A opinião distópica de Trump sobre a América

O discurso inaugural de Donald Trump foi, sem dúvida, repleto de mentiras – basicamente as mesmas mentiras que marcaram sua campanha. Acima de tudo, houve uma descrição de uma distopia de colapso social e econômico – ou “carnificina americana” – que tem pouca relação com a realidade. Durante a campanha, o Sr. Trump se safou com sua representação em parte por causa de uma imprensa desleixada e medrosa, mas também graças a mal-entendidos persistentes.

O público acredita firmemente que o crime está aumentando mesmo que ele esteja chegando a índices historicamente baixos; ele acredita que o número de pessoas sem plano de saúde no país aumentou quando também isso teve uma queda histórica; os republicanos acreditam que o índice de desemprego está alto e, inacreditavelmente, que o mercado de ações operou em baixa no governo do ex-presidente Barack Obama.

A pergunta que vale se fazer agora é se a falsa carnificina pode ser substituída por uma falsa não-carnificina. Quantas pessoas dá para convencer de que as coisas estão melhorando no governo Trump-Putin mesmo quando elas ficarem piores?

Elas vão piorar? É quase certo. O desemprego provavelmente crescerá ao longo dos próximos quatro anos, no mínimo porque ele começou este governo em baixa. Historicamente o índice de desemprego tem uma grande reversão à média, e provavelmente ele não conseguirá diminuir além do que está agora – embora ele possa aumentar muito mas. O número de pessoas sem plano de saúde vai disparar se os republicanos revogarem a Lei dos Serviços de Saúde Acessíveis, qualquer que seja a substituição que eles ofereçam.

O quadro da criminalidade está menos claro, uma vez que nós não sabemos de fato por que é que ela diminuiu. Mas grandes reduções mais adiante não parecem muito prováveis. Nós certamente não veremos um fim do domínio de zonas de guerra urbanas, porque, como você sabe, pra começo de conversa elas não existem. A equipe de compadres de Trump muito provavelmente também não deve ajudar os salários a terem uma alta real.

Porém, os eleitores deles podem ser convencidos de que as coisas estão melhorando quando não estão? A verdade é que eu não sei. Os pontos de vista em muitos temas são baseados em raciocínios fundamentados. Quando as pessoas afirmam que as coisas ficaram piores com o Sr. Obama, o que elas talvez queiram realmente dizer – qualquer que seja a questão – é “eu odeio a ideia de um homem negro na Casa Branca”.

Ainda assim, eu suspeito que afirmar que houve uma ampla criação de empregos quando as pessoas estão achando cada vez mais difícil conseguir trabalho e perdendo seus planos de saúde não vai funcionar tão bem quanto as afirmações sobre uma carnificina. Acho que teremos de ver o que acontece – o que talvez seja difícil se, como eu receio, as autoridades estatísticas forem o principal alvo do novo governo.