A Filosofia do Legado
O equilíbrio entre tradição, inovação e governança nas empresas familiares
Panorama Econômico
Publicado em 23 de dezembro de 2024 às 13h00.
Última atualização em 23 de dezembro de 2024 às 13h01.
No Brasil, os dados sobre a sobrevivência de empresas familiares até as gerações seguintes indicam que 30% das empresas familiares chegam à segunda geração e apenas cerca de 5% a 15% conseguem chegar à terceira geração. Esses números estão alinhados com padrões globais e refletem os desafios enfrentados por essas empresas, como conflitos familiares, falta de planejamento sucessório, questões de governança e adaptação às mudanças de mercado e tecnologia. Essa estatística me choca.
Quando refletimos sobre o legado das empresas familiares, entendemos que estamos lidando com uma dinâmica única, onde tradição e inovação se encontram constantemente. Percebo que cada uma dessas empresas representa uma jornada ao longo do tempo, construída sobre uma base de valores, mas constantemente desafiada pelas demandas do futuro.
Nietzsche dizia que “aquilo que não nos mata, nos fortalece”, uma frase que captura bem o espírito das empresas familiares. A sucessão, por exemplo, é uma fase muitas vezes difícil, mas que, quando conduzida de maneira correta, pode transformar esses momentos de transição em oportunidades para reforçar e adaptar o negócio às novas realidades. A troca de lideranças entre gerações, sem uma governança clara, é uma das maiores fontes de conflito para muitas empresas familiares. Porém, com planejamento adequado, o processo de sucessão pode fortalecer a estrutura empresarial e garantir a continuidade do legado.
É aqui que a governança desempenha um papel crucial. Maquiavel, em O Príncipe, afirma que “os homens mudam de governantes com mais facilidade do que mudam de leis e costumes”. Nas empresas familiares, essa afirmação nos lembra da importância de criar um sistema de governança que respeite os valores e tradições da família, ao mesmo tempo em que integra novas lideranças capazes de manter a empresa competitiva no cenário atual. Implementar um conselho de administração com membros externos e independentes pode ser uma forma eficiente de manter o equilíbrio entre os interesses familiares e as demandas do mercado.
O filósofo Hegel, com sua dialética, nos ensina sobre a tensão entre o passado e o futuro, um dilema que se faz presente nas empresas familiares. O desafio aqui é encontrar um equilíbrio entre a preservação dos valores que definiram o sucesso da empresa no passado e a necessidade de inovação para enfrentar as mudanças do mercado. O novo não deve ser visto como uma ruptura com o passado, mas sim como uma continuação desse legado. Assim como Hegel defendia que o progresso surge da síntese entre teses opostas, as empresas familiares também podem encontrar na dialética entre tradição e inovação a chave para seu crescimento.
No entanto, a inovação nem sempre é bem recebida em empresas familiares que têm uma forte ligação com o passado. Por isso, é vital fomentar uma cultura empresarial onde as novas gerações possam contribuir com suas ideias e perspectivas. Heráclito, em sua filosofia, dizia que “nenhum homem entra no mesmo rio duas vezes”, pois tanto o homem quanto o rio estão em constante mudança. Da mesma forma, as empresas familiares precisam estar abertas a se adaptar às novas realidades sem perder de vista seus valores fundamentais.
Outro aspecto fundamental que discutimos constantemente com as famílias é a responsabilidade social das empresas familiares, que muitas vezes têm um impacto profundo em suas comunidades. Kant, com seu imperativo categórico, nos lembra que devemos agir de forma que nossas ações possam ser universalizadas como uma norma ética. Nas empresas familiares, essa filosofia se traduz na maneira como essas empresas se conectam com suas comunidades e no impacto que geram além do lucro. Falamos tanto em investimento e relação de longo prazo, que precisamos lembrar que devemos construir um universo e uma sociedade para o longo prazo!
Nas empresas familiares, esse legado vai muito além dos resultados financeiros. Ele inclui um senso de responsabilidade para com as comunidades locais, os funcionários e o meio ambiente. A filosofia de Kant nos ensina que devemos agir com base em princípios morais, e muitas empresas familiares adotam essa abordagem, envolvendo-se em iniciativas sociais que reforçam os valores da família e criam impacto positivo para a sociedade. Esse senso de responsabilidade ajuda a perpetuar o legado, conectando o passado ao futuro.
