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“O futuro é incerto e o fim está sempre perto!”

Frase de Jim Morrison, do álbum Roadhouse Blues de 1970 ressoa, até hoje, e está presente também dentro do mercado financeiro

Estudo sugere que bolsa brasileira não está tão barata quanto aparenta | Foto : Virojt Changyencham/ Getty Images (Virojt Changyencham/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 22 de março de 2022 às 17h40.

Última atualização em 22 de março de 2022 às 17h42.

Por Leonardo Bivar

John Kenneth Galbraith é um economista canadense de grande influência para o

pensamento econômico e político do século XX. Falava que existem dois tipos de profissionais que fazem previsões: aqueles que não sabem, e aqueles que não sabem que não sabem.

As aplicações de ferramentas utilizadas pelas ciências sociais para medir a incerteza em problemas do mundo real sempre tiveram efeitos pífios. Existe uma armadilha muito perigosa que nos leva a pensar que o mundo em que vivemos é mais compreensível, mais evidente e, portanto, mais previsível do que ele realmente é.

O mundo se forja rapidamente, com choques de novas tecnologias, novos valores, novas relações geopolíticas, novos estilos de vida, de comunicação e de relações interpessoais, exigindo uma nova maneira de encararmos novos conceitos, ideias e perspectivas fora dos cubículos convencionais de ontem. Não importa o quão impactante e útil foram no passado, velhas fórmulas, ideologias e dogmas podem não mais se ajustar aos fatos.

Ter a noção de que as mudanças que enfrentamos serão revolucionárias, no entanto, não é suficiente. Precisamos, de alguma forma, mergulhar na ideia de que não existe lugar marcado no futuro, nem para pessoas, nem para empresas. Subestimamos a influência do acaso em quase tudo, e é fundamental nos livrarmos do viés retrospectivo que nos leva a uma percepção equivocada de que os eventos do passado se conduziram com menos aleatoriedade do que o acontecido. Devemos descondicionar a nossa mente em pensar que o mundo tem muito menos aleatoriedade do que a realidade.

Epidemia, desastres naturais, tensões internacionais, guerra, o sucesso de uma invenção tecnológica disruptiva em larga escala: tudo pode afetar o andamento do mercado e alterar o futuro de forma catastrófica, pouco a pouco ou repentinamente.

Muito de nossa confusão, angústia e desorientação pessoal podem ser atribuídas ao conflito dentro de nós mesmos.

Somos a geração final de uma velha civilização e a primeira geração de uma nova, o que Alvin Toffler, já na década de 1970, chamava de “terceira onda”: a era da informação, - levantando a ideia de que uma economia pudesse vir a depender de coisas imateriais. Especular sobre o futuro não é ignorar o acaso e a aleatoriedade, que são inerentes a vida, fazendo dela um conjunto de impactos significativos. Mas as especulações sobre o futuro também costumam ser úteis na organização de pensamentos sobre o presente onde muitas das mesmas condições que produzem os maiores perigos de hoje também abrem novos e fascinantes potenciais.

Ter a lucidez de que a incerteza é uma característica importante no desenho de um portfólio e que as forças econômicas não são compreendidas o suficiente a ponto de traçar previsões que trarão um sucesso garantido de um determinado ativo é fundamental.

A única certeza que temos é que a melhor maneira de mitigar risco é através da diversificação. Assim como Harry M. Markowitz, prêmio Nobel de economia, apontou, “A diversificação é o último almoço grátis do mercado”.

Markowitz desenvolveu a chamada teoria moderna de portfólio (TMP), estudando os efeitos do risco, retorno, correlação e diversificação de ativos nos retornos prováveis ​​de portfólio de investimentos, demonstrando que uma carteira diversificada é menos volátil do que a soma total de suas partes individuais.

Parece que a palavra diversificação ficou tão batida que caiu em descrédito, virou um clichê, porque diversificar é simples.

A maior falha do investidor pessoa física talvez seja não enxergar a carteira como um todo, fincado em uma crença de que todas as classes de ativos têm que andar igual e linearmente, quando de fato, se isso acontece de forma contínua, podemos apontar que tem algo de errado com a alocação.

O principal papel do profissional de investimentos é conhecer ao máximo o cliente, reconhecer o seu perfil de forma única, como indivíduo, e, a partir daí, acompanhá-lo, evitando que ele caia nas armadilhas da sua própria mente, se ancorando em vieses e heurísticas que venham a interferir nas decisões de investimentos.

Coisas péssimas acontecem quando um investidor toma uma decisão com base em sentimentos.

Um portfólio tem que ter um alinhamento muito mais voltado para o perfil de risco do investidor do que, de repente, para as condições de mercado. Vários estudos conduzidos no mercado norte americano ao longo de décadas evidenciam que mais de 80% do resultado de um portfólio de investimentos deriva de uma boa alocação global da carteira, colocando fatores como seleção de ativos e market timing em segundo plano.

O sucesso financeiro é muito mais do que uma habilidade técnica, é uma habilidade pessoal, na qual o seu comportamento tem uma importância muito maior do que se imagina.

