Dólar: é hora de comprar ou vender?
A volatilidade é muito alta e, para o trader conseguir um bom PnL, necessariamente precisa entender as variáveis que afetam a dinâmica desse mercado
Da Redação
Publicado em 25 de agosto de 2021 às 14h08.
Por Pedro Henrique Faria
Essa é uma das perguntas que mais recebemos na Mogno Capital. Acredito que, além de os clientes entenderem que o dólar é uma variável fundamental para a preservação do seu patrimônio, a crescente oferta de produtos dolarizados contribuiu muito para o aumento do interesse pelo assunto.
Juros & Moedas é uma das principais estratégias do book proprietário de grandes bancos, e isso tem uma razão: a volatilidade é muito alta e, para o trader conseguir um bom PnL, necessariamente precisa entender as variáveis que afetam a dinâmica desse mercado.
Já o papel de um alocador de capital é outro, e deve se preocupar, em última instância, com a preservação do patrimônio do investidor. Sendo assim, a minha visão de mundo é um pouco diferente e, no decorrer desse texto, vou tentar exemplificar o motivo pelo qual manter uma parcela do seu patrimônio dolarizado é tão importante.
Antes de mais nada, separei pelo menos cinco variáveis que afetam o preço do câmbio: (I) inflação, (II) política monetária nacional e internacional, (III) risco político e fiscal, (IV) commodities e (V) posição técnica do mercado.
Com relação à inflação (I), o mainstream econômico continua com o discurso de que é transitória e, portanto, não é motivo para grandes preocupações neste momento. Caso ela persista, os governos possuem as ferramentas para trabalhar, onde entra a política monetária (II). O FED está sendo claro ao mostrar ao mercado que a taxa de juros americana seguirá acomodatícia mesmo com inflações em patamares mais elevados. Por aqui, Campos Neto, atual presidente do Banco Central do Brasil, acelerou a trajetória de alta de juros, e hoje o mercado aposta em uma taxa próxima a 7,50% já no final de 2021.
O Brasil segue com sua agenda política volátil, e até mesmo a autonomia do nosso Banco Central foi colocada em discussão nos últimos dias com o Presidente Bolsonaro supostamente admitindo que teria se arrependido de sancionar a lei que garante a autonomia da instituição. Um momento que já era delicado, com o sell-off nos mercados internacionais, ficou ainda pior com a discussão em torno do teto de gastos, outro assunto em que os analistas prestam muita atenção.
Por outro lado, a variável commodities (IV) vem nos favorecendo. A China segue demandando mais do que nunca para suprir sua necessidade interna de alimentar mais de 1/3 da população mundial e, também, demandando commodities ferrosas para impulsionar sua infraestrutura. Com relação a esse último ponto, o mundo inteiro passou a demandar muitas commodities em um movimento quase coordenado de recuperação econômica.
Por último, a posição técnica do mercado (V) nos mostra que, apesar de o BRL estar barato e com o carry em níveis decentes, o mercado procura a moeda como um instrumento de hedge, se aproveitando de sua alta liquidez. Nas últimas semanas os fundos de investimentos compraram em torno de USD 7bn, o que é muito para os níveis de preço atuais. Qualquer noticiário mais positivo, tanto localmente quanto lá fora, deveria ser o trigger para um alívio no câmbio, desencadeando um movimento de stop.
Agora que conhecemos pelo menos cinco das principais variáveis que afetam o câmbio, como utilizá-las para operar no mercado? Quais instrumentos estão disponíveis hoje para o investidor, do mais amador ao profissional? É hora de comprar ou vender ativos dolarizados? Qual porcentagem da carteira faz sentido manter em dólar? Vou tentar direcionar as respostas a essas perguntas nos próximos parágrafos, porém gostaria de afirmar que elas fazem parte de uma estratégia adotada na Mogno Capital com os nossos clientes e, de maneira alguma, devem ser vistas como recomendação de investimento.
Talvez a maneira mais simples e fácil para os clientes investirem lá fora seja através de fundos de investimento dedicados à exposição offshore. Neste sentido existem alguns bons exemplos disponíveis nas plataformas, como fundos da BridgeWater, Morgan Stanley, Oaktree e Man AHL, entre outros. Note que esses investimentos podem estar hedgeados e, portanto, o investidor poderá optar ou não pela exposição em USD.
Os clientes que gostam de Renda Variável irão, provavelmente, se interessar pela exposição em BDRs, ou seja, em recibos de ações estrangeiras listadas na B3. Com os BDRs o investidor brasileiro pode ter acesso às ações da Apple (AAPL34), Alphabet (GOGL34), Microsoft (MFST34), Tesla (TSLA34), Mercado Libre (MELI34), Amazon (AMZO34), Alibaba (BABA34), Facebook (FBOK34) e Disney (DISB34).
