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Como você está gastando seu dinheiro durante a pandemia?

As pessoas economizaram com alimentação fora de casa, roupas, transporte, mas incorporaram novos gastos. Entenda por que isso não melhora necesariamente a qualidade de vida

Por que a vontade de gastar supera meu ímpeto de economizar? Pandemia pode ajudar a repensar os hábitos (./Exame)
Por que a vontade de gastar supera meu ímpeto de economizar? Pandemia pode ajudar a repensar os hábitos (./Exame)
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Opinião

Publicado em 16 de janeiro de 2021 às, 07h30.

Quantas vezes você já ouviu amigos ou familiares dizendo “meu dinheiro não dá para nada”? Como educador financeiro, escuto essa queixa frequentemente. Ela é, de fato, compreensível e real para grande parte da população brasileira. Afinal, equilibrar os ganhos baixos e gastos altos não é o tipo de tarefa que nos ensinam desde pequenos — só 21% dos brasileiros tiveram educação financeira na infância, segundo pesquisa C6 Bank/IBOPEdtm. Agora, na pandemia, essa queixa traz novas reflexões.

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Estamos economizando ao sair pouco de casa, ir menos a restaurantes, usar menos transporte, comprar menos roupas, entre outras coisas, e ainda assim não sobra dinheiro. Pensando na realidade de quem está empregado e continua recebendo o mesmo salário, vale a pergunta: por que não sobra nada em um contexto em que você supostamente está diminuindo certos gastos? Não era para haver um excedente, o qual você deveria estar investindo de forma recorrente?

A resposta não é tão simples. Primeiro, vale pontuar que a alta no preço dos alimentos e bebidas no último ano doeu no bolso de todo mundo — eles ficaram 14,09%% mais caros no período de 12 meses encerrado em dezembro de 2020, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Dessa forma, a parte do orçamento que vai para a alimentação cresceu e virou um golpe duro para muitas famílias, tanto as que estão preparando as próprias refeições em casa quanto as que continuam indo a restaurantes.

E esse aumento não só deve continuar a bater nos alimentos como deve esbarrar em outros itens, uma vez que os alimentos funcionam como preços de referência e pressionam outras categorias. Ou seja, está mais caro viver. Segundo o IBGE, a inflação do ano ficou em 4,52%, acima do centro da meta de 4% fixada pelo Conselho Monetário Nacional.

A maré não está favorável. Isso, no entanto, não pode ser desculpa para largar mão da organização financeira. Pelo contrário. É em momentos assim que devemos redobrar nossa atenção. Por isso, eu pergunto: você já refletiu sobre a forma como você está gastando seu dinheiro durante a pandemia?

Vejo muita gente trocando os gastos de forma impensada. Não está viajando, mas decidiu comprar um carro novo. Não vai a restaurante, mas passou a tomar cerveja ou vinho toda noite em casa, transformando uma despesa eventual em uma rotina diária (o que talvez explique o fato, aliás, de a venda online de bebidas alcoólicas ter crescido 960% entre março e outubro, segundo levantamento da Synapcom).

É certo que existe uma dose de subjetividade na interpretação do valor que cada item tem para o comprador. Mas gosto de pensar no conceito de elevar padrão de vida versus elevar qualidade de vida. E acho que é uma reflexão bem-vinda especialmente neste momento de pandemia.

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Elevar padrão de vida é adquirir bens, comprar um carro mais sofisticado ou um celular de última geração, assinar clube de vinhos e cerveja artesanal... É gastar em um bem do qual você não necessariamente precisa. Já elevar a qualidade de vida é focar em coisas que melhoram seu bem-estar, gastando dinheiro para isso ou não.

Em um cenário em que você tem um dinheiro sobrando em razão dos gastos que deixou de ter durante a pandemia, o que é melhor fazer?

Eu vejo sentido em alguns caminhos. Um, muito legítimo para a melhora da qualidade de vida, é a despesa que vai proporcionar maior conforto em tempos de trabalho em casa. Usar aquele extra para equipar o home office, por exemplo, ou de repente fazer uma reforma na casa, que é onde passamos a maior parte do dia agora, pode trazer vantagens concretas. Outro caminho é investir o dinheiro e fazê-lo render – algo que, se não estava nos seus planos, deveria entrar agora mais do que nunca.

Deixar dinheiro na poupança, o investimento mais comum no Brasil, é literalmente perder dinheiro. A rentabilidade das aplicações atreladas à Selic, a taxa básica de juros (hoje em 2% ao ano), não é mais a mesma. Com uma inflação anual na casa dos 4%, não sobram dúvidas quanto ao prejuízo em termos de poder de compra. Uma aplicação de 1.000 reais em uma caderneta de poupança gera um rendimento de apenas 14 reais em um ano. Para efeitos de comparação, pense que o aumento no valor das mercadorias e serviços no país será em torno de 33 reais, de acordo com projeção do IPCA.

Por isso, é bom conhecer velhas e novas oportunidades de investimento. E existem várias hoje, como Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs), previdência privada, título público via Tesouro Direto, ações, BDR, ETF... A lista é grande, e o melhor tipo de investimento vai depender dos seus planos, claro. Comece a pesquisar.

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Se seus objetivos ainda não são muito claros, se você ainda não encontrou um projeto para o qual precisa juntar dinheiro, deixo aqui uma pergunta: por que não aproveitar este momento de maior conhecimento em relação aos próprios gastos para pensar no quanto você quer ter quando parar de trabalhar? Que tal montar um plano financeiro para ter uma boa qualidade de vida para sempre? E outra: alguma parte dos gastos extras que você tem durante a pandemia poderia ser transformada em investimento?

*Liao Yu Chieh é educador financeiro do C6 Bank.