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Como se posicionar em momentos de estresse no mercado em 2022?

O ano que se inicia na virada deste mês traz consigo o legado de um Brasil em desaceleração econômica e inflação ainda fora do controle

Painel de cotação da B3 (Germano Lüders/Exame)
DR

Da Redação

Publicado em 23 de dezembro de 2021 às 14h02.

Por Luiz Fernando Franklin Ribeiro

O ano de 2021 começou com tom de recuperação no mercado brasileiro, que observou retomada da atividade econômica, melhora dos principais indicadores e empresas reportando lucros crescentes ao longo dos primeiros trimestres. Os analistas das maiores instituições financeiras do país passaram a projetar que o Ibovespa, nosso principal índice de ações, encerraria o ano em patamar superior ao de 140 mil pontos.

Entretanto, o alívio experimentado no primeiro semestre do ano, com ensaio de uma vigorosa recuperação após o início do fatídico evento da Covid-19, rapidamente deu lugar a um caótico cenário de inflação, crise hídrica, política e fiscal.

Após atingir sua máxima histórica de 130.776 pontos no dia 7 de junho de 2021, o Ibovespa acumulou meses subsequentes de queda e quase perdeu os 100 mil pontos em novembro.

Toda essa performance negativa do índice foi balizada por piora nas expectativas de inflação e câmbio, no crescimento da economia e na repentina necessidade de forte elevação das taxas de juros por parte do Banco Central do Brasil, que levou a Selic do patamar de 2% a.a. em janeiro para 9,25% a.a. em dezembro do mesmo ano, com indicação de continuidade nos aumentos.

O objetivo do presente artigo não é fazer uma retrospectiva do cenário de 2021, nem mesmo discutir acerca do que nos levou a uma deterioração tão rápida do ambiente político e econômico.

Entretanto, a contextualização se faz importante pois expõe a fragilidade das nossas previsões acerca do futuro e mostra como as condições do ambiente de negócios podem mudar abruptamente. Em momentos como estes, a única crença que permanece inabalada e eficaz é a necessidade de elaboração de um portfólio diversificado, capaz de entregar resultados razoavelmente satisfatórios nos diversos cenários que podem se concretizar à frente.

E o que fica para o ano de 2022?

O ano que se inicia na virada deste mês traz consigo o legado de um Brasil em desaceleração econômica, inflação ainda fora do controle, Selic em forte trajetória de alta e incerteza eleitoral.

As projeções do relatório Focus, divulgado toda segunda-feira pelo Banco Central, indicam pessimismo do mercado para a maioria das variáveis, com expectativa de baixo crescimento e câmbio elevado em 2022.

O impacto da alta da Selic e os temores com a situação política e fiscal do Brasil são as principais barreiras para o avanço do Ibovespa e acabam incentivando uma forte debandada de investidores locais dos ativos de renda variável, o que se traduziu na migração de um massivo fluxo financeiro da renda variável para a renda fixa.

Fundos de ações estão acumulando queda de patrimônio líquido (PL) com a desvalorização dos ativos e com sucessivos pedidos de resgate por parte dos cotistas. O famoso Alaska Black Institucional FIA, do gestor Henrique Bredda, por exemplo, viu seu PL sair da ordem de R$ 2 bilhões para o atual R$ 1,5 bilhão em pouco mais de 5 meses.

Com o fluxo de notícias negativas e a B3 ficando sem pressão compradora na margem (fundos de ações estão vendendo ativos para pagar resgates enquanto pessoas físicas direcionam mais recursos para a renda fixa), o Ibovespa apresenta dificuldade em se descolar do patamar em torno de 100-110 mil pontos.

A proximidade de eleições pouco previsíveis torna mais difícil pensar em um cenário que traga maior credibilidade institucional para o país, com alívio na desvalorização da nossa moeda e na inflação, que está alta em vários países do mundo, principalmente por problemas de oferta ocasionados pelo desarranjo da cadeia de produção global.

Entretanto, a dificuldade em enxergar um cenário melhor à frente não significa que este não possa ocorrer. Isso, com certeza, é um dos principais empecilhos para todos os investidores que tentam acertar os melhores momentos de entrada e saída do mercado (o chamado “market timing”, tão refutado em estudos estatísticos com dados de retornos obtidos por investidores). O fato do futuro parecer difícil não deve ser motivo para o investidor eliminar sua posição em ativos de riscos por medo de perder.

Dessa forma, para ser bem-sucedido, o investidor deve evitar movimentos bruscos de alocação em momentos de tensão como o atual. É sempre válido lembrar que quando uma carteira cai 50%, por exemplo, ela precisa subir 100% para zerar as perdas. Sob essa ótica, não parece boa ideia seguir a “manada” e realizar perda em seus ativos de risco, migrando esses recursos para a renda fixa.

De fato, ótimas oportunidades surgiram na renda fixa, especialmente quando pensamos em relação risco x retorno, o que pode indicar uma leve realocação de carteira em termos de exposição às classes de ativos. Com os juros mais altos, também fica menos oneroso para o investidor carregar uma aplicação de liquidez diária para “caixa de oportunidades”, tão importante em momentos de estresse para fazer negócios a bons preços.

Mas é importante se manter fiel ao seu perfil e a sua tese de investimentos. O verdadeiro retorno vem a longo prazo.

É preciso manter a calma e entender que as incertezas e as oscilações fazem parte do mundo dos investimentos. Elas podem, inclusive, jogar a favor do investidor, possibilitando a compra de diversos ativos a preços baixos.

- Luiz Fernando Franklin Ribeiro, CFP®, é sócio-fundador da FH Advisors e consultor de valores mobiliários credenciado na CVM.

A FH Advisors é uma consultoria de investimentos independente, fundada com o intuito de ajudar as pessoas a investirem melhor seu dinheiro e planejarem sua vida financeira de forma mais eficiente. Todo o trabalho é feito de forma independente das instituições financeiras, eliminando os conflitos de interesses tão presentes nos atendimentos de clientes por gerentes de bancos e assessores de corretoras. A empresa, em pouco mais de 1 ano de atuação, já possui mais de R$ 120 milhões em recursos sob consultoria.

 

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Por Luiz Fernando Franklin Ribeiro

O ano de 2021 começou com tom de recuperação no mercado brasileiro, que observou retomada da atividade econômica, melhora dos principais indicadores e empresas reportando lucros crescentes ao longo dos primeiros trimestres. Os analistas das maiores instituições financeiras do país passaram a projetar que o Ibovespa, nosso principal índice de ações, encerraria o ano em patamar superior ao de 140 mil pontos.

Entretanto, o alívio experimentado no primeiro semestre do ano, com ensaio de uma vigorosa recuperação após o início do fatídico evento da Covid-19, rapidamente deu lugar a um caótico cenário de inflação, crise hídrica, política e fiscal.

Após atingir sua máxima histórica de 130.776 pontos no dia 7 de junho de 2021, o Ibovespa acumulou meses subsequentes de queda e quase perdeu os 100 mil pontos em novembro.

Toda essa performance negativa do índice foi balizada por piora nas expectativas de inflação e câmbio, no crescimento da economia e na repentina necessidade de forte elevação das taxas de juros por parte do Banco Central do Brasil, que levou a Selic do patamar de 2% a.a. em janeiro para 9,25% a.a. em dezembro do mesmo ano, com indicação de continuidade nos aumentos.

O objetivo do presente artigo não é fazer uma retrospectiva do cenário de 2021, nem mesmo discutir acerca do que nos levou a uma deterioração tão rápida do ambiente político e econômico.

Entretanto, a contextualização se faz importante pois expõe a fragilidade das nossas previsões acerca do futuro e mostra como as condições do ambiente de negócios podem mudar abruptamente. Em momentos como estes, a única crença que permanece inabalada e eficaz é a necessidade de elaboração de um portfólio diversificado, capaz de entregar resultados razoavelmente satisfatórios nos diversos cenários que podem se concretizar à frente.

E o que fica para o ano de 2022?

O ano que se inicia na virada deste mês traz consigo o legado de um Brasil em desaceleração econômica, inflação ainda fora do controle, Selic em forte trajetória de alta e incerteza eleitoral.

As projeções do relatório Focus, divulgado toda segunda-feira pelo Banco Central, indicam pessimismo do mercado para a maioria das variáveis, com expectativa de baixo crescimento e câmbio elevado em 2022.

O impacto da alta da Selic e os temores com a situação política e fiscal do Brasil são as principais barreiras para o avanço do Ibovespa e acabam incentivando uma forte debandada de investidores locais dos ativos de renda variável, o que se traduziu na migração de um massivo fluxo financeiro da renda variável para a renda fixa.

Fundos de ações estão acumulando queda de patrimônio líquido (PL) com a desvalorização dos ativos e com sucessivos pedidos de resgate por parte dos cotistas. O famoso Alaska Black Institucional FIA, do gestor Henrique Bredda, por exemplo, viu seu PL sair da ordem de R$ 2 bilhões para o atual R$ 1,5 bilhão em pouco mais de 5 meses.

Com o fluxo de notícias negativas e a B3 ficando sem pressão compradora na margem (fundos de ações estão vendendo ativos para pagar resgates enquanto pessoas físicas direcionam mais recursos para a renda fixa), o Ibovespa apresenta dificuldade em se descolar do patamar em torno de 100-110 mil pontos.

A proximidade de eleições pouco previsíveis torna mais difícil pensar em um cenário que traga maior credibilidade institucional para o país, com alívio na desvalorização da nossa moeda e na inflação, que está alta em vários países do mundo, principalmente por problemas de oferta ocasionados pelo desarranjo da cadeia de produção global.

Entretanto, a dificuldade em enxergar um cenário melhor à frente não significa que este não possa ocorrer. Isso, com certeza, é um dos principais empecilhos para todos os investidores que tentam acertar os melhores momentos de entrada e saída do mercado (o chamado “market timing”, tão refutado em estudos estatísticos com dados de retornos obtidos por investidores). O fato do futuro parecer difícil não deve ser motivo para o investidor eliminar sua posição em ativos de riscos por medo de perder.

Dessa forma, para ser bem-sucedido, o investidor deve evitar movimentos bruscos de alocação em momentos de tensão como o atual. É sempre válido lembrar que quando uma carteira cai 50%, por exemplo, ela precisa subir 100% para zerar as perdas. Sob essa ótica, não parece boa ideia seguir a “manada” e realizar perda em seus ativos de risco, migrando esses recursos para a renda fixa.

De fato, ótimas oportunidades surgiram na renda fixa, especialmente quando pensamos em relação risco x retorno, o que pode indicar uma leve realocação de carteira em termos de exposição às classes de ativos. Com os juros mais altos, também fica menos oneroso para o investidor carregar uma aplicação de liquidez diária para “caixa de oportunidades”, tão importante em momentos de estresse para fazer negócios a bons preços.

Mas é importante se manter fiel ao seu perfil e a sua tese de investimentos. O verdadeiro retorno vem a longo prazo.

É preciso manter a calma e entender que as incertezas e as oscilações fazem parte do mundo dos investimentos. Elas podem, inclusive, jogar a favor do investidor, possibilitando a compra de diversos ativos a preços baixos.

- Luiz Fernando Franklin Ribeiro, CFP®, é sócio-fundador da FH Advisors e consultor de valores mobiliários credenciado na CVM.

A FH Advisors é uma consultoria de investimentos independente, fundada com o intuito de ajudar as pessoas a investirem melhor seu dinheiro e planejarem sua vida financeira de forma mais eficiente. Todo o trabalho é feito de forma independente das instituições financeiras, eliminando os conflitos de interesses tão presentes nos atendimentos de clientes por gerentes de bancos e assessores de corretoras. A empresa, em pouco mais de 1 ano de atuação, já possui mais de R$ 120 milhões em recursos sob consultoria.

 

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