Quando consideramos a transição entre gerações, os desafios das relações familiares são evidentes. Muitas vezes, a emoção se mistura às decisões empresariais, e é aí que o conflito pode surgir. Rousseau, em seu Contrato Social, fala sobre a necessidade de regras claras para a convivência harmoniosa dentro de uma sociedade. De maneira semelhante, as empresas familiares precisam estabelecer um “contrato social” interno, com regras claras sobre papéis e responsabilidades, a fim de separar as decisões empresariais das questões emocionais. A bem da verdade, para alguém que tomou risco ou trabalhou tanto para construir um patrimônio relevante, um pouco mais ou um pouco menos muda pouco a vida. Mas, se a geração seguinte briga por causa de dinheiro ou um filho “puxa o seu saco” por causa de dinheiro, nada valeu a pena. Se tudo está organizado e com governança, a família se ama (ou não) pelas razões corretas.
Por fim, é importante destacar que o sucesso de uma empresa familiar reside em sua capacidade de equilibrar o passado e o futuro. Heráclito também afirmou que “a única constante é a mudança”, e as empresas familiares devem abraçar essa verdade. O futuro será moldado pela capacidade dessas empresas de inovar e se adaptar, sem abandonar os valores que as trouxeram até aqui. As novas gerações têm um papel vital nesse processo, trazendo novas perspectivas e energias que podem fortalecer ainda mais o legado da empresa.
Em conclusão, o legado de uma empresa familiar não é apenas um conjunto de práticas operacionais, mas um verdadeiro reflexo de valores e visões transmitidos ao longo das gerações. Ao mesmo tempo, esse legado só pode ser sustentado se for capaz de se adaptar e evoluir com o tempo. Compreendo que a chave para o sucesso é criar um ambiente onde tradição e inovação possam coexistir, e onde as novas gerações sejam preparadas para levar adiante esse legado. Com governança adequada, uma visão clara de sucessão e um compromisso com a inovação, as empresas familiares podem não apenas sobreviver, mas prosperar por muitas gerações.
Esse é o verdadeiro legado das empresas familiares: uma jornada contínua de adaptação, crescimento e, acima de tudo, um compromisso com os valores que as definem. O futuro, assim como o passado, será moldado por essa dinâmica, e com as ferramentas certas, podemos garantir que esse legado continue a florescer. Isso vale tanto para uma empresa quanto para a organização de uma família.
Bernardo Zajd é sócio fundador da 1618 Investimentos e tem 22 anos de experiência na indústria de Wealth Management. Economista com curso de especialização em Behavioral Finance na Chicago University.
No Brasil, os dados sobre a sobrevivência de empresas familiares até as gerações seguintes indicam que 30% das empresas familiares chegam à segunda geração e apenas cerca de 5% a 15% conseguem chegar à terceira geração. Esses números estão alinhados com padrões globais e refletem os desafios enfrentados por essas empresas, como conflitos familiares, falta de planejamento sucessório, questões de governança e adaptação às mudanças de mercado e tecnologia. Essa estatística me choca.
Quando refletimos sobre o legado das empresas familiares, entendemos que estamos lidando com uma dinâmica única, onde tradição e inovação se encontram constantemente. Percebo que cada uma dessas empresas representa uma jornada ao longo do tempo, construída sobre uma base de valores, mas constantemente desafiada pelas demandas do futuro.
Nietzsche dizia que “aquilo que não nos mata, nos fortalece”, uma frase que captura bem o espírito das empresas familiares. A sucessão, por exemplo, é uma fase muitas vezes difícil, mas que, quando conduzida de maneira correta, pode transformar esses momentos de transição em oportunidades para reforçar e adaptar o negócio às novas realidades. A troca de lideranças entre gerações, sem uma governança clara, é uma das maiores fontes de conflito para muitas empresas familiares. Porém, com planejamento adequado, o processo de sucessão pode fortalecer a estrutura empresarial e garantir a continuidade do legado.
É aqui que a governança desempenha um papel crucial. Maquiavel, em O Príncipe, afirma que “os homens mudam de governantes com mais facilidade do que mudam de leis e costumes”. Nas empresas familiares, essa afirmação nos lembra da importância de criar um sistema de governança que respeite os valores e tradições da família, ao mesmo tempo em que integra novas lideranças capazes de manter a empresa competitiva no cenário atual. Implementar um conselho de administração com membros externos e independentes pode ser uma forma eficiente de manter o equilíbrio entre os interesses familiares e as demandas do mercado.
