Quando o assunto é tecnologia, o estudo de ética é necessário

Por Samuel de Jesus Monteiro de Barros

Você já parou para pensar como os profissionais de tecnologia estão sendo preparados? Já parou para observar que esses profissionais, que constroem sistemas, elaboram algoritmos, criam inteligências artificiais, modelam scripts são responsáveis por desenhar os softwares e aplicações utilizados em seu dia a dia e você nem imagina o que acontece por traz das interfaces que você tem acesso? Já se perguntou se esses profissionais estão aprendendo a ser éticos ou apenas técnicos nas suas formações?
Esses questionamentos revelam, a meu ver, que devemos considerar, de maneira urgente, a integração da ética no ensino de tecnologia, sendo essa essencial para formar profissionais conscientes dos impactos de suas decisões na sociedade.

À medida que a tecnologia se torna cada vez mais central em nossas vidas, é fundamental que os estudantes de tecnologia não apenas adquiram habilidades técnicas, mas também compreendam as implicações éticas de suas ações. Essa certeza me motiva a explorar – ainda que em poucas palavras – a importância do ensino de ética na tecnologia e oferecer perspectivas no sentido de desenvolver uma mentalidade ética desde o início dessas novas carreiras. A isso, dedico este artigo.

Ética na tecnologia

Invariavelmente, a tecnologia está ligada a mudanças e inovação. Conforme os alunos se preparam para enfrentar os desafios do mundo dos negócios, compreender que as decisões sobre tecnologia impactam a sociedade, a indústria e o meio ambiente é essencial para formar um profissional com visão holística. Fazer com que esse profissional entenda suas responsabilidades sobre os efeitos no futuro é o primeiro passo para um pensamento ético no ensino de tecnologia.

Isso significa que um bom caminho pedagógico é explorar dilemas éticos comuns enfrentados nessa área oferecendo aos alunos uma visão realista dos desafios que podem ser encontrados. Nesse sentido, tratar de temas como questões de privacidade até o uso de inteligência artificial se torna fundamental para que os estudantes estejam cientes da complexidade de suas carreiras. A intenção é que eles percebam que os dilemas devem ser solucionados não apenas pelo viés tecnológico, mas também pelos potenciais impactos que podem gerar na sociedade.

Integrando ética no currículo de tecnologia

Naturalmente, se pensarmos em um currículo de curso de tecnologia “frio”, ou seja, focado em técnica, poderemos observar um certo distanciamento de um caráter mais humano e filosófico, em que a ética é essencial. No entanto, como já pontuamos, discutir estratégias de integração da ética no currículo de tecnologia é crucial para formação desse profissional. A bem da verdade, não considero necessário tratar de ética de forma isolada, como uma disciplina específica, mas percebo a oportunidade de incorporar estudos de caso, debates e projetos práticos que envolvam considerações éticas durante toda a formação. Afinal, tal escolha pedagógica não apenas permite que os alunos compreendam teoricamente a ética, mas também revela caminhos em situações do mundo real.

Outro aspecto vital da ética na tecnologia é o impacto ambiental e social de inovações tecnológicas. O profissional deve ser incentivado a explorar como a tecnologia pode ser uma força positiva na criação de negócios sustentáveis e socialmente responsáveis, reduzindo os efeitos degenerativos que naturalmente podem vir do processo de “ultra-digilitazação” (permitam-me esse neologismo) da sociedade.

Uma mentalidade de ética desde sempre

Promover o aprendizado de ética na formação do profissional em tecnologia é uma forma de ajudar a combater os desvios que podem surgir na carreira. Entretanto, como sociedade, precisamos desenvolver a mentalidade ética desde sempre na população. A ética deve ser um compromisso contínuo de reflexão e tomada de decisão consciente. Isso envolve, como sociedade, promover valores éticos, sociais e ambientais, buscar uma forma de ser mais sustentável e racional nas escolhas.

É inegável que o mundo avança e que nos tornamos mais tecnológicos. Portanto, é imperativo que profissionais de tecnologia e de negócios estejam preparados para as complexidades éticas que acompanham essa evolução. O mundo não está ficando mais simples com o passar dos anos. Ele está ganhando mais camadas, mais relevo, e isso torna o caminho ainda mais interessante para tratarmos as implicações de nossas ações. Penso que podemos tratar de forma crítica as habilidades e conhecimentos necessários para construirmos um futuro melhor. É isso. Essa reflexão é, na verdade, um convite. E você, caro leitor, deseja fazer parte dessa construção?

*Samuel de Jesus Monteiro de Barros é Doutor em Administração e Reitor do Ibmec Rio de Janeiro