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Assessoria Financeira na “Era do Imprevisto”

"As possibilidades de gerações de valores nos mercados aumentaram exponencialmente, tornando o exercício da atividade uma tarefa pouco trivial"

 (Guido Mieth/Getty Images)
(Guido Mieth/Getty Images)
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Panorama Econômico

Publicado em 11 de janeiro de 2021 às, 15h44.

Última atualização em 11 de janeiro de 2021 às, 15h53.

O avanço das tecnologias digitais vem transformando radicalmente nossas vidas cotidianas, permitindo mais e melhores conexões entre as pessoas, melhorando nossa produtividade e aumentando as possibilidades de desenvolvimento dos diversos campos do conhecimento humano a uma velocidade sem precedentes.

Em paralelo a este avanço acontece a maior pandemia global em mais de 100 anos. A democracia; pilar de nossos valores ocidentais, se vê ameaçada por movimentos populistas e a sustentabilidade da vida humana, a longo prazo no planeta, encontra-se ameaçada pelo aquecimento global e outras agressões ao meio ambiente.

Muitas alternativas em um cenário onde o imprevisto é a norma. Contexto extremamente desafiador para se falar em investimentos e como direcioná-los.

Até, recentemente, as alternativas disponíveis para investir podiam ser facilmente agrupadas em poucos blocos, dentro dos quais as melhores opções eram evidentes. As taxas de juros em patamares próximos aos dois dígitos ajudavam em muito a obtenção de resultados mais que satisfatórios.

A abundância de capital disponibilizada pelos governos vinha pressionando para baixo as taxas de juros ao redor do mundo. A covid-19 paralisou a atividade econômica em muitos setores e a paralisação teve que ser compensada com injeções massivas de capital para garantir a sobrevivência daqueles diretamente afetados. Como era de se esperar, a adição de capital disponível fez com que taxas de juros caíssem ainda mais rapidamente, em alguns países, como o Brasil — as mínimas históricas.

O investimento seguro em títulos de governo de alta liquidez deixou de ser uma alternativa aceitável aos investidores, minimamente, bem informados. Daí a crescente necessidade e consequente demanda por serviços de assessoria financeira. A migração de carteiras de investimentos para fora do sistema bancário tradicional, que já vinha ocorrendo nos últimos 10 anos, foi em muito acelerada, com investidores em busca de maiores e melhores retornos para seus investimentos.

As possibilidades de gerações de valores nos mercados aumentaram exponencialmente, tornando o exercício da atividade uma tarefa pouco trivial. Com o aumento da demanda por inteligência de investimentos, a oferta também cresceu rapidamente. E a uma velocidade tal que muitos dos novos profissionais ingressantes na área ainda buscam complementar suas formações básicas para navegar com segurança neste cenário tão complexo.

É fundamental que o assessor tenha a capacidade de entender a fundo os objetivos de investimento de seu cliente, quer sejam preocupação com liquidez a curto prazo, manutenção ou crescimento de patrimônio a médio prazo e até um legado para as próximas gerações. A partir desse entendimento avaliar a carteira do cliente de forma consolidada, buscando a aderência desta aos objetivos identificados. Em vista da enormidade de possibilidades disponíveis para investimentos, a tarefa de consolidação e otimização de carteiras tornou-se um exercício de alta complexidade.

Sem as ferramentas tecnológicas adequadas, é quase impossível avaliar os diversos componentes que afetam uma carteira, tais como os riscos de diversas naturezas, a correlação entre os diversos tipos de ativos, seu comportamento em situações tanto de bonança como de crises e a relevância de cada ativo vis-a-vis os objetivos macro da carteira. É a disponibilidade deste conjunto de informações que possibilitará um trabalho de qualidade na otimização da carteira do cliente.

Neste contexto de diversidade e incertezas é fundamental que a transparência no trabalho do assessor seja total. A transparência inicia-se com a determinação dos assessores em executar um trabalho com o mínimo possível de conflito de interesses. É quase impossível que o profissional se livre de seus vieses inconscientes, criados ao longo da vida de cada profissional, mas é possível evitar aqueles facilmente mensuráveis pela forma de remuneração de seus serviços. Essa deve ser totalmente independente do tipo de ativo a ser recomendado e da composição macro da carteira.

O aumento de classes de ativos disponíveis é outro desafio para os assessores. Renda fixa e renda variável deixaram de ser as únicas classes a serem consideradas. A composição de ambas já é por si só uma nova classe. O acesso facilmente disponível aos mercados globais oferece novas possibilidades de diversificação, até, recentemente, inacessíveis à maioria dos investidores. O contexto de juros baixos, que aparentemente permanecerão vigentes por um longo período, incentivam o investimento em produtividade e inovação nas mais diversas áreas. Merece atenção especial àquelas que priorizam responsabilidade social, maior utilização de energia renovável, menos agressão ao meio ambiente e preservação da vida com qualidade. Tudo indica a necessidade de muito suporte tecnológico, experiência profissional e total integridade no relacionamento com os clientes.

  • “Era do Imprevisto”, Sérgio Abranches, Cia. Das Letras, 2017

Eduardo Oliveira, formado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da USP, tem mais de 30 anos de mercado, foi Head de Brazil Global Markets do Deutsche Bank e CEO do UBS Wealth Management Brazil. É sócio e CIO da Logus Capital. A Logus Capital é uma Boutique de Investimentos Private fundada em 2017, assessorando investimentos de clientes de forma totalmente independente e sem conflito de interesses, conforme tendência dos mercados internacionais. Atua sem qualquer vínculo com bancos ou corretoras.