro o que tinham conseguido no passado: produzir uma melhoria rápida e inconfundível em praticamente todos os aspectos da vida. Mas isso não aconteceu. E embora fatores sociais — acima de tudo, a crescente desigualdade — tenham desempenhado um papel importante nesta frustração, também é verdade que, em muitos aspectos, a tecnologia tem se mostrado aquém das expectativas.
O exemplo mais óbvio é o da viagem, pois os carros e aviões estão tão lentos hoje quanto no meu tempo de estudante, e os tempos reais de viagem, maiores por causa de congestionamentos e faixas de segurança. Em geral, houve menos progresso em nosso comando do mundo físico — nossa capacidade de produzir e entregar coisas — do que qualquer um imaginava.
Atualmente, tem havido um progresso notável em nossa capacidade de processar e transmitir informações. Mas, embora eu goste de vídeos de gatos e filmagens de concertos tanto quanto qualquer um, ainda estamos falando de um pedaço pequeno da vida: nós continuamos a habitar um mundo material, e há um limite para o quanto podemos nos entupir de informação. A chacota célebre do investidor Peter Thiel (“nós queríamos carros voadores e, em vez disso, tivemos 140 caracteres”) é injusta, mas tem um grande fundo de verdade.
Nos últimos cinco ou seis anos, no entanto — ou pelo menos é o que me parece —, a tecnologia foi ficando física de novo; mais uma vez, estamos progredindo no mundo das coisas, não só das informações. E isso é importante.
O avanço na construção de foguetes é divertido de ver, mas a grande novidade é no setor da energia, um campo que acumulava frustrações até recentemente. Durante décadas, as tecnologias de energia não-convencionais se mantiveram aquém das expectativas, e parecia que nada pudesse acabar com nossa dependência do petróleo e do carvão — uma má notícia no curto prazo por causa do destaque que isso deu ao Oriente Médio; e notícia pior ainda no longo prazo por causa do aquecimento global.
Mas agora estamos testemunhando uma revolução em várias frentes. Os maiores efeitos até agora vieram do uso do fracking, que pôs fim aos receios sobre o pico do petróleo e poderia, se devidamente regulamentado, dar alguma ajuda na questão das mudanças climáticas: o gás extraído por fracking ainda é combustível fóssil, mas queimá-lo emite muito menos gases do efeito estufa do que se o processo for feito com carvão . A revolução maior quando se olha adiante, no entanto, é na energia renovável, com os custos de vento e especialmente de energia solar caindo incrivelmente depressa.
Por que isso importa? Qualquer um que não for ignorante ou republicano entende que a mudança climática é de longe a maior ameaça que a humanidade encara. Mas quanto teremos de sacrificar para enfrentar este perigo?
Bem, você ainda vai ouvir gente — principalmente da direita, mas também de algumas pessoas à esquerda — dizendo que não podemos agir de modo eficaz na questão do clima sem pôr fim ao crescimento econômico. Isso nunca foi razoável, mas aqueles de nós afirmando que proteger o meio ambiente era consistente com o crescimento costumávamos ser um tanto vagos sobre os detalhes, nos limitando a dizer que, com os incentivos certos, o setor privado descobriria um jeito.
Mas agora podemos ver o rosto de um futuro de baixa emissão sustentável muito claramente — basicamente uma economia eletrificada com, isso mesmo, a energia nuclear desempenhando algum papel, mas a solar e a eólica à frente e no centro. Claro, isso não tem de acontecer. Porém, se não acontecer, o problema será a política, não a tecnologia.
É verdade que eu ainda estou esperando por carros voadores, para não falar na hiperpropulsão. Mas temos feito tantos avanços na tecnologia das coisas que salvar o mundo de repente se tornou muito mais plausível. E isto é motivo para comemorar.