A Alemanha é uma manipuladora cambial?
Peter Navarro, a coisa mais parecida com um guru econômico que o presidente Trump tem, fez algum barulho em uma entrevista recente ao The Financial Times em que acusava a Alemanha de ser uma manipuladora cambial e sugeria que tanto o marco alemão paralelo quanto o euro estão subvalorizados. Deixando para lá a ideia duvidosa […]
Da Redação
Publicado em 14 de fevereiro de 2017 às 17h04.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h47.
Peter Navarro, a coisa mais parecida com um guru econômico que o presidente Trump tem, fez algum barulho em uma entrevista recente ao The Financial Times em que acusava a Alemanha de ser uma manipuladora cambial e sugeria que tanto o marco alemão paralelo quanto o euro estão subvalorizados.
Deixando para lá a ideia duvidosa de que esse é um bom alvo para a diplomacia econômica americana, ele está certo?
Sim e não. Infelizmente, a parte “não” é a que é relevante para os Estados Unidos.
Sim, a Alemanha tem de fato uma moeda subvalorizada em relação à que teria sem o euro. Eu olhei os dados de preços na Alemanha comparados aos da Espanha (o que eu entendo que representa o sul europeu em geral) desde que o euro foi criado ( veja o gráfico aqui ).
Houve uma depreciação real grande durante os bons tempos do euro, quando a Espanha teve ingressos massivos de capital e uma explosão inflacionária. Isso foi revertido apenas em parte, apesar de uma depressão séria na Espanha. Por quê? Porque os salários estão em uma rigidez descendente, e a Alemanha se recusa a apoiar o tipo de estímulo monetário e fiscal que elevaria a inflação global na região do euro, que permanece estagnado em um nível muito baixo.
Assim, o sistema do euro tem mantido a Alemanha subvalorizada, de modo contínuo, em oposição a seus vizinhos. Mas isso significa que o euro como um todo está subvalorizado perante o dólar? Provavelmente não.
O euro está fraco porque os investidores enxergam poucas oportunidades de investimento na Europa, em um sentido importante por causa de dados populacionais ruins, e de oportunidades melhores nos Estados Unidos.
As dificuldades do sistema do euro podem se somar às impressões ruins da Europa. Mas não há uma relação clara entre os problemas do papel da Alemanha no euro e dúvidas quanto à relação entre o euro e outras moedas.
E me permitam perguntar: Qual é a razão de ter alguém ligado ao governo americano dizendo isso? Nós vamos pressionar o Banco Central Europeu a adotar uma política monetária mais rígida? Eu certamente espero que não. Nós estamos pressionando por um rompimento na eurozona? Parece muito que sim – mas não é o tipo de coisa que o governo americano deveria estar fazendo. O que nós diríamos se autoridades chinesas parecessem fazer propaganda sobre uma crise financeira nos Estados Unidos? (Claro, seria ok para o Sr. Trump se os russos o fizessem.)
Então, sim, o Sr. Navarro tem um ponto sobre o papel da Alemanha na eurozona. E se ele não fosse ligado ao governo Bannon, estaria livre para levantar a questão. No contexto atual, porém, isso é grosseiramente irresponsável.
Peter Navarro, a coisa mais parecida com um guru econômico que o presidente Trump tem, fez algum barulho em uma entrevista recente ao The Financial Times em que acusava a Alemanha de ser uma manipuladora cambial e sugeria que tanto o marco alemão paralelo quanto o euro estão subvalorizados.
Deixando para lá a ideia duvidosa de que esse é um bom alvo para a diplomacia econômica americana, ele está certo?
Sim e não. Infelizmente, a parte “não” é a que é relevante para os Estados Unidos.
Sim, a Alemanha tem de fato uma moeda subvalorizada em relação à que teria sem o euro. Eu olhei os dados de preços na Alemanha comparados aos da Espanha (o que eu entendo que representa o sul europeu em geral) desde que o euro foi criado ( veja o gráfico aqui ).
Houve uma depreciação real grande durante os bons tempos do euro, quando a Espanha teve ingressos massivos de capital e uma explosão inflacionária. Isso foi revertido apenas em parte, apesar de uma depressão séria na Espanha. Por quê? Porque os salários estão em uma rigidez descendente, e a Alemanha se recusa a apoiar o tipo de estímulo monetário e fiscal que elevaria a inflação global na região do euro, que permanece estagnado em um nível muito baixo.
Assim, o sistema do euro tem mantido a Alemanha subvalorizada, de modo contínuo, em oposição a seus vizinhos. Mas isso significa que o euro como um todo está subvalorizado perante o dólar? Provavelmente não.
O euro está fraco porque os investidores enxergam poucas oportunidades de investimento na Europa, em um sentido importante por causa de dados populacionais ruins, e de oportunidades melhores nos Estados Unidos.
As dificuldades do sistema do euro podem se somar às impressões ruins da Europa. Mas não há uma relação clara entre os problemas do papel da Alemanha no euro e dúvidas quanto à relação entre o euro e outras moedas.
E me permitam perguntar: Qual é a razão de ter alguém ligado ao governo americano dizendo isso? Nós vamos pressionar o Banco Central Europeu a adotar uma política monetária mais rígida? Eu certamente espero que não. Nós estamos pressionando por um rompimento na eurozona? Parece muito que sim – mas não é o tipo de coisa que o governo americano deveria estar fazendo. O que nós diríamos se autoridades chinesas parecessem fazer propaganda sobre uma crise financeira nos Estados Unidos? (Claro, seria ok para o Sr. Trump se os russos o fizessem.)
Então, sim, o Sr. Navarro tem um ponto sobre o papel da Alemanha na eurozona. E se ele não fosse ligado ao governo Bannon, estaria livre para levantar a questão. No contexto atual, porém, isso é grosseiramente irresponsável.