Estupro no rio: eu sou cúmplice
Todos nós, homens e mulheres, ficamos estarrecidos com a tragédia da menina estuprada por mais de 30 homens na periferia do Rio de Janeiro. Essa notícia ganhou as manchetes pelo número de pessoas envolvidas, mas essa realidade infelizmente não é exceção. Todos os dias mulheres são estupradas no Brasil. Todos os dias. Insônia, náusea, não […]
Da Redação
Publicado em 30 de maio de 2016 às 12h24.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h53.
Todos nós, homens e mulheres, ficamos estarrecidos com a tragédia da menina estuprada por mais de 30 homens na periferia do Rio de Janeiro. Essa notícia ganhou as manchetes pelo número de pessoas envolvidas, mas essa realidade infelizmente não é exceção. Todos os dias mulheres são estupradas no Brasil. Todos os dias.
Insônia, náusea, não aguento mais. Depois de um exame de consciência não me resta outra alternativa. Preciso confessar: mais de uma vez. Mais de 30 vezes, fui cúmplice da cultura do estupro.
Comecei cedo. Na adolescência, em um jogo de futebol, pedi para um colega de time parar de frescura e “jogar que nem homem”. Fui cúmplice cada vez que ouvi calado algum amigo chamar uma mulher de “vaca”, ou fiz coro com o grito de “filho da puta” em um estádio de futebol. Fui cúmplice cada vez que julguei uma mulher pelo tamanho da roupa que vestia ou achava normal quando algum homem xingava a namorada de galinha apenas por ela exercer a mesma liberdade sexual que ele se gabava de ter.
Infelizmente não parei na juventude. Continuei cúmplice quando debochei da ida de um estuprador confesso ao Ministério da Educação. Ao invés de achar graça deveria ter raiva. A mesma raiva que senti assistindo um deputado falando que só não estupraria outra parlamentar porque, segundo ele, ela “não merecia” ser estuprada. Alguém merece? Se o maior medo de um homem ao entrar em uma penitenciaria é ter seu corpo violentado, imagine o que é para uma mulher viver assim constantemente.
O machismo está mais arraigado em nossa cultura do que se pode imaginar. Cerca de 54% dos brasileiros conhecem uma mulher que já foi agredida pelo parceiro e dois terços da população acham que os estupros nunca serão punidos. Mudar isso é um exercício cotidiano, mas não acredito em mudança sem autoconsciência. O fim da cultura do estupro não é uma luta solitária das mulheres, é uma batalha da civilização contra a barbárie.
Hoje, no dia em que reconheço a minha responsabilidade pelo ocorrido no Rio de Janeiro, convido todos os homens a refletir sobre qual é o seu papel para mudar a dura realidade que condena milhares de mulheres todos os dias no Brasil.
Qual foi a última vez que você foi cúmplice de um estupro?
Todos nós, homens e mulheres, ficamos estarrecidos com a tragédia da menina estuprada por mais de 30 homens na periferia do Rio de Janeiro. Essa notícia ganhou as manchetes pelo número de pessoas envolvidas, mas essa realidade infelizmente não é exceção. Todos os dias mulheres são estupradas no Brasil. Todos os dias.
Insônia, náusea, não aguento mais. Depois de um exame de consciência não me resta outra alternativa. Preciso confessar: mais de uma vez. Mais de 30 vezes, fui cúmplice da cultura do estupro.
Comecei cedo. Na adolescência, em um jogo de futebol, pedi para um colega de time parar de frescura e “jogar que nem homem”. Fui cúmplice cada vez que ouvi calado algum amigo chamar uma mulher de “vaca”, ou fiz coro com o grito de “filho da puta” em um estádio de futebol. Fui cúmplice cada vez que julguei uma mulher pelo tamanho da roupa que vestia ou achava normal quando algum homem xingava a namorada de galinha apenas por ela exercer a mesma liberdade sexual que ele se gabava de ter.
Infelizmente não parei na juventude. Continuei cúmplice quando debochei da ida de um estuprador confesso ao Ministério da Educação. Ao invés de achar graça deveria ter raiva. A mesma raiva que senti assistindo um deputado falando que só não estupraria outra parlamentar porque, segundo ele, ela “não merecia” ser estuprada. Alguém merece? Se o maior medo de um homem ao entrar em uma penitenciaria é ter seu corpo violentado, imagine o que é para uma mulher viver assim constantemente.
O machismo está mais arraigado em nossa cultura do que se pode imaginar. Cerca de 54% dos brasileiros conhecem uma mulher que já foi agredida pelo parceiro e dois terços da população acham que os estupros nunca serão punidos. Mudar isso é um exercício cotidiano, mas não acredito em mudança sem autoconsciência. O fim da cultura do estupro não é uma luta solitária das mulheres, é uma batalha da civilização contra a barbárie.
Hoje, no dia em que reconheço a minha responsabilidade pelo ocorrido no Rio de Janeiro, convido todos os homens a refletir sobre qual é o seu papel para mudar a dura realidade que condena milhares de mulheres todos os dias no Brasil.
Qual foi a última vez que você foi cúmplice de um estupro?