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Todo respeito à ancestralidade

Agosto é reconhecido como o Mês Indígena, um período dedicado à conscientização e valorização das culturas indígenas no Brasil

Agosto é reconhecido como o Mês Indígena, um período dedicado à conscientização e valorização das culturas indígenas no Brasil (Secretaria da Cultura - SP/Divulgação)
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 30 de agosto de 2024 às 11h38.

Por Cinthia Gherardi*

Agosto é reconhecido como o Mês Indígena, um período dedicado à conscientização e valorização das culturas indígenas no Brasil. No dia 9 de agosto, celebrou-se o Dia dos Povos Indígenas, uma data que ressalta a importância dessas populações na formação e na construção da identidade brasileira. Este mês oferece uma oportunidade para refletir sobre a relevância dos povos originários na preservação dos bens comuns da natureza. Suas práticas retratam um profundo respeito pelo meio ambiente, utilizando apenas o necessário e preservando os recursos.

Se há uma urgente necessidade de respeitar e lutar pela preservação dos povos originários, as empresas também têm uma responsabilidade significativa neste processo. Em vez de se apropriarem dos conhecimentos ancestrais, essas instituições devem reconhecer e amplificar as vozes desses povos. Ailton Krenak, em uma entrevista, refletiu sobre o marcante episódio de 1987, quando, durante a Assembleia Nacional Constituinte, pintou o rosto de preto enquanto discursava no Plenário do Congresso Nacional para protestar contra o retrocesso nos direitos indígenas.

Segundo ele "o povo indígena tem um jeito de pensar, tem um jeito de viver, tem condições fundamentais para a sua existência e para a manifestação da sua tradição, da sua vida, da sua cultura, que não coloca em risco, e nunca colocou, a existência, sequer, dos animais que vivem ao redor das áreas indígenas, quanto mais de outros seres humanos”. Sendo assim, o melhor caminho é buscar valorizar as produções indígenas de forma justa e colaborativa.

Para abordar a questão da compensação justa pelo saber tradicional dos povos indígenas, uma solução efetiva é a implementação de mecanismos de reconhecimento e repartição de benefícios. A Lei da Repartição de Benefícios (Lei nº 13.123/2015) no Brasil é um exemplo de como esse processo pode ser regulamentado, garantindo que os povos indígenas sejam devidamente compensados pelo uso de seus conhecimentos.

Uma das maneiras de fazer isso é fomentando a bioeconomia, setor que se destaca cada vez mais ao propor uma aliança equilibrada entre o conhecimento dos gestores de negócios e a sabedoria tradicional dos povos indígenas. Essa parceria só é justa, de fato, quando consegue garantir a compensação por esse saber de gerações.

No contexto do Sistema B Brasil, diversas empresas já implementam essas ações de maneira concreta. É o caso da Tucum, que comercializa produtos confeccionados por indígenas – como biojoias, artesanatos e roupas. Ao criar um marketplace para essas mercadorias, eles conseguem promover retorno financeiro e, ao mesmo tempo, impulsionar o empreendedorismo indígena. Assim, apoiando a autonomia dessas comunidades e garante que elas próprias sejam protagonistas de seu desenvolvimento.

A Vivalá Turismo é outro exemplo de Empresa B que pauta suas relações comerciais com povos originários pelo respeito às decisões dessas comunidades. A agência optou por  só oferecer viagens em que seus clientes tenham a oportunidade de conhecer de perto a realidade das populações tradicionais brasileiras. A cada experiência, os turistas contribuem para o desenvolvimento econômico das regiões visitadas, ampliando sua compreensão sobre a importância da preservação ambiental e cultural de áreas como a Floresta Amazônica e o Pantanal.

Sempre que essas empresas divulgam seus negócios, elas também se comprometem a fortalecer as populações indígenas, apoiando suas demandas essenciais, como o empreendedorismo indígena.

Como vêem, é possível sim atuar de forma ética e respeitosa com os povos originários, gerando lucro ao lado da preservação dos conhecimentos que são fundamentais para o futuro de todos nós. Parcerias sólidas entre o empreendedorismo e as comunidades indígenas são aquelas que levam a uma sociedade mais justa, consciente e conectada com suas raízes.

