A indústria farmacêutica ainda é quem manda
A indústria farmacêutica comprou tantos políticos quanto necessários para barrar quaisquer políticas que possam reduzir seus lucros
Da Redação
Publicado em 23 de maio de 2018 às 11h38.
Recentemente, nós descobrimos que a Novartis, empresa farmacêutica suíça, pagou a Michael Cohen, advogado pessoal de Trump, US$ 1,2 milhão pelo que acabou sendo um único encontro. Depois disso, no dia 11 de maio, o Sr. Trump anunciou um “plano” para reduzir os preços dos medicamentos.
Por que as aspas de ressalva? Porque o “plano” era em grande parte desprovido de qualquer substância, controlada ou de outra natureza. (Ok, havia algumas poucas ideias que os especialistas consideraram interessantes, mas elas eram razoavelmente marginais.) Durante a campanha presidencial de 2016, o Sr. Trump prometeu usar a força do governo, inclusive do papel desempenhado pelo Medicare no pagamento de medicamentos com receita, para diminuir os preços de remédios. Mas nada disso estava no discurso dele de sexta-feira (11).
Além disso, se alguém tentar convencer você de que o Sr. Trump está de fato pegando pesado com as empresas de medicamentos, há uma resposta simples: Se estivesse mesmo, o discurso dele não teria feito as ações de farmacêuticas dispararem.
Nada disso deveria parecer surpresa. A esta altura, “Trump Quebra Outra de Suas Promessas Populistas” é basicamente uma manchete Cachorro Morde Homem. Mas há duas perguntas significativas aqui. Primeira, será que o governo dos EUA deveria fazer de fato o que o Sr. Trump disse que ele faria, e não o fez? Em caso afirmativo, por que nós não tomamos uma atitude sobre os preços dos remédios?
A resposta à primeira pergunta é um sim definitivo. A América paga muito mais por remédios do que qualquer outro país grande, e não há um bom motivo para que o façamos. Basicamente, quando se trata de medicamentos, nós somos a última ventosa da grande indústria farmacêutica.
Tenham em mente que a maneira como o setor de remédios funciona não tem e não guarda qualquer semelhança com as narrativas de Economia Primária, baseadas em oferta e demanda e adoradas pelos entusiastas do livre mercado. O que nós temos, em vez disso, é um sistema de patentes em que a empresa que desenvolve um medicamento recebe um monopólio legal temporário sobre as vendas daquele medicamento. Este sistema é ok, ou no mínimo justificável, como uma maneira de recompensar a inovação; porém, nada na lógica do sistema de patentes diz que os proprietários de patentes deveriam ser livres para explorar seus monopólios até o limite.
Existe, de fato, uma razão bastante boa para uma ação do governo que limite os preços dos remédios que as empresas farmacêuticas podem cobrar, assim como há uma razão bastante boa para limitar o monopólio de poder em geral. E o fato de que os contribuintes pagam uma grande parte dos custos dos remédios tanto reforça o argumento a favor de limitar os preços quanto dá ao governo uma tremenda vantagem a ser usada para atingir este objetivo.
Sem dúvida, controles draconianos sobre os preços dos medicamentos poderiam desencorajar inovação. Mas não é disso que se está falando, e além do mais os benefícios de uma intervenção moderada com certeza quase superariam os custos, por uma série de motivos: as empresas farmacêuticas faturariam menos por unidade, mas venderiam mais; elas gastariam menos desenvolvendo drogas que em grande medida duplicam remédios já existentes; e mais. Ah, e a América, com sua disposição única de barganhar sobre os preços dos medicamentos, está basicamente subsidiando o resto do mundo. Não era pro Sr. Trump odiar este tipo de coisa?
Sendo assim, por que nós não estamos fazendo algo a respeito dos preços dos medicamentos?
É verdade que simplesmente conceder ao Medicare o direito de negociar preços por si só não faria muita coisa. Nós também teríamos de dar a ele algum poder de barganha, provavelmente incluindo o direito de se recusar a pagar por remédios quando os preços forem exorbitantes. E antes que vocês denunciem isso como “racionamento”, lembrem-se de que, antes de 2003, o Medicare sequer pagava por remédios.
