Ocupações escolares: o ideal e o real
Joel Pinheiro da Fonseca Na quinta-feira de manhã foi ao ar o discurso de uma estudante secundarista – Ana Júlia – para a Assembleia Legislativa do Paraná, defendendo as ocupações escolares que, no momento, numeram mais de 1 000 em todo o país. A fala dela é uma mostra perfeita da grande tragédia dessas ocupações, […]
Da Redação
Publicado em 29 de outubro de 2016 às 07h39.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h52.
Joel Pinheiro da Fonseca
Na quinta-feira de manhã foi ao ar o discurso de uma estudante secundarista – Ana Júlia – para a Assembleia Legislativa do Paraná, defendendo as ocupações escolares que, no momento, numeram mais de 1 000 em todo o país. A fala dela é uma mostra perfeita da grande tragédia dessas ocupações, por colocar em relevo a distância enorme entre o que elas poderiam ser e aquilo em que foram transformadas.
O potencial das ocupações é o que elas podem agregar para os próprios adolescentes. As aulas informais, de temas variados e também preparações para o ENEM, as dinâmicas alternativas e, acima de tudo, o sentir-se donos do próprio meio: organizando atividades, descobrindo as dificuldades em se administrar pessoas e espaços, negociar conflitos, etc. Esse aprendizado é, por si só, rico. Quando se compara esse novo ambiente com a dinâmica normal e ruim que ele substitui, nem se fala. Deve haver um quê de verdade quando ela diz que aprendeu mais em uma semana de ocupação do que em toda os anos pregressos de educação formal. Em alguns sentidos, deve ter aprendido mesmo.
Por outro lado, o que há de menos importante nas manifestações, o que menos tem a nos ensinar, são as opiniões desses jovens acerca das questões políticas e econômicas do país. É excelente que se interessem, que discutam, que adotem posições muitas vezes radicais; é parte do aprendizado. Para o mundo adulto, contudo, essas opiniões não terão muito a acrescentar. São importantes para a formação dos jovens; não devem importar nada para os problemas reais do país.
E, no entanto, é justamente isso a que os estudantes se propõem e – o que é pior – o uso que é dado a eles pelas forças políticas que incentivam as ocupações. É a oposição à PEC do teto, à MP da reforma do ensino básico e ao PL do Escola Sem Partido que supostamente justificam as ocupações. É a esses que Ana Júlia dá sua maior atenção: temas nos quais ela não tem nada a contribuir diretamente para o debate público. Nenhum argumento, nenhum dado novo, apenas o sentimento de uma jovem com muitos ideais, muita ingenuidade e pouco conhecimento do mundo real.
Se as ocupações de fins do ano passado pareceram ser fenômenos mais ou menos espontâneos, as de agora têm toda a cara de ter uma orquestração política por forças que já deixaram a escola faz muito tempo. Não é à toa que UBES e UJS, escolas de formação do PCdoB e do PSTU, já estejam presentes nas escolas. E estão lá para fornecer um outro tipo de aprendizado: os termos e práticas da militância e da “luta” política, criando mitos de fundação para futuras lideranças políticas que hão de sair daí, usando esses dias de ocupação como o ponto de partida retórico de uma carreira que navegará pelo que há de mais retrógrado e desonesto na vida pública nacional. Que esse não seja o caminho da Ana Júlia, embora a demagogia ensaiada que ela apresentou como sendo um depoimento pessoal já indique uma pessoa em grau avançado de progresso nessa “escola” política. Não o bastante, é verdade, para apagar a jovem idealista, insegura e ingênua que se colocou com coragem perante o mundo.
Ingenuidade que, indiretamente, levou à tragédia da escola em Curitiba em que um aluno da ocupação foi esfaqueado por outro e morreu. Um aluno morreu nas ocupações. Ana Júlia tentou de forma grotesca culpar os deputados. Foram eles que fecharam as escolas e impediram a entrada de adultos? Não. Quem o fez foram os próprios jovens idealistas, esquecendo que somos todos humanos e que o homem é um animal. Essa ingenuidade é própria da idade, é justamente por isso que eles não governam. Já os adultos que se utilizam deles, irresponsavelmente, para levar adiante suas causas, esses sim, têm sangue nas mãos.
Joel Pinheiro da Fonseca
Na quinta-feira de manhã foi ao ar o discurso de uma estudante secundarista – Ana Júlia – para a Assembleia Legislativa do Paraná, defendendo as ocupações escolares que, no momento, numeram mais de 1 000 em todo o país. A fala dela é uma mostra perfeita da grande tragédia dessas ocupações, por colocar em relevo a distância enorme entre o que elas poderiam ser e aquilo em que foram transformadas.
O potencial das ocupações é o que elas podem agregar para os próprios adolescentes. As aulas informais, de temas variados e também preparações para o ENEM, as dinâmicas alternativas e, acima de tudo, o sentir-se donos do próprio meio: organizando atividades, descobrindo as dificuldades em se administrar pessoas e espaços, negociar conflitos, etc. Esse aprendizado é, por si só, rico. Quando se compara esse novo ambiente com a dinâmica normal e ruim que ele substitui, nem se fala. Deve haver um quê de verdade quando ela diz que aprendeu mais em uma semana de ocupação do que em toda os anos pregressos de educação formal. Em alguns sentidos, deve ter aprendido mesmo.
Por outro lado, o que há de menos importante nas manifestações, o que menos tem a nos ensinar, são as opiniões desses jovens acerca das questões políticas e econômicas do país. É excelente que se interessem, que discutam, que adotem posições muitas vezes radicais; é parte do aprendizado. Para o mundo adulto, contudo, essas opiniões não terão muito a acrescentar. São importantes para a formação dos jovens; não devem importar nada para os problemas reais do país.
E, no entanto, é justamente isso a que os estudantes se propõem e – o que é pior – o uso que é dado a eles pelas forças políticas que incentivam as ocupações. É a oposição à PEC do teto, à MP da reforma do ensino básico e ao PL do Escola Sem Partido que supostamente justificam as ocupações. É a esses que Ana Júlia dá sua maior atenção: temas nos quais ela não tem nada a contribuir diretamente para o debate público. Nenhum argumento, nenhum dado novo, apenas o sentimento de uma jovem com muitos ideais, muita ingenuidade e pouco conhecimento do mundo real.
Se as ocupações de fins do ano passado pareceram ser fenômenos mais ou menos espontâneos, as de agora têm toda a cara de ter uma orquestração política por forças que já deixaram a escola faz muito tempo. Não é à toa que UBES e UJS, escolas de formação do PCdoB e do PSTU, já estejam presentes nas escolas. E estão lá para fornecer um outro tipo de aprendizado: os termos e práticas da militância e da “luta” política, criando mitos de fundação para futuras lideranças políticas que hão de sair daí, usando esses dias de ocupação como o ponto de partida retórico de uma carreira que navegará pelo que há de mais retrógrado e desonesto na vida pública nacional. Que esse não seja o caminho da Ana Júlia, embora a demagogia ensaiada que ela apresentou como sendo um depoimento pessoal já indique uma pessoa em grau avançado de progresso nessa “escola” política. Não o bastante, é verdade, para apagar a jovem idealista, insegura e ingênua que se colocou com coragem perante o mundo.
Ingenuidade que, indiretamente, levou à tragédia da escola em Curitiba em que um aluno da ocupação foi esfaqueado por outro e morreu. Um aluno morreu nas ocupações. Ana Júlia tentou de forma grotesca culpar os deputados. Foram eles que fecharam as escolas e impediram a entrada de adultos? Não. Quem o fez foram os próprios jovens idealistas, esquecendo que somos todos humanos e que o homem é um animal. Essa ingenuidade é própria da idade, é justamente por isso que eles não governam. Já os adultos que se utilizam deles, irresponsavelmente, para levar adiante suas causas, esses sim, têm sangue nas mãos.