Leonardo Bivar, é sócio fundador da Sonora Capital, possui mais de 20 anos no mercado de capitais com passagens por gestoras e empresas de assessoria. Leonardo possui MBA internacional em Gestão Financeira e Controladoria pela FGV-UCI, pós-graduação em operações em comercio exterior pela Universidade da California, e possui a certificação ANBIMA de especialista em investimentos.

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Por Leonardo Bivar

John Kenneth Galbraith é um economista canadense de grande influência para o

pensamento econômico e político do século XX. Falava que existem dois tipos de profissionais que fazem previsões: aqueles que não sabem, e aqueles que não sabem que não sabem.

As aplicações de ferramentas utilizadas pelas ciências sociais para medir a incerteza em problemas do mundo real sempre tiveram efeitos pífios. Existe uma armadilha muito perigosa que nos leva a pensar que o mundo em que vivemos é mais compreensível, mais evidente e, portanto, mais previsível do que ele realmente é.

O mundo se forja rapidamente, com choques de novas tecnologias, novos valores, novas relações geopolíticas, novos estilos de vida, de comunicação e de relações interpessoais, exigindo uma nova maneira de encararmos novos conceitos, ideias e perspectivas fora dos cubículos convencionais de ontem. Não importa o quão impactante e útil foram no passado, velhas fórmulas, ideologias e dogmas podem não mais se ajustar aos fatos.

Ter a noção de que as mudanças que enfrentamos serão revolucionárias, no entanto, não é suficiente. Precisamos, de alguma forma, mergulhar na ideia de que não existe lugar marcado no futuro, nem para pessoas, nem para empresas. Subestimamos a influência do acaso em quase tudo, e é fundamental nos livrarmos do viés retrospectivo que nos leva a uma percepção equivocada de que os eventos do passado se conduziram com menos aleatoriedade do que o acontecido. Devemos descondicionar a nossa mente em pensar que o mundo tem muito menos aleatoriedade do que a realidade.

Epidemia, desastres naturais, tensões internacionais, guerra, o sucesso de uma invenção tecnológica disruptiva em larga escala: tudo pode afetar o andamento do mercado e alterar o futuro de forma catastrófica, pouco a pouco ou repentinamente.

Muito de nossa confusão, angústia e desorientação pessoal podem ser atribuídas ao conflito dentro de nós mesmos.

Somos a geração final de uma velha civilização e a primeira geração de uma nova, o que Alvin Toffler, já na década de 1970, chamava de “terceira onda”: a era da informação, - levantando a ideia de que uma economia pudesse vir a depender de coisas imateriais. Especular sobre o futuro não é ignorar o acaso e a aleatoriedade, que são inerentes a vida, fazendo dela um conjunto de impactos significativos. Mas as especulações sobre o futuro também costumam ser úteis na organização de pensamentos sobre o presente onde muitas das mesmas condições que produzem os maiores perigos de hoje também abrem novos e fascinantes potenciais.

Ter a lucidez de que a incerteza é uma característica importante no desenho de um portfólio e que as forças econômicas não são compreendidas o suficiente a ponto de traçar previsões que trarão um sucesso garantido de um determinado ativo é fundamental.

A única certeza que temos é que a melhor maneira de mitigar risco é através da diversificação. Assim como Harry M. Markowitz, prêmio Nobel de economia, apontou, “A diversificação é o último almoço grátis do mercado”.

Markowitz desenvolveu a chamada teoria moderna de portfólio (TMP), estudando os efeitos do risco, retorno, correlação e diversificação de ativos nos retornos prováveis ​​de portfólio de investimentos, demonstrando que uma carteira diversificada é menos volátil do que a soma total de suas partes individuais.

Parece que a palavra diversificação ficou tão batida que caiu em descrédito, virou um clichê, porque diversificar é simples.

A maior falha do investidor pessoa física talvez seja não enxergar a carteira como um todo, fincado em uma crença de que todas as classes de ativos têm que andar igual e linearmente, quando de fato, se isso acontece de forma contínua, podemos apontar que tem algo de errado com a alocação.

O principal papel do profissional de investimentos é conhecer ao máximo o cliente, reconhecer o seu perfil de forma única, como indivíduo, e, a partir daí, acompanhá-lo, evitando que ele caia nas armadilhas da sua própria mente, se ancorando em vieses e heurísticas que venham a interferir nas decisões de investimentos.

Coisas péssimas acontecem quando um investidor toma uma decisão com base em sentimentos.

Um portfólio tem que ter um alinhamento muito mais voltado para o perfil de risco do investidor do que, de repente, para as condições de mercado. Vários estudos conduzidos no mercado norte americano ao longo de décadas evidenciam que mais de 80% do resultado de um portfólio de investimentos deriva de uma boa alocação global da carteira, colocando fatores como seleção de ativos e market timing em segundo plano.

O sucesso financeiro é muito mais do que uma habilidade técnica, é uma habilidade pessoal, na qual o seu comportamento tem uma importância muito maior do que se imagina.

Leonardo Bivar, é sócio fundador da Sonora Capital, possui mais de 20 anos no mercado de capitais com passagens por gestoras e empresas de assessoria. Leonardo possui MBA internacional em Gestão Financeira e Controladoria pela FGV-UCI, pós-graduação em operações em comercio exterior pela Universidade da California, e possui a certificação ANBIMA de especialista em investimentos.

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