Ainda assim, dizer “não” pode irritar alguns dos beneficiários do Medicare. Pesquisas mostram um apoio público avassalador (92%!) para permitir que o Medicare negocie preços menores, mas este suporte pode implodir assim que as pessoas entenderem o que uma negociação efetiva exige.
Mas as dúvidas quanto aos detalhes não são o que está impedindo a tomada de ações sobre os preços dos remédios, já que nós sequer chegamos ao ponto de permitir que o Medicare tente reduzir os preços. E o motivo de nós não termos chegado a este ponto é, infelizmente, tão simples quanto grosseiro: a indústria farmacêutica comprou para ela tantos políticos quanto necessários para barrar quaisquer políticas que possam reduzir os lucros dela.
E eu nem estou falando só das contribuições de campanha. Estou falando do enriquecimento pessoal de políticos que servem aos interesses das farmacêuticas.
Afinal, quem preparou a Lei de Modernização do Medicare de 2003, que deixou para os contribuintes a conta dos custos de remédios para idosos, mas proibiu especificamente o Medicare de negociar preços? Ela foi desenvolvida em grande medida pelo deputado Billy Tauzin, republicano de Louisiana, que logo depois deixou o Congresso para se tornar o bastante bem pago presidente da Associação de Pesquisa e Manufatura Farmacêutica, o principal grupo de lobby da indústria. Se isto soa espantosamente brutal, é porque é.
E o Sr. Trump, muito longe de limpar o esgoto, convidou-o para o ramo executivo. Tom Price, seu primeiro secretário de Saúde e de Serviços Humanos, foi forçado a sair por causa de seus extravagantes gastos de viagem, mas seus conflitos de interesse ligados à indústria farmacêutica eram um problema muito maior. Além disso, o sucessor dele, Alex Azar, é…um ex-executivo de empresas de medicamentos, cuja visão declarada sobre os preços de remédios está totalmente em conflito com tudo que o Sr. Trump disse durante a campanha.
A questão é que o Excepcionalismo Americano mais uma vez predominou: Nós ainda somos o único país grande que deixa as empresas de medicamentos cobrarem o que quiserem.
Recentemente, nós descobrimos que a Novartis, empresa farmacêutica suíça, pagou a Michael Cohen, advogado pessoal de Trump, US$ 1,2 milhão pelo que acabou sendo um único encontro. Depois disso, no dia 11 de maio, o Sr. Trump anunciou um “plano” para reduzir os preços dos medicamentos.
Por que as aspas de ressalva? Porque o “plano” era em grande parte desprovido de qualquer substância, controlada ou de outra natureza. (Ok, havia algumas poucas ideias que os especialistas consideraram interessantes, mas elas eram razoavelmente marginais.) Durante a campanha presidencial de 2016, o Sr. Trump prometeu usar a força do governo, inclusive do papel desempenhado pelo Medicare no pagamento de medicamentos com receita, para diminuir os preços de remédios. Mas nada disso estava no discurso dele de sexta-feira (11).
Além disso, se alguém tentar convencer você de que o Sr. Trump está de fato pegando pesado com as empresas de medicamentos, há uma resposta simples: Se estivesse mesmo, o discurso dele não teria feito as ações de farmacêuticas dispararem.
Nada disso deveria parecer surpresa. A esta altura, “Trump Quebra Outra de Suas Promessas Populistas” é basicamente uma manchete Cachorro Morde Homem. Mas há duas perguntas significativas aqui. Primeira, será que o governo dos EUA deveria fazer de fato o que o Sr. Trump disse que ele faria, e não o fez? Em caso afirmativo, por que nós não tomamos uma atitude sobre os preços dos remédios?
A resposta à primeira pergunta é um sim definitivo. A América paga muito mais por remédios do que qualquer outro país grande, e não há um bom motivo para que o façamos. Basicamente, quando se trata de medicamentos, nós somos a última ventosa da grande indústria farmacêutica.
