Colunistas

Independência, pressuposto inegociável

Quando a ausência de conflito se torna vantagem competitiva

 (Wipas_Rojjanakard/Getty Images)

(Wipas_Rojjanakard/Getty Images)

PE
Panorama Econômico

Panorama Econômico

Publicado em 22 de dezembro de 2025 às 08h11.

Por Eduardo Tellechea Cairoli, fundador e CEO da Privatto Multi Family Office

 

Com o amadurecimento do mercado financeiro brasileiro, famílias empresárias e investidores de alta renda passaram a questionar não apenas a rentabilidade de suas carteiras, mas também o modelo de gestão por trás delas. Em muitos casos, a resposta veio por meio da transição para estruturas mais alinhadas aos seus interesses de longo prazo, como os Single Family Offices e os Multi Family Offices (MFOs), que permitem o acesso de famílias empresárias a estruturas com profissionais de alta qualidade e performance nos serviços, centralizando a inteligência dos investimentos, com uma visão holística e de longo prazo.

Diferentemente de bancos, corretoras ou escritórios de assessoria, que frequentemente são remunerados pela distribuição de produtos próprios, os MFOs atuam com um modelo fee-based e, principalmente, com independência. Na prática, isso significa que não ganham comissão por alocar papéis como debêntures, CRIs ou fundos estruturados — muitas vezes empurrados ao cliente sem a devida avaliação de risco e da capacidade de pagamento do emissor. O investidor, nesse modelo tradicional, frequentemente se torna o elo final de uma cadeia de distribuição que prioriza a colocação conforme os interesses das instituições, em detrimento da qualidade do ativo, distorcendo a relação entre “prêmio e risco”.

Essa distorção, que passou a ser percebida com mais clareza após episódios de inadimplência e perdas com aplicações financeiras, tem levado um número crescente de investidores a buscar estruturas com profissionais de ponta, que centralizam inteligência, mas atuam de forma técnica, rigorosa e isenta. A expansão dos Multi Family Offices é um reflexo direto dessa demanda. Segundo levantamento da Anbima, o número de casas desse tipo no Brasil passou de 80, em 2020, para 146, em 2023 — mais do que o dobro em apenas três anos.

Via de regra, nos MFOs, há uma forte ancoragem no planejamento financeiro de longo prazo, com avaliações e análises que passam por um comitê de investimentos, sem qualquer incentivo comercial por trás das recomendações. Esse processo — somado à ausência de vínculo contratual ou societário com corretoras ou bancos — permite uma estrutura transparente, que busca o que há de melhor para o cliente. Pode-se errar — como qualquer gestora —, mas jamais por conflito de interesses.

Atuar de forma independente exige compromisso com o cliente e, muitas vezes, renúncia a receitas que comprometeriam essa premissa. Contudo, é essa clareza de valores que sustenta relações de confiança duradouras e uma gestão patrimonial capaz de atravessar gerações. Entre aquilo que é possível oferecer e aquilo que é certo fazer, o Multi Family Office independente escolhe sempre a segunda opção.