(*) Cinthia Gherardi é co-diretora-executiva do Sistema B Brasil

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Por Cinthia Gherardi*

Agosto é reconhecido como o Mês Indígena, um período dedicado à conscientização e valorização das culturas indígenas no Brasil. No dia 9 de agosto, celebrou-se o Dia dos Povos Indígenas, uma data que ressalta a importância dessas populações na formação e na construção da identidade brasileira. Este mês oferece uma oportunidade para refletir sobre a relevância dos povos originários na preservação dos bens comuns da natureza. Suas práticas retratam um profundo respeito pelo meio ambiente, utilizando apenas o necessário e preservando os recursos.

Se há uma urgente necessidade de respeitar e lutar pela preservação dos povos originários, as empresas também têm uma responsabilidade significativa neste processo. Em vez de se apropriarem dos conhecimentos ancestrais, essas instituições devem reconhecer e amplificar as vozes desses povos. Ailton Krenak, em uma entrevista, refletiu sobre o marcante episódio de 1987, quando, durante a Assembleia Nacional Constituinte, pintou o rosto de preto enquanto discursava no Plenário do Congresso Nacional para protestar contra o retrocesso nos direitos indígenas.

Segundo ele "o povo indígena tem um jeito de pensar, tem um jeito de viver, tem condições fundamentais para a sua existência e para a manifestação da sua tradição, da sua vida, da sua cultura, que não coloca em risco, e nunca colocou, a existência, sequer, dos animais que vivem ao redor das áreas indígenas, quanto mais de outros seres humanos”. Sendo assim, o melhor caminho é buscar valorizar as produções indígenas de forma justa e colaborativa.

Para abordar a questão da compensação justa pelo saber tradicional dos povos indígenas, uma solução efetiva é a implementação de mecanismos de reconhecimento e repartição de benefícios. A Lei da Repartição de Benefícios (Lei nº 13.123/2015) no Brasil é um exemplo de como esse processo pode ser regulamentado, garantindo que os povos indígenas sejam devidamente compensados pelo uso de seus conhecimentos.

Uma das maneiras de fazer isso é fomentando a bioeconomia, setor que se destaca cada vez mais ao propor uma aliança equilibrada entre o conhecimento dos gestores de negócios e a sabedoria tradicional dos povos indígenas. Essa parceria só é justa, de fato, quando consegue garantir a compensação por esse saber de gerações.

No contexto do Sistema B Brasil, diversas empresas já implementam essas ações de maneira concreta. É o caso da Tucum, que comercializa produtos confeccionados por indígenas – como biojoias, artesanatos e roupas. Ao criar um marketplace para essas mercadorias, eles conseguem promover retorno financeiro e, ao mesmo tempo, impulsionar o empreendedorismo indígena. Assim, apoiando a autonomia dessas comunidades e garante que elas próprias sejam protagonistas de seu desenvolvimento.

A Vivalá Turismo é outro exemplo de Empresa B que pauta suas relações comerciais com povos originários pelo respeito às decisões dessas comunidades. A agência optou por  só oferecer viagens em que seus clientes tenham a oportunidade de conhecer de perto a realidade das populações tradicionais brasileiras. A cada experiência, os turistas contribuem para o desenvolvimento econômico das regiões visitadas, ampliando sua compreensão sobre a importância da preservação ambiental e cultural de áreas como a Floresta Amazônica e o Pantanal.

Sempre que essas empresas divulgam seus negócios, elas também se comprometem a fortalecer as populações indígenas, apoiando suas demandas essenciais, como o empreendedorismo indígena.

Como vêem, é possível sim atuar de forma ética e respeitosa com os povos originários, gerando lucro ao lado da preservação dos conhecimentos que são fundamentais para o futuro de todos nós. Parcerias sólidas entre o empreendedorismo e as comunidades indígenas são aquelas que levam a uma sociedade mais justa, consciente e conectada com suas raízes.

(*) Cinthia Gherardi é co-diretora-executiva do Sistema B Brasil

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