Tenham em mente que a maneira como o setor de remédios funciona não tem e não guarda qualquer semelhança com as narrativas de Economia Primária, baseadas em oferta e demanda e adoradas pelos entusiastas do livre mercado. O que nós temos, em vez disso, é um sistema de patentes em que a empresa que desenvolve um medicamento recebe um monopólio legal temporário sobre as vendas daquele medicamento. Este sistema é ok, ou no mínimo justificável, como uma maneira de recompensar a inovação; porém, nada na lógica do sistema de patentes diz que os proprietários de patentes deveriam ser livres para explorar seus monopólios até o limite.
Existe, de fato, uma razão bastante boa para uma ação do governo que limite os preços dos remédios que as empresas farmacêuticas podem cobrar, assim como há uma razão bastante boa para limitar o monopólio de poder em geral. E o fato de que os contribuintes pagam uma grande parte dos custos dos remédios tanto reforça o argumento a favor de limitar os preços quanto dá ao governo uma tremenda vantagem a ser usada para atingir este objetivo.
Sem dúvida, controles draconianos sobre os preços dos medicamentos poderiam desencorajar inovação. Mas não é disso que se está falando, e além do mais os benefícios de uma intervenção moderada com certeza quase superariam os custos, por uma série de motivos: as empresas farmacêuticas faturariam menos por unidade, mas venderiam mais; elas gastariam menos desenvolvendo drogas que em grande medida duplicam remédios já existentes; e mais. Ah, e a América, com sua disposição única de barganhar sobre os preços dos medicamentos, está basicamente subsidiando o resto do mundo. Não era pro Sr. Trump odiar este tipo de coisa?
Sendo assim, por que nós não estamos fazendo algo a respeito dos preços dos medicamentos?
É verdade que simplesmente conceder ao Medicare o direito de negociar preços por si só não faria muita coisa. Nós também teríamos de dar a ele algum poder de barganha, provavelmente incluindo o direito de se recusar a pagar por remédios quando os preços forem exorbitantes. E antes que vocês denunciem isso como “racionamento”, lembrem-se de que, antes de 2003, o Medicare sequer pagava por remédios.
Ainda assim, dizer “não” pode irritar alguns dos beneficiários do Medicare. Pesquisas mostram um apoio público avassalador (92%!) para permitir que o Medicare negocie preços menores, mas este suporte pode implodir assim que as pessoas entenderem o que uma negociação efetiva exige.
Mas as dúvidas quanto aos detalhes não são o que está impedindo a tomada de ações sobre os preços dos remédios, já que nós sequer chegamos ao ponto de permitir que o Medicare tente reduzir os preços. E o motivo de nós não termos chegado a este ponto é, infelizmente, tão simples quanto grosseiro: a indústria farmacêutica comprou para ela tantos políticos quanto necessários para barrar quaisquer políticas que possam reduzir os lucros dela.
E eu nem estou falando só das contribuições de campanha. Estou falando do enriquecimento pessoal de políticos que servem aos interesses das farmacêuticas.
Afinal, quem preparou a Lei de Modernização do Medicare de 2003, que deixou para os contribuintes a conta dos custos de remédios para idosos, mas proibiu especificamente o Medicare de negociar preços? Ela foi desenvolvida em grande medida pelo deputado Billy Tauzin, republicano de Louisiana, que logo depois deixou o Congresso para se tornar o bastante bem pago presidente da Associação de Pesquisa e Manufatura Farmacêutica, o principal grupo de lobby da indústria. Se isto soa espantosamente brutal, é porque é.
E o Sr. Trump, muito longe de limpar o esgoto, convidou-o para o ramo executivo. Tom Price, seu primeiro secretário de Saúde e de Serviços Humanos, foi forçado a sair por causa de seus extravagantes gastos de viagem, mas seus conflitos de interesse ligados à indústria farmacêutica eram um problema muito maior. Além disso, o sucessor dele, Alex Azar, é…um ex-executivo de empresas de medicamentos, cuja visão declarada sobre os preços de remédios está totalmente em conflito com tudo que o Sr. Trump disse durante a campanha.
A questão é que o Excepcionalismo Americano mais uma vez predominou: Nós ainda somos o único país grande que deixa as empresas de medicamentos cobrarem o que quiserem.