O falso populismo de Donald Trump
Um artigo recente do Washington Post sobre a Polônia – onde um partido de direita, anti-intelectual e nativista governa agora, e tem recebido bastante apoio público – é assustador para aqueles de nós que temem que o trumpismo possa realmente ser o fim da linha para a democracia nos Estados Unidos. Os militantes do partido […]
Publicado em 6 de janeiro de 2017 às, 16h49.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h34.
Um artigo recente do Washington Post sobre a Polônia – onde um partido de direita, anti-intelectual e nativista governa agora, e tem recebido bastante apoio público – é assustador para aqueles de nós que temem que o trumpismo possa realmente ser o fim da linha para a democracia nos Estados Unidos. Os militantes do partido Lei e Justiça da Polônia claramente se pareciam um tanto com os entusiastas brancos da classe trabalhadora de Donald Trump. Ou seja, será que os americanos estão indo pelo mesmo caminho? (Leia o artigo aqui)
Existe uma diferença importante – um pouco de excepcionalismo americano, se você quiser chamar assim. Os partidos populistas da Europa são de fato populistas. Eles perseguem políticas que realmente ajudam os trabalhadores, desde que estes trabalhadores sejam da etnia certa. Como alguém disse, eles estão vendendo um estado “da raça superior” de bem-estar. O Lei e Justiça aumentou os salários mínimos e reduziu a idade para a aposentadoria; na França, o Partido da Frente Nacional apoia as mesmas políticas.
O Sr. Trump, contudo, é diferente. Ele disse muitas coisas na campanha eleitoral, mas suas escolhas para a equipe de governo indicam que, na prática, ele será um republicano linha-dura e economicamente de direita. Seus aliados congressistas estão se preparando para desmontar a Lei dos Serviços de Saúde Acessíveis, privatizar o Medicare e aumentar a idade para a aposentadoria. Seu escolhido para ser secretário do Trabalho, Andrew Puzder, é um magnata do fast-food que abomina aumentos de salário mínimo. E seu escolhido para ser o principal consultor econômico é o rei da economia a conta-gotas.
Sendo assim, em que sentido o Sr. Trump é um populista? Basicamente, ele age como um na TV – ele afirma que representa o homem comum, deprecia as elites e surra a correção política. Mas é tudo parte do espetáculo. Quando se trata de seu conteúdo, ele é totalmente pró-elite.
É enfurecedor e desalentador que ele tenha conseguido se safar com isso na eleição presidencial. Mas aquilo era tudo papo. O que acontece quando a realidade começa a dar as caras? Revogar o Obamacare vai causar um dano grande precisamente nas pessoas que foram as mais empolgadas eleitoras de Trump – pessoas que de algum modo acreditaram que os benefícios delas seriam deixados intactos. O que acontece quando elas perceberem seu engano?
Quisera eu estar confiante quanto a uma futura hora da verdade. Não estou. Dada a história, o que nós podemos esperar é um esforço amplo para dizer que a vindoura devastação da classe trabalhadora é de alguma maneira culpa dos liberais, e até onde eu sei isso pode funcionar. (Lembrem de como os Tories da Inglaterra conseguiram transferir a culpa pela austeridade na mitológica irresponsabilidade fiscal do Partido Trabalhista.) Mas certamente há uma oportunidade para os democratas vindo aí.
E a estratégia política sinalizada é clara: Façam o Sr. Trump e companhia assumirem toda a miséria que eles estão prestes a causar.
Não ofereçam ajuda alguma para bolar um substituto para o Obamacare, nenhum voto a favor da privatização do Medicare e nenhum voto para aumentar a idade da aposentadoria. Nenhuma cobertura bipartidária para o fim da ilusão e a vinda da velha realidade nua e crua.