Subindo um nível de sofisticação e partindo do princípio de que a abertura de contas no exterior está mais fácil do que antigamente, existem os clientes que conseguem operar em corretoras offshore e, portanto, com exposição a todos os produtos disponíveis no mercado estrangeiro, desde bonds às ações e ETFs.
Falando um pouco mais de ETFs e ações, é possível operar em um dos veículos mais conhecidos do mundo, o $QQQ – de empresas de tecnologia americana. Também é possível ter exposição à tese de tecnologia chinesa pelo $KWEB ou a bancos através do $XLF, entre vários outros setores como Petróleo (USO), Prata (SLV), Mineradores de Ouro (GDX), Cobre (CPER) e talvez um dos trades que a Mogno mais ganhou dinheiro nos últimos 3 anos, por ter entrado no pre-IPO da mineradora brasileira SIGMA LITHIUM (SGMA), listada na bolsa de Toronto. Compramos o papel a @0.50 cents de dólar, e hoje o papel está negociando próximo a @9.00, ou seja, com uma valorização de 18x. Seguimos confiantes na empresa, no management e na tese de que o Lítio permanecerá tendo um papel de destaque na transição tecnológica dos motores de combustão para os motores elétricos.
Dito isso, com o cenário turbulento, instrumentos locais e offshore disponíveis para bons investimentos, a pergunta correta não deveria ser “comprar ou não comprar dólar?”, mas sim “quanto de exposição ao dólar devo ter no meu portfólio?”. Para responder a essa pergunta, é necessário entender o perfil de risco de cada investidor, mas o que podemos visualizar na imagem abaixo é que estar exposto a ativos dolarizados irá reduzir a volatilidade da sua carteira no longo prazo, aumentar seu retorno e proteger seu sono em caso de crises financeiras.
*Pedro Henrique Faria iniciou sua carreira no Wealth Management do banco BNP Paribas em 2014, trabalhou no BTG Pactual nas unidades de Wealth Management Brasil e Offshore, sendo sua última experiência na sede do banco em Nova Iorque. Hoje é Head Comercial de Wealth Management na Mogno Capital, uma das principais gestoras de capital independente fundada em 2016 por um time de ex-sócios da Hedging Griffo.
Por Pedro Henrique Faria
Essa é uma das perguntas que mais recebemos na Mogno Capital. Acredito que, além de os clientes entenderem que o dólar é uma variável fundamental para a preservação do seu patrimônio, a crescente oferta de produtos dolarizados contribuiu muito para o aumento do interesse pelo assunto.
Juros & Moedas é uma das principais estratégias do book proprietário de grandes bancos, e isso tem uma razão: a volatilidade é muito alta e, para o trader conseguir um bom PnL, necessariamente precisa entender as variáveis que afetam a dinâmica desse mercado.
Já o papel de um alocador de capital é outro, e deve se preocupar, em última instância, com a preservação do patrimônio do investidor. Sendo assim, a minha visão de mundo é um pouco diferente e, no decorrer desse texto, vou tentar exemplificar o motivo pelo qual manter uma parcela do seu patrimônio dolarizado é tão importante.
Antes de mais nada, separei pelo menos cinco variáveis que afetam o preço do câmbio: (I) inflação, (II) política monetária nacional e internacional, (III) risco político e fiscal, (IV) commodities e (V) posição técnica do mercado.
Com relação à inflação (I), o mainstream econômico continua com o discurso de que é transitória e, portanto, não é motivo para grandes preocupações neste momento. Caso ela persista, os governos possuem as ferramentas para trabalhar, onde entra a política monetária (II). O FED está sendo claro ao mostrar ao mercado que a taxa de juros americana seguirá acomodatícia mesmo com inflações em patamares mais elevados. Por aqui, Campos Neto, atual presidente do Banco Central do Brasil, acelerou a trajetória de alta de juros, e hoje o mercado aposta em uma taxa próxima a 7,50% já no final de 2021.
O Brasil segue com sua agenda política volátil, e até mesmo a autonomia do nosso Banco Central foi colocada em discussão nos últimos dias com o Presidente Bolsonaro supostamente admitindo que teria se arrependido de sancionar a lei que garante a autonomia da instituição. Um momento que já era delicado, com o sell-off nos mercados internacionais, ficou ainda pior com a discussão em torno do teto de gastos, outro assunto em que os analistas prestam muita atenção.
Por outro lado, a variável commodities (IV) vem nos favorecendo. A China segue demandando mais do que nunca para suprir sua necessidade interna de alimentar mais de 1/3 da população mundial e, também, demandando commodities ferrosas para impulsionar sua infraestrutura. Com relação a esse último ponto, o mundo inteiro passou a demandar muitas commodities em um movimento quase coordenado de recuperação econômica.
Por último, a posição técnica do mercado (V) nos mostra que, apesar de o BRL estar barato e com o carry em níveis decentes, o mercado procura a moeda como um instrumento de hedge, se aproveitando de sua alta liquidez. Nas últimas semanas os fundos de investimentos compraram em torno de USD 7bn, o que é muito para os níveis de preço atuais. Qualquer noticiário mais positivo, tanto localmente quanto lá fora, deveria ser o trigger para um alívio no câmbio, desencadeando um movimento de stop.
Agora que conhecemos pelo menos cinco das principais variáveis que afetam o câmbio, como utilizá-las para operar no mercado? Quais instrumentos estão disponíveis hoje para o investidor, do mais amador ao profissional? É hora de comprar ou vender ativos dolarizados? Qual porcentagem da carteira faz sentido manter em dólar? Vou tentar direcionar as respostas a essas perguntas nos próximos parágrafos, porém gostaria de afirmar que elas fazem parte de uma estratégia adotada na Mogno Capital com os nossos clientes e, de maneira alguma, devem ser vistas como recomendação de investimento.
Talvez a maneira mais simples e fácil para os clientes investirem lá fora seja através de fundos de investimento dedicados à exposição offshore. Neste sentido existem alguns bons exemplos disponíveis nas plataformas, como fundos da BridgeWater, Morgan Stanley, Oaktree e Man AHL, entre outros. Note que esses investimentos podem estar hedgeados e, portanto, o investidor poderá optar ou não pela exposição em USD.
Os clientes que gostam de Renda Variável irão, provavelmente, se interessar pela exposição em BDRs, ou seja, em recibos de ações estrangeiras listadas na B3. Com os BDRs o investidor brasileiro pode ter acesso às ações da Apple (AAPL34), Alphabet (GOGL34), Microsoft (MFST34), Tesla (TSLA34), Mercado Libre (MELI34), Amazon (AMZO34), Alibaba (BABA34), Facebook (FBOK34) e Disney (DISB34).
Subindo um nível de sofisticação e partindo do princípio de que a abertura de contas no exterior está mais fácil do que antigamente, existem os clientes que conseguem operar em corretoras offshore e, portanto, com exposição a todos os produtos disponíveis no mercado estrangeiro, desde bonds às ações e ETFs.
Falando um pouco mais de ETFs e ações, é possível operar em um dos veículos mais conhecidos do mundo, o $QQQ – de empresas de tecnologia americana. Também é possível ter exposição à tese de tecnologia chinesa pelo $KWEB ou a bancos através do $XLF, entre vários outros setores como Petróleo (USO), Prata (SLV), Mineradores de Ouro (GDX), Cobre (CPER) e talvez um dos trades que a Mogno mais ganhou dinheiro nos últimos 3 anos, por ter entrado no pre-IPO da mineradora brasileira SIGMA LITHIUM (SGMA), listada na bolsa de Toronto. Compramos o papel a @0.50 cents de dólar, e hoje o papel está negociando próximo a @9.00, ou seja, com uma valorização de 18x. Seguimos confiantes na empresa, no management e na tese de que o Lítio permanecerá tendo um papel de destaque na transição tecnológica dos motores de combustão para os motores elétricos.
Dito isso, com o cenário turbulento, instrumentos locais e offshore disponíveis para bons investimentos, a pergunta correta não deveria ser “comprar ou não comprar dólar?”, mas sim “quanto de exposição ao dólar devo ter no meu portfólio?”. Para responder a essa pergunta, é necessário entender o perfil de risco de cada investidor, mas o que podemos visualizar na imagem abaixo é que estar exposto a ativos dolarizados irá reduzir a volatilidade da sua carteira no longo prazo, aumentar seu retorno e proteger seu sono em caso de crises financeiras.
*Pedro Henrique Faria iniciou sua carreira no Wealth Management do banco BNP Paribas em 2014, trabalhou no BTG Pactual nas unidades de Wealth Management Brasil e Offshore, sendo sua última experiência na sede do banco em Nova Iorque. Hoje é Head Comercial de Wealth Management na Mogno Capital, uma das principais gestoras de capital independente fundada em 2016 por um time de ex-sócios da Hedging Griffo.