Exame.com
Continua após a publicidade

Ética, nos outros é refresco

Dilema: ética teórica ou atitudes éticas?

 (Freepik/Freepik)
(Freepik/Freepik)

Durante minha trajetória profissional, me deparei com algumas tendências ou modismos de época dentro do mundo corporativo. As empresas e seus colaboradores entram em uma dinâmica para se adequarem mediante as novas normativas e diretrizes para estarem aptas a nova ordem. 

Breve relato 

  • Anos 1980/90: IS0 9000 foi implementada no final dos anos 1980 com o objetivo na melhoria de qualidade e de processos principalmente nas capacitações.  
  • Anos 2000: Lei Sarbanes-Oxley ou, para os íntimos, SARBOX. No início dos anos 2000, originada pelos escândalos financeiros, o mais conhecido caso Enron, a lei focava mais em auditoria e segurança com o objetivo de mitigar todos os fatores de riscos.  
  • Anos 2005 e até hoje: ESG (do Inglês Environmental, Social, Corporate Governance); Governança ambiental, social e corporativa. Tem como objetivos que vão além das ganancias de lucratividade das empresas, abrange uma esfera de um determinado conjunto formado por esta tríade e mediante isso, há métricas atuais que podem mensurar em que ponto uma empresa está alinhada ou não com estas premissas ou qual índice de adesão e qual seu nível de aderência.  

Estes ciclos aparecem mediante um risco sistêmico causado por um escândalo ou por busca de melhorias até que caiam no esquecimento ou são absorvidas em nosso cotidiano de forma rotineira dentro das melhores práticas na teoria de administração organizacional. 

Tudo lindo e maravilhoso conceitualmente nas bandeiras as quais carregamos - algumas com orgulho, algumas por obrigatoriedade, as quais inclusive ano a ano encarecem nosso custo fixo. Na nossa área de Gestão de Patrimônio, por exemplo, nos últimos anos, podemos elencar Compliance, Riscos, LGPD, Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Provavelmente, novas regulamentações virão em breve de forma direta ou indiretamente.  

Estamos sempre nos escorando em terminologias, simbologias e licenças registradas, para de fato nos sobressairmos em um mercado competitivo e termos um diferencial.  

Dilemas éticos 

O mercado financeiro às vezes corrobora contra a humildade.  

Como podemos ser humildes se precisamos estar sempre se superando e se provando diante de um mercado extremamente exigente? (Afinal, rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura).  

A soberba pode ser uma armadilha, pois o mercado financeiro não depende de você. Às vezes, investidores acham que temos o ovo de colombo como uma informação privilegiada ou a melhor alocação de ativos. Porém, somos parte de um ecossistema ao qual todos fazem uma posição distinta e é justamente isso que gera o equilíbrio de mercado.  

De nada adianta se na verdade estamos vestidos de cordeiro sendo lobo. Nem tão pouco podemos ser parcialmente cordeiros quando for conveniente. 

Valores éticos reais deveriam ser ensinados em casa no ambiente familiar desde a nossa tenra infância, ser base do caráter de todos nós. Após a vida adulta, apenas deveríamos aperfeiçoar e lapidar mediante as experiências de vida que os anos nos trazem e as cascas as quais criamos, tanto positivas e principalmente as negativas. Princípios fundamentais da conduta humana de ser correto. 

Um dos grandes segredos da vida deveria ser a humildade e atitudes independente do status que você possui, seja um CEO ou um colaborador da base de uma organização.  Somos seres humanos antes de tudo e um simples bom dia deveria fazer parte do índice ESG. 

Bio do autor:

Bernardo Goldsztajn é Head de Wealth Management e sócio na Constância Investimentos. Com mais de 20 anos atuando no mercado financeiro, é consultor de valores mobiliários pela CVM e formação com MBA pelo IBMEC. A área de Gestão de Patrimônio da Constância Investimentos é independente, com gestão de ativos domésticos e gestão internacional.