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A importância do diálogo para transformação dos parques no Brasil

Criar um relacionamento transparente e duradouro entre a sociedade, o poder público e o setor privado é fundamental para projetos de parcerias em parques

O Parque Nacional de Jericoacoara (CE) é exemplo de como o diálogo pode ser construtivo  (ICMBio/Rai Nascimento/Reprodução)
O Parque Nacional de Jericoacoara (CE) é exemplo de como o diálogo pode ser construtivo (ICMBio/Rai Nascimento/Reprodução)

Por Bárbara Matos e Rodrigo Góes

Em uma sociedade plural, existe uma única verdade: somos diversos. Pensar diferente faz parte do jogo. E dialogar é uma premissa essencial para transformar ideias em realidade e tirar projetos do papel. Quando falamos de parcerias em parques, a lógica é a mesma. Se desenhadas desta maneira, não há dúvida de que podem fortalecer ainda mais seu potencial para o desenvolvimento socioeconômico aliado à conservação da biodiversidade.

Um dos objetivos das parcerias, como as concessões dos serviços turísticos, é ampliar a visitação respeitando os limites do ecossistema local. Com isso, geram-se oportunidades de desenvolver a região com sustentabilidade sem perder de vista a conscientização ambiental, seja de quem mora do entorno do parque, seja de quem vem de outros locais para visitação. Mas, para que isso aconteça, é preciso compreender as singularidades de cada lado e desenvolver amplo diálogo com todas as partes que serão afetadas.

Nesse processo, é essencial a construção de um relacionamento confiável e duradouro entre as equipes de governo e os diversos atores envolvidos com o parque, considerando todo o ciclo de vida do projeto, desde seu planejamento até a gestão contratual, passando também pela estruturação e a licitação.

Cada parque possui um contexto muito específico ligado, principalmente, ao território em que está inserido. O diálogo com as comunidades locais deve ir além das obrigações jurídicas, como consultas e audiências públicas. Transparência, escuta ativa e momentos de devolutiva contribuirão para que todos saibam e entendam o que está sendo proposto, como isso os afeta e, talvez o mais importante, que tenham espaço para trazer suas ideias, propor melhorias, tirar dúvidas e fazer críticas construtivas.

Interesses político-partidários não podem prevalecer ou se tornar fatores impeditivos do processo de um diálogo claro, que precisa levar em conta o parque propriamente dito e seus benefícios para o meio ambiente. Um exemplo disto pôde ser observado na estruturação do projeto do Parque Estadual de Ibitipoca (MG), que enfrentou uma série de divergências, todas solucionadas a partir de escuta local e ativa.

Na ocasião, cerca de 400 pessoas participaram de reuniões, entre representantes comunitários e do poder público municipal, moradores, membros do conselho consultivo do parque, empresários e comerciantes locais para debater os prós e os contras. A região não é o único exemplo de como o diálogo pode ser construtivo. No icônico Parque Nacional de Jericoacoara (CE), algo parecido tem acontecido.

Replicar casos como o de Jericoacoara e de Ibitipoca não é um desafio simples. Essa construção geralmente parte de um ambiente muitas vezes já tensionado, e remodelar um projeto demanda tempo e recurso. Por isso, respeitar as fases do processo é fundamental porque, ao tentar acelerá-lo, suprimindo os diálogos, os atrasos, as tensões e os custos tendem a ser muito maiores.

Além disso, a difusão de informação, a escuta e compreensão da perspectiva de cada interlocutor, cada qual com suas dores e necessidades, representa a criação de um relacionamento mais estreito, que poderá ser mantido com o início da parceria, e será decisivo para auxiliar na fiscalização dos acontecimentos na área do parque.

Quando essa confiança se estabelece, a construção e implementação do projeto tendem a ser mais tranquilas e benéficas para todos. Depende muito dessa relação que os parques possam funcionar como vetores para o desenvolvimento sustentável e, mais do que isso, como geradores de consciência ambiental em sua plenitude. Uma comunidade engajada pode contribuir ainda para criar e reforçar um senso de pertencimento e de proteção de um patrimônio que é de toda a população.

Bárbara Matos e Rodrigo Góes são gerentes de projetos do Instituto Semeia