O novo investidor em tempos de longevidade
"Pense que viverá pelo menos 100 anos e a única certeza é que estará consumindo recursos financeiros durante todo esse tempo"
Publicado em 24 de janeiro de 2022 às, 09h00.
Por Thiago Lauria, CFP®, CGA
Ano de eleição, volatilidade, covid-19, política, tapering nos EUA. Esses e outros assuntos são fonte de preocupação constante para os investidores. Porém, existe um fenômeno que tem impacto muito mais significativo e permanente quando o tema é gestão de patrimônio e de investimentos: a longevidade.
Pense que viverá pelo menos 100 anos e a única certeza é que estará consumindo recursos financeiros durante todo esse tempo. Porém, muito provavelmente não estará produzindo o mesmo montante de forma a garantir a sua sustentabilidade financeira.
Abaixo, estão os fundamentos que serão necessários para ser bem sucedido nos investimentos dentro desse novo contexto.
O mapa Esqueça objetivos de curto, médio e longo prazo. Você tem apenas um objetivo: viver bem até o último dia da sua vida de forma sustentável - patrimonial e financeiramente. E existem dois elementos que impactam como será a jornada e o que você precisará em termos de gestão de investimentos e patrimônio.
- Transições de vida Essas transições se dividem em quatro áreas: carreira/negócios, filhos, moradia e casamento. Aqui serão demandadas decisões em diversos momentos da vida como por exemplo: nascimento do filho, ida para a faculdade, abertura de um negócio, organização societária, futura venda etc. E tudo o que decidir terá alta relevância em como será a gestão do seu patrimônio e dos investimentos, seja do ponto de vista de construção, proteção ou usufruto.
- Estilo de vida Esse elemento tem mais a ver com dia a dia e o padrão de vida. Aqui, o impacto é direto no tamanho do patrimônio que precisará construir para manter a sustentabilidade desse estilo. E, consequentemente, quanto tempo isso vai levar e o esforço que será necessário fazer.
Cada família deve ter o seu mapa, que contemple a jornada de onde está, os pontos de parada, e o ponto de chegada. A partir daí, é possível também entender sobre os principais recursos que viabilizam o processo: tempo e dinheiro.
O alvo Uma das perguntas mais importantes que o investidor precisa responder é: qual a rentabilidade necessária para viabilizar a execução da jornada contida no mapa?
Por incrível que pareça, pouquíssimos investidores tem uma resposta (razoável) para essa pergunta. Geralmente são duas: 1) Não sei. 2) A maior rentabilidade possível.
Nesses dois cenários, o jogo já está perdido mesmo antes de entrar em campo. A probabilidade de incorrer em vieses prejudiciais e tomar decisões que atrapalham a performance dos investimentos é alta.
Para encontrar a resposta correta é necessário levar em consideração, dentre outros fatores: capacidade e tolerância para suportar determinados riscos; possíveis restrições de investimentos por parte do investidor; resultados históricos das classes de ativos elegíveis. O mix desses fatores levará a um alvo de rentabilidade que é pessoal e intransferível.
Construindo e gerindo o Portfólio
Uma vez que a rentabilidade a ser atingida está definida é hora de tomar decisões para construir o portfólio.
O primeiro passo é selecionar as classes de ativos que serão elegíveis para a construção e fazer uma análise de atributos básicos como retorno, risco e correlação, ou seja, como essas classes serão combinadas e o peso de cada uma no portfólio.
O segundo passo é a definição de fatores funcionais. Nessa fase, é importante ter uma filosofia de investimento consolidada para que as decisões sejam maduras. Dentre os fatores pode-se levar em consideração: para cada classe de ativo quantos % de gestão ativa e passiva, ou até mesmos se será uma ou outra; qual será a exposição geográfica e onde estarão domiciliados os investimentos; veículos a serem utilizados: investimento direto nos ativos, ETF, fundos, previdência, entre outros.
O terceiro e último da construção é a seleção dos ativos/produtos propriamente dita.
Antes do portfólio ser inicializado é importante ter premissas formalizadas de como ele será gerido. Ou para simplificar, regras de balanceamento, quais são os gatilhos para alterações de ativos e mudança de direção. Dessa forma, em momentos de volatilidade, ao invés de tomar decisões precipitadas, o investidor irá decidir buscando entender se a sua filosofia e suas premissas ainda são válidas, ou se precisam ser revisadas.
Incorporando o roteiro acima, o investidor se protege de dois grandes erros que comprometem a formação e manutenção de patrimônio e investimentos para a longevidade:
- Acreditar que a gestão de investimentos é somente seleção de produtos/ativos.
- Mudança constante do portfólio baseado em notícias e investimentos do momento.
Uma vida mais longeva demanda também mais cuidado na gestão de patrimônio. Logo, os investidores precisam se estruturar melhor para tomar melhores decisões de investimentos que serão a base para uma boa vida. Afinal, não é uma corrida de cem metros. É uma longa maratona.
E você, está preparado? Sucesso e longevidade nos seus investimentos.