O filósofo Hegel, com sua dialética, nos ensina sobre a tensão entre o passado e o futuro, um dilema que se faz presente nas empresas familiares. O desafio aqui é encontrar um equilíbrio entre a preservação dos valores que definiram o sucesso da empresa no passado e a necessidade de inovação para enfrentar as mudanças do mercado. O novo não deve ser visto como uma ruptura com o passado, mas sim como uma continuação desse legado. Assim como Hegel defendia que o progresso surge da síntese entre teses opostas, as empresas familiares também podem encontrar na dialética entre tradição e inovação a chave para seu crescimento.
No entanto, a inovação nem sempre é bem recebida em empresas familiares que têm uma forte ligação com o passado. Por isso, é vital fomentar uma cultura empresarial onde as novas gerações possam contribuir com suas ideias e perspectivas. Heráclito, em sua filosofia, dizia que “nenhum homem entra no mesmo rio duas vezes”, pois tanto o homem quanto o rio estão em constante mudança. Da mesma forma, as empresas familiares precisam estar abertas a se adaptar às novas realidades sem perder de vista seus valores fundamentais.
Outro aspecto fundamental que discutimos constantemente com as famílias é a responsabilidade social das empresas familiares, que muitas vezes têm um impacto profundo em suas comunidades. Kant, com seu imperativo categórico, nos lembra que devemos agir de forma que nossas ações possam ser universalizadas como uma norma ética. Nas empresas familiares, essa filosofia se traduz na maneira como essas empresas se conectam com suas comunidades e no impacto que geram além do lucro. Falamos tanto em investimento e relação de longo prazo, que precisamos lembrar que devemos construir um universo e uma sociedade para o longo prazo!
Nas empresas familiares, esse legado vai muito além dos resultados financeiros. Ele inclui um senso de responsabilidade para com as comunidades locais, os funcionários e o meio ambiente. A filosofia de Kant nos ensina que devemos agir com base em princípios morais, e muitas empresas familiares adotam essa abordagem, envolvendo-se em iniciativas sociais que reforçam os valores da família e criam impacto positivo para a sociedade. Esse senso de responsabilidade ajuda a perpetuar o legado, conectando o passado ao futuro.
Quando consideramos a transição entre gerações, os desafios das relações familiares são evidentes. Muitas vezes, a emoção se mistura às decisões empresariais, e é aí que o conflito pode surgir. Rousseau, em seu Contrato Social, fala sobre a necessidade de regras claras para a convivência harmoniosa dentro de uma sociedade. De maneira semelhante, as empresas familiares precisam estabelecer um “contrato social” interno, com regras claras sobre papéis e responsabilidades, a fim de separar as decisões empresariais das questões emocionais. A bem da verdade, para alguém que tomou risco ou trabalhou tanto para construir um patrimônio relevante, um pouco mais ou um pouco menos muda pouco a vida. Mas, se a geração seguinte briga por causa de dinheiro ou um filho “puxa o seu saco” por causa de dinheiro, nada valeu a pena. Se tudo está organizado e com governança, a família se ama (ou não) pelas razões corretas.
Por fim, é importante destacar que o sucesso de uma empresa familiar reside em sua capacidade de equilibrar o passado e o futuro. Heráclito também afirmou que “a única constante é a mudança”, e as empresas familiares devem abraçar essa verdade. O futuro será moldado pela capacidade dessas empresas de inovar e se adaptar, sem abandonar os valores que as trouxeram até aqui. As novas gerações têm um papel vital nesse processo, trazendo novas perspectivas e energias que podem fortalecer ainda mais o legado da empresa.
Em conclusão, o legado de uma empresa familiar não é apenas um conjunto de práticas operacionais, mas um verdadeiro reflexo de valores e visões transmitidos ao longo das gerações. Ao mesmo tempo, esse legado só pode ser sustentado se for capaz de se adaptar e evoluir com o tempo. Compreendo que a chave para o sucesso é criar um ambiente onde tradição e inovação possam coexistir, e onde as novas gerações sejam preparadas para levar adiante esse legado. Com governança adequada, uma visão clara de sucessão e um compromisso com a inovação, as empresas familiares podem não apenas sobreviver, mas prosperar por muitas gerações.
Esse é o verdadeiro legado das empresas familiares: uma jornada contínua de adaptação, crescimento e, acima de tudo, um compromisso com os valores que as definem. O futuro, assim como o passado, será moldado por essa dinâmica, e com as ferramentas certas, podemos garantir que esse legado continue a florescer. Isso vale tanto para uma empresa quanto para a organização de uma família.
Bernardo Zajd é sócio fundador da 1618 Investimentos e tem 22 anos de experiência na indústria de Wealth Management. Economista com curso de especialização em Behavioral Finance